segunda-feira, 14 de abril de 2014

Missa & conversão

Segundo os dicionários de língua portuguesa, converter-se significa mudar, ser diferente, mudar de rumo, tomar atitudes novas.
Segundo a Bíblia a conversão entende-se como mudança de mentalidade “metanoia”. Enxergar o mundo de um modo diferente, reorganizar a hierarquia de valores, reorientar o comportamento ético. Enfim, trata-se de mudança de rumo e de horizontes do ser humano.

É preciso acentuar que a conversão não é fruto exclusivamente do homem. Antes de tudo é fruto da Graça de Deus, ou seja, da Sua Misericórdia (Lm 5,21). Entretanto o esforço do homem é indispensável e, as Sagradas Escrituras, o afirmam constantemente, chamando o homem à santidade, à volta para casa, a produzir os frutos... (Dt 30,10; Mt 5, 48, Lc 13, 6-9; Lc 15,11-32). Nesta tarefa o homem não conta somente consigo mesmo, mas alimenta-se da Palavra de Deus, dos Sacramentos, da oração e aproveita as circunstâncias da vida, nas quais vai descobrindo a presença de Deus.


 “A conversão a Deus consiste sempre na descoberta da sua misericórdia, isto é, do amor que é «paciente e benigno» como o é o Criador e Pai; amor ao qual «Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo» é fiel até às últimas consequências na história da Aliança com o homem, até à cruz, à morte e à ressurreição do seu Filho. A conversão a Deus é sempre fruto do retorno para junto deste Pai, «rico em misericórdia»... Aqueles que assim chegam ao conhecimento de Deus, aqueles que assim O «vêem», não podem viver de outro modo que não seja convertendo-se a Ele continuamente. Passam a viver in statu conversionis, em estado de conversão; e é este estado que constitui a característica mais profunda da peregrinação de todo homem sobre a terra, em estado de peregrino” (João Paulo II, Dives  in Misericordia, 13).

Completando, deve-se dizer que a conversão não acontece uma só vez e permanece para sempre. Ela pode começar com um momento “forte”, até mesmo traumatizante (como no caso de Saulo cf. At 9), mas é um processo e uma atitude interminável... (Vat II, LG 8). Pode-se afirmar que a conversão é o modo de viver dos cristãos.
A Eucaristia, chamada também de “Missa”, é um “espaço” privilegiado, no qual a conversão deve realizar-se de uma maneira muito especial. Como que pela própria natureza a Missa deve levar os participantes a conversão. Contudo, como falamos na postagem anterior, é preciso que haja o conhecimento e a consciência da profundidade do Mistério celebrado.
Se alguém não se sente necessitado da misericórdia de Deus, não se sente pecador, é melhor que não vá à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar da redenção de Jesus, do seu perdão, diz Papa Francisco (Roma, 12 de fevereiro de 2014).

Ao participar da Missa o homem, primeiramente, precisa tomar a consciência da sua condição de pecador, desobediente a Deus (por causa da vida segundo o amor próprio, que é egoísmo) e da terna, amorosa santidade de Deus. Por isso, no começo da Missa, antes de ouvir a proclamação da Palavra de Deus os participantes da Celebração são chamados ao arrependimento e à conversão, o que expressam através do Ato Penitencial, que faz parte necessária da Missa. O homem reconhece seus pecados, que nascem do egoísmo, ou até do egocentrismo...  Converte-se para a humildade (ser criatura – húmus) e para a partilha, para viver o amor fraterno.

Aquele “Confesso”, diz Papa Francisco, que fazemos no início não é “pro forma”, é um verdadeiro ato de penitência!  Eu sou pecador e o confesso, assim começa a Missa! Não devemos nunca esquecer que a Última Ceia de Jesus aconteceu “na noite em que foi traído” ((1 Cor 11, 23) Papa Francisco, em Roma, aos 12 de fevereiro de 2014).
Muitas vezes o Ato Penitencial é cantado (a música deve ser apropriada) o que expressa a alegria do perdão recebido. Pedimos perdão e logo cantamos, pois sabemos que prontamente Deus perdoa a quem O pede. Obviamente trata-se de pecados veniais, cotidianos. Os graves têm de ser confessados sacramentalmente (diante dum sacerdote).

