terça-feira, 12 de agosto de 2014

Catequese “adulta”

Na última postagem tratamos da “catequese furada” e da grave responsabilidade pela evangelização do mundo. Hoje quero continuar o tema apontando para a maturidade. Catequese “adulta” compreendemos aqui em dois sentidos: catequese madura e catequese para os adultos.
Catequese “adulta” é uma catequese responsável, como um adulto deve ser. Uma catequese madura, no tratamento e na experiência. Os que se inscrevem na Catequese devem ser tratados deste modo – responsavelmente. Uma catequese meramente “informativa” ou “memorativa” (memorizar as fórmulas e definições) não seria adulta, mas, pelo contrário imatura e irresponsável (aqui vale tudo o que dissemos na postagem passada).
Catequese para os adultos é uma urgência e desfio da Igreja. Concílio
Vaticano II, em vários documentos, aponta esta necessidade, como vital para a Igreja e para o mundo. Catequizar adultos, além de ser uma necessidade é, também, um investimento compensativo, lamentavelmente, ainda não valorizado devidamente.
É sabido que os profissionais de todas as áreas têm de se atualizar e aprofundar seus conhecimentos, para serem mais produtivos. Mas, quando o assunto é a vida de fé, a vida com Deus, a grande maioria dos cristãos acha isto, simplesmente dispensável. Contenta-se com mínimas e imprecisas informações, sem levar a sério o fato de que a verdadeira vida de fé começa com o encontro pessoal com Jesus Cristo, Deus Encarnado. Por que os crentes não devem crescer no conhecimento e na experiência de Deus?  Por que não devem atualizar os seus conhecimentos religiosos, se os teólogos descobrem, sempre mais, preciosidades espirituais?
A catequese dos adultos tem de ser “adulta”. Não se pode infantilizar nem o conteúdo do Evangelho, nem uma pessoa que manifesta interesse de conhecer a Verdade. “Muitos católicos não receberam claramente o primeiro anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo processo de crescimento e amadurecimento pessoal da fé, através de uma verdadeira experiência catequética. Esses católicos não sentem uma vinculação atual com a Igreja. São atraídos por outras religiões ou anônimos e sem pertença a uma comunidade” (Estudos da CNBB 84, p.265).
A catequese (ainda mais para os adultos) não pode ser como um verniz que se aplica apenas na superfície de madeira. Ela tem de penetrar na vida das
pessoas, levando as à conversão interior, a mudança de mentalidade (modo de pensar e “ver” as coisas). O conteúdo da catequese tem de ser algo que responda a pergunta de Jesus no Cenáculo: “vocês entenderam o que vos fiz?” (Jo 13,12). Não há outro caminho para formar discípulos i missionários, como nos comunicou a V Conferência do CELAM, de Aparecida (“Discípulos e Missionários de Jesus Cristo para que n’Ele todos os povos tenham Vida”).  Esta verdade se ancora em Jesus “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 16,4).
Uma catequese “adulta” acolhe as pessoas e lhes ajuda reestruturar a vida a partir da proposta de Jesus Cristo. Para quem vive vários anos sem receber Sacramentos, não manda, sem nada, para o confessionário e, desculpe a expressão, não enfia a Hóstia na boca. Para quem busca a Igreja, vindo da indiferença, ignorância, filosofias de vida ou seitas, não vai logo batizar e mandar rezar o terço. A quem vive em adultério e sente-se incomodado com a situação, não vai logo casar para “resolver o problema”, mas vai prepara-los com seriedade, primeiramente, tentando levá-los ao encontro com a Pessoa de Jesus Cristo. Isto é evangelização e uma “catequese adulta”.
Os elementos que compõem o programa da catequese são voltados não só para conhecer Jesus Cristo, pois os demônios também O conhecem (Mc 5,7-13) e continuam sendo demônios, mas para levar a uma nova vida na adesão a Cristo, “num processo de conversão permanente, que dura toda a vida” (Diretório Geral da Catequese, 56). Este fruto da catequese é um critério da sua eficácia e da sua maturidade. Por isso, o catequista tem de viver aquilo que ensina. Deve levar a vida sacramental, vida de oração, vida na Palavra de Deus, no amor ao próximo... Caso contrário será como um sino de bronze... (Irmãos, se eu falar... mas não tiver amor, serei como um bronze que soa ou como um sino que retine... 1Cor 13,1-2).
A catequese tem de entrar na vida das pessoas, tem de ser a vida. O Reino de Deus já está no meio de nós, e o mundo anseia por ele, ainda que inconscientemente. Os cristãos catequizados e catequistas, ao mesmo tempo (discípulos e missionários), devem ser sinais e agentes deste Reino. “Os primeiros passos para os que seguem Jesus em seu caminho são:
disponibilidade contínua, capacidade de renunciar as seguranças e, iniciado o caminho, não voltar para trás, por motivo nenhum” (comentário da edição pastoral do NT para Lc 9,60-62).
Se a catequese não serve a construção do Reino inaugurado por Jesus Cristo, torna-se um verniz que evapora com o passar e vicissitudes de tempo para, finalmente, desaparecer. É como as palavras jogadas ao vento. Não educam para a vida de fé, mas trazem uma sensação do conhecimento e proximidade de Deus, assim preparando o “êxodo” da Igreja. Será que aqueles que deixaram a Igreja não o fizeram por falta de uma catequese “adulta”?
Costumo visitar nossos jovens nos retiros, durante a preparação para o Sacramento da Crisma, e na oportunidade pergunto se gostaram desta experiência. O que foi mais tocante para eles? As vezes as repostas me deixam desconsolado. Respondem que gostaram muito, mas quando pergunto de que gostaram mais, respondem: “da palestra tal, da dinâmica tal, da unidade”. Mas, e o que essas experiências “tocantes” lhes transmitiram?  Passados uns dias depois do retiro a mesma pergunta traz a resposta: “não me lembro, mas foi muito bom”. Bom..., mas não muda a vida...
No site do Instituto Humanitas Unisinos (http://www.ihu.unisinos.br/espiritualidade) encontrei uma poesia com que quero encerrar este ardente apelo pela “catequese madura”:
O sorriso da cruz
Porque sorris tão serenamente
se tudo é para chorar?
Que segredo guardas tão dentro,
que não basta
só olhar?
São eles teus pequenos, os pobres,
que me tem levado a descobrir
que no profundo do sofrimento
há um sorriso de luz.
Somos simples peregrinas/os
para que carregar coisas demais?
Louvores ou desonras
não duram 
uma eternidade.
Ensina-me a amar
essa pobreza,
de não temer arriscar
minha vida cada dia pelo teu Reino
porque mesmo perdendo
o Amor está.