sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Advento

A palavra “advento” significa “chegada”. Provém do verbo latino venho, venire – chegar e do prefixo “ad” – a um destino, à alguém. O advenire, portanto, que dá origem ao Advento, que significa “chegar a”.
O Advento é o tempo Litúrgico na Igreja, que dá o início ao Ano Liturgico1 e antecede o Natal. Os cristãos esperam a vinda de Messias-Salvador, em dois sentidos: como a gloriosa vinda no fim dos tempos e, como encontro com Ele, na Liturgia da celebração do Seu Natal, que pela força do Sacramento, faz este Mistério real e atual.
As quatro semanas deste primeiro tempo litúrgico, do ano novo, têm como objetivo recordar e vivenciar o Grande Advento da humanidade, que ansiosamente aguardava o Messias, a Encarnação de Deus na história da humanidade (a Sua Primeira vinda ao nosso mundo). Mas, sobretudo, quer ajudar despertar a consciência e abrir os corações dos homens para o Deus-Amor, que vem ao seu encontro. Ele vem sentido escatológico e no cotidiano de suas vidas, em todos os acontecimentos, encontros e na diversidade das experiências. Não só “virá”, num futuro desconhecido, mas vem, incessantemente (Ap 1,8).
As vindas de Deus sempre nos surpreendem. Ignoramos como e quando Ele virá. Uma vez vem na pessoa de um necessitado, outra, num parente ou vizinho importuno, ou ainda, na enfermidade e na perseguição. Por isso, Ele nos pede para vigiar, isto é: viver com os olhos abertos e ouvidos atentos (Lc 12,39; Mt 24,42; 25,13; 1Tes 4,16-17).
A primeira fase do Advento, que vai até o dia 17 de dezembro, possui caráter escatológico, ou seja, nos convida para preparar-se para o encontro com Deus, no fim da nossa existência terrena. Esta preparação requer a conversão da vida em pecado, para uma vida em comunhão, com Deus e com as pessoas. Os meios necessários para isto são: a oração, a escuta e a meditação, mais assíduas da Palavra de Deus, abertura generosa para o próximo, sobretudo necessitado.
A segunda fase, o restante do Advento, é voltada para a imediata preparação para o Natal de Jesus, celebrações do aniversário da Sua Encarnação.
Neste contexto, como não fazer uma crítica aos nossos governantes, que ainda, antes de começar o Advento, já antecipam o clima do Natal (eliminando o Advento), ao enfeitarem as ruas e os ambientes públicos, com decorações natalinas. Gastam, para isto, o dinheiro público, em valores altos, só para “comemorar” o Natal. Alimentam assim, o consumismo e a “febre de compras”, enganam as pessoas com um boneco, chamado de “papai Noel” (este já roubou a Festa de Jesus), e o Natal consideram como um evento cultural. Eu protesto, e insisto para não fazer este tipo de Natal. É incomparavelmente melhor reverter em benefício das pessoas realmente necessitadas e, estas são muitas, para não depreciar o estado de saúde pública, educação, etc.
Sei que há quem defenda esta prática (sim, dentro da Igreja), alegando que a sociedade virará pagã, se não cultivar tais costumes. Mas, porventura, esta sociedade é cristã? Afirmo que, não é um risco para responder: jamais! (Até os que se declaram cristãos, além dá escandalosa ignorância da doutrina, têm muito pouco, ou nada, a ver com a vida cristã). “Devemos voltar aos tempos dos primeiros cristãos: eles enfrentaram um mundo pré-cristão; nós estamos enfrentando fortemente um mundo pós-cristão... Temos necessidade de recomeçar a partir da pessoa de Jesus e ajudar humildemente os nossos contemporâneos a experimentar um encontro pessoal com Ele”. (http://www.zenit.org/pt/articles/cantalamessa-disse-no-sinodo-anglicano-estamos-enfrentando-um-mundo-pos-cristao?utm_campaign=diarioportughtml&utm_content=%5bZP151126%5d%20O%20mundo%20visto%20de%20Roma&utm_medium=email&utm_source=dispatch&utm_term=Image).

E novamente pergunto: estes investimentos para “fazer” Natal nos espaços sociais vai levar alguém à conversão, que é uma condição, indispensável, para VIVER o Natal? Porventura, considerando o Natal como um evento cultural, não contribuímos para a dessacralização deste grande Mistério? Em vez de evangelizar o mundo (levar-lhe a Pessoa de Jesus), queremos oferecer-lhe as “carcaças” das nossas lembranças religiosas? Isto não é honesto e, além disso, acarreta a responsabilidade.
O Advento, que agora começamos, deve nos servir para a preparação, sobretudo do coração e da alma, para acolher o Filho do Pai Eterno que vem (Ap 1,8). É o tempo para pensar no estado de nossa vida religiosa (verificar e consertar a qualidade de vínculos com Deus), moral (abandonar as práticas conflitivas com a Lei de Deus e amar mais), relacionamentos (com as pessoas e com as coisas). Estes âmbitos devem estar preparados para receber com dignidade o Dom do Pai Eterno, O Menino-Salvador.
A Liturgia e os ambientes celebrativos, em nossas Comunidades, são modelos e inspirações de como viver o Advento no espírito cristão e com proveito (a simplicidade, o recolhimento mais silêncio, reflexão sobre o sentido da vida). Estes valores devemos tentar vivenciar em nossa vida cotidiana, para não nos depararmos com a situação, que O Natal está chegando, o Advento começou e eu... continuo vivendo como antes, como que não houvesse nem o Advento, nem o Natal...
"Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto" (Fl 4,4). Este é o sentido e o clima do Natal. Alegrar-se, POR CAUSA DO SENHOR!

1/ Sobre o Ano Litúrgico já escrevi neste Blog. Veja abaixo.



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