A Missa, antes de tudo, nos converte do individualismo, efeito do pecado original, para a comunhão, para qual o homem foi chamado ao ser criado a imagem e semelhança de Deus. Numa das músicas da Missa cantamos: “Igualdade, fraternidade nesta mesa nos ensinais, as lições que melhor educam na Eucaristia é que nos dais...” E isto é verdade. A Missa tem de nos transformar, converter do individualismo para esta dinâmica do amor, concreto e responsável pelo próximo. Imagino que não teremos dificuldades de saber quem é o nosso próximo. Qualquer coisa pode-se ler a parábola do bom Samaritano (Lc 10, 30-37).

João Paulo II, na Carta Encíclica sobre a Divina Misericórdia diz que: “A Eucaristia aproxima-nos sempre do amor que é mais forte do que a morte. Com efeito, «todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice», não só anunciamos a morte do Redentor, mas proclamamos também a sua ressurreição, «enquanto esperamos a sua vinda gloriosa» (114). A própria ação eucarística, celebrada em memória d'Aquele que na sua missão messiânica nos revelou o Pai por meio da Palavra e da Cruz, atesta o inexaurível amor, em força do qual Ele deseja sempre unir-se e como que tornar-se uma só coisa conosco, vindo ao encontro de todos os corações humanos (“Dives  in Misericordia, 13).

Os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) caminhavam tristes, sem esperança, porque seus sonhos e suas expectativas foram frustrados (v.21). Estavam com Jesus, mas, cada um buscava os seus próprios interesses. Nada entediam do amor ensinado por Ele. Viviam segundo o egoísmo. Mas a Palavra que Ele lhe dirigiu, por um tempo prolongado, trouxe efeito. Na medida em que escutavam a Palavra começaram a sentir algo diferente, mas a tristeza ainda continuava. Entretanto, quando sentaram a mesa, quando Ele celebrou o Mistério do Pão seus olhos se abriram... Então, tudo mudou, num piscar de olhos.
Isto é a Eucaristia! Este é o poder que Ela possui, de transformar as vidas em algo inimaginável, como aconteceu naquele episódio. O homem “morno”, desanimado, sem vontade para nada pode voltar para casa, entusiasmado e disposto a viver em comunidade.

Em vez de faltar a Missa, “porque estou sem ânimo” ou trocá-la por qualquer outro valor (aqui seria até o caso de idolatria) deve-se superar o amor próprio e apresentar-se diante de Jesus. A Missa verdadeiramente transforma as vidas e dá força incrível para carregar a cruz de cada dia, como foi por exemplo na vida de Marta Robin, Teresa Neumann ou Alexandrina da Costa, ou a mais recente beta Chiara Luce (mais informações sobre estas pessoas pode procurar na internet).

Quero encerrar esta postagem com as palavras Papa Francisco, da audiência geral, aos 12 de fevereiro de 2014. É necessário sempre ter em mente que a Eucaristia não é algo que fazemos nós; não é uma comemoração nossa daquilo que Jesus disse e fez. Não. É propriamente uma ação de Cristo! É Cristo que age ali, no altar. É um dom de Cristo, que se torna presente e nos acolhe em torno de si, para nutrir-nos da sua Palavra e da sua vida. Isto significa que a missão e a identidade própria da Igreja surgem dali, da Eucaristia, e ali sempre toma forma. Uma celebração pode ser também impecável do ponto de vista exterior, belíssima, mas se não nos conduz ao encontro com Jesus Cristo arrisca não levar alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, em vez disso, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la pela sua graça, de forma que em toda comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.

Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de alegria comunitária, de preocupação pelos necessitados e pelas necessidades dos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida plena. Assim seja!


Nenhum comentário:

Postar um comentário