sexta-feira, 18 de julho de 2014

Catequese “furada”. Catequizar ou enganar?


 Uns dias atrás escrevi sobre o Querigma e a sua importância. Aproveitando o mês de férias (também da Catequese Paroquial) volto ao assunto da catequese e insisto na necessidade de revisão da concepção deste estratégico ministério da Igreja, como também da maneira com está sendo realizado.

Para provocar a discussão e alimentar a reflexão sobre o assunto afirmo (obviamente generalizando) que a Catequese, na grande maioria das paroquias e comunidades é uma Catequese “furada”. Um Ministério furado.

O que se encontra furado é defeituoso. Não segura o conteúdo. Portanto, não serve. Não serve para o objetivo que deve alcançar. Quando, em casa, algum objeto está com defeito tentamo-lo consertar. Se não há conserto, mesmo com aperto de coração, o jogamos fora.

É óbvio que não quero dizer que a Catequese deve ser abandonada. Pelo contrário, deve ser reorganizada (consertada) para servir ao seu objetivo que consiste em consolidar o conhecimento fundamental da fé católica, estreitar a relação pessoal com Deus, inserir na vida da comunidade eclesial e comprometer com a missão da Igreja. Em soma: formar um católico consciente da sua identidade.
Para quem serve a Catequese que se equipara a uma aula escolar e consiste em transmissão de algumas informações (mais ou menos próximas ao ensinamento da Igreja) sobre Deus e sobre comportamento moral dos fieis?

No meu ver, que não serve a ninguém, porque não serve para atingir o seu objetivo próprio. Por outro lado, até que serve, sim. Serve para proporcionar aos ministros e responsáveis pela Catequese uma sensação e convicção de cumprimento do mandamento de Jesus: “Ide e anunciai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Proporciona uma sensação de satisfação do dever cumprido e da continuidade da evangelização iniciada por Jesus e pelos Apóstolos.

Uma sensação... É trágico contentar-se com uma sensação e com a “consciência tranquila” sem questionar os efeitos deste empreendimento. Será que realmente há desculpa da falta de frutos da Catequese só pelo fato que “fazemos a nossa parte e o resto depende da graça de Deus”? Enfim, “se a Catequese não funciona como deveria a culpa é das famílias que não cooperam e que, em grande parte, são desestruturadas”. A culpa é do mundo, da tv, da internet, etc. A culpa está fora de nós, fora da Igreja...

Será que realmente este tipo de argumentos transfere a nossa pessoal responsabilidade para “culpados anônimos”? A qualidade da nossa evangelização, catequese e testemunho de vida não tem nada a ver? O que, então, pensar ouvindo as palavras de Jesus: “Não deis aos cães o que é santo, nem jogueis vossas pérolas diante dos porcos” (Mt 7,6)?
São constrangentes as vozes de preocupação, por parte do clero e dos leigos, com relação a evasão dos católicos para as diversas seitas e igrejas neopentecostais. Seitas inescrupulosas... De fato são elas que destroem a Igreja ou a latente ignorância religiosa dos católicos?

A busca de novas estratégias, novos planos de evangelização (como aquele que, recentemente, fez a Igreja distribuir um milhão de bíblias) parecem iniciativas desesperadoras de quem está desorientado... Quer fazer “alguma coisa”, mas não sabe direito por onde começar...

Quantos documentos, inclusive valiosos, já formam publicados e quantos planos de ação?! São tantos que mal se chega ao conhecimento de um e já vem outro... Todos são importantes, sem dúvida. Poderiam ser úteis, mas o problema é que hoje ninguém tem tempo... e, nas paróquias diminui, cada vez mais, o número de pessoas (que já são poucas) dispostas a assumir qualquer compromisso.

O Concílio Vaticano II “abriu as portas ao Espírito Santo” e soprou uma nova vida à Igreja. Este grande evento foi encerrado há 40 anos, mas até hoje, a grande parte de suas disposições não foi implantada na vida das paroquias e, provavelmente, não é conhecida...

Já passou da hora de descobrir a salvação (em vários sentidos) na Catequese efetiva que vai formar discípulos e missionários do Evangelho, cientes da sua identidade e vivamente inseridos no Corpo Místico de Cristo (1Cor 12,12-14). Estes serão crentes e missionários pelo testemunho de vida voltada ao bem, no amor despretensioso que abrange todas as pessoas e seres irracionais.

Para nada adianta lamentar-se que hoje “ninguém quer nada”. A verdade é que a situação não vai ser melhor, na medida do passar do tempo. Se a Igreja não evangelizar este mundo em que vive (não só através de documentos e declarações) ele por si só não vais ser melhor. E as famílias também...

É agora a hora de evangelizar e catequizar.

Parece que na Igreja existe um fenômeno estranho de “caridade pastoral” (que na verdade é a falta dela), e que consiste num minimalismo (ante evangélico), por parte de alguns padres e leigos, que se expressa em “não sobrecarregar”. Isto é visível também na área de Catequese. Refiro-me a algumas práticas comuns como: a Catequese de 02 “anos” e só uma vez por semana, incluindo as faltas (Se somar os encontros formativos descontando as férias, feriados, ECC-s, etc – sobraria o que? Uma “bela” verdade sobre a preparação para vida cristã). A Catequese de adultos em preparação para os Sacramentos de Iniciação, de 1-3 “meses”. Há ainda várias outras obras de “caridade pastoral” referentes a solidez da catequese.

Levando os ignorantes aos Sacramentos pensa-se evangelizar e ajudar na salvação, porque os Sacramentos agem “ex opere operato”? Qual é objetivo deste trabalho? É ajudar? Ajudar a quem?

Talvez até seja uma ajuda, mas equivocada. Ajuda ao “senhor das trevas” e não ao Senhor da Luz que quer levar todos à Verdade (Jo 8,32).
Será que Jesus faria assim, como vários o fazem? Ou, antes buscaria sinas de fé? Exigiria desprendimento e compromisso com a obra do Reino (Mt 6,33)?

Escrevo estas palavras e o coração me doe porque a minha Igreja (que de fato é de Jesus Cristo - Mt 16,18) não compreende a importância (tendo outras ocupações – sem dúvida importantes) da Catequese efetiva, precedida pela evangelização (também efetiva; se não for, ou seja, se alguém ao ser evangelizado, não receber Jesus Cristo, como Senhor, não acreditar n’Ele e no Seu Plano – não pode ser catequizado!1). Assim vem tolerando o avanço da ignorância e, com isso, da indiferença e impiedade.

Alguns percebem este problema, mas por serem poucos, não se aventuram para fazer uma Catequese evangélica (que comunica e assimila o Evangelho –JC) ou não sabem bem como fazê-la. Acham que as mudanças neste campo deveriam partir “de cima”. Que os bispos deveriam ordenar.

Isto me parece uma desculpa inútil. Cada um tem de ter zelo evangelizador. Os bispos não precisam ordenar mais, além do que já foi feito. Este é o trabalho nas bases. Nas comunidades, centros comunitários e nas paróquias. Todo batizado, sobretudo um sacerdote, pela própria vocação cristã tem de evangelizar e catequizar, em primeiro lugar pela própria vida. Tem de ter a criatividade e iniciativa. Estas, por sua vez, só existem lá onde há autêntico amor.

A Catequese institucional (preparação para os Sacramentos) pode ser ministrada a quem antes foi evangelizado. A evangelização é o encontro com Cristo, não a Catequese. A Catequese é o Caminho com Cristo (aprendendo ser como Ele) e para o Cristo (estreitando a união com Ele para se assemelhar, sempre mais, a Ele).

É preciso amar o mundo como Deus o ama. Evangelizar e catequizar são as melhores maneiras de expressar o amor. É a melhor contribuição que a Igreja pode prestar para o mundo ser melhor (sem diminuir o valor da inestimável importância da doutrina social, defesa da vida ou ecumenismo).

Sendo cristão, evangeliza e catequista! Seja um catequista no ambiente em que vive, descansa, estuda ou trabalha. Como? Simplesmente, tente amar. O amor é inconfundível. Assim, como Deus ama a todos (e tudo que existe) um cristão deve fazê-lo também. O amor sincero é a fonte da criatividade e de iniciativa.

Catequizar ou enganar, eis a questão..., diria Hamlet, da magnífica peça de W.Shakespeare. A Catequese que engana, em vez de formar seguidores de Cristo, fabrica deuses falsos! Assim são as pessoas, que “fazem” I Eucaristia, Crisma ou Catecumenato antes do Batismo. Recebem um certificado, mas fazem o que querem, vivem do jeito que “dá a vontade”, só pensam em si mesmos, sem se importar, até mesmo, com a Lei de Deus. A sua “fé” depositam nos recursos de tecnologia, beleza do corpo, num “futuro melhor”... São típicos “deuses” falsos de cujo capricho depende o presente e o futuro... Eles mesmos caminham a ruina e, ainda, desencaminham os inocentes e os de boa vontade, que muitas vezes tem sincero desejo de encontrar a Deus.



PS.
Recomendo a leitura da matéria anterior, sobre o Querigma:(http://sejasantoparaserfeliz.blogspot.com.br/2014/06/a-igreja-e-o-querigma.html)