sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Réveillon ou fim de ano, ou substituto do real

O Natal continua...
Está para terminar a celebração do Natal, da Encarnação de Deus e sua vinda ao mundo dos homens. Estendida por oito dias quer nos ajudar a penetrar mais profundamente o Mistério da Misericórdia de Deus, que vem para livrar a humanidade do poder das Trevas. Quer nos ajudar, ainda, a abrir as nossas vidas para a vinda e presença do Salvador, contínua e abrangente de todas as dimensões da vida cotidiana.
O período da Oitava do Natal coincide com o dia 31 de dezembro, último dia do ano civil. As comemorações do “fim de ano” atingiram hoje um nível exorbitante e mágico. Não é nada de mal comemorar a passagem do ano, mas preocupante é que muitos cristãos deixaram arrastar-se por esta onda “laical”, esperando por este dia e preparando-se muito mais e melhor, do que para as celebrações do próprio Natal.
Todos sabem a que a cronologia hodierna é um modo convencional de medir e organizar o tempo. As datas comemorativas do ano civil também são convencionais (Dia das Mães, Dias da Criança, Dia do Agricultor, etc.) ou históricas (Dia da Independência).
Ao contrário, o Natal e outras Celebrações litúrgicas não são convencionais nem históricas, e o seu valor, superior de todas as comemorações, consiste em fazer acontecer o que está sendo celebrado (não comemorado!). Não se trata duma mera recordação e, na oportunidade duma homenagem, mas de um FATO que acontece, se renova e atualiza para o bem e felicidade do ser humano.
Quando falta esta compreensão as pessoas transferem os seus sonhos, expectativas e seus desejos do infinito (muitas vezes inconscientes) para o mundo de fantasia e magia, atribuindo a certos objetos, lugares ou datas poderes sobrenaturais, capazes de mudar as suas vidas e realizar os seus desejos. O “réveillon” (na língua francesa usado para descrever uma festa de passagem de ano) é um destes momentos.
As pessoas esperam o ponteiro “bater” a meia noite para se cumprimentar e desejar um feliz ano novo... E será que vai acontecer? Somente pela força do desejo vai mudar algo? Pode mudar, sim, e vai mudar, mas será efeito das escolhas (prudentes ou insensatas). Mas, se estas escolhas forem iluminadas pela Luz de Deus (efeito da comunhão efetiva e contínua com Deus) levarão a realização humana e proporcionarão uma paz que é sinônimo da felicidade.

Muitos se alienam tanto que, parecem não fazer distinção entre o Natal e o fim de ano, felicitando-se: “Feliz Natal e próspero ano novo”, ou algo assim. Grande é o perigo de trocar o primário pelo secundário, o essencial pelo acidental, a felicidade pela sensação ou pelo prazer que passam e deixam a... ressaca.

Então, um cristão não pode comemorar a passagem do ano novo? Poder, pode. Contudo, o cristão católico deve lembrar que, além da cronologia convencional do tempo (ano civil) primeiramente deve viver a cronologia litúrgica (Ano Litúrgico) e com isso não é correto não comemorar a passagem do ano Litúrgico, mas fazê-lo exclusivamente na passagem do ano civil. Pode se comemorar o réveillon com a devida e justa proporção entre o real e convencional, sempre com Deus, pois só Ele pode dar ao ser humano o melhor que este precisa.
Finalizando, faz bem pensar fazendo quaisquer coisas, para não de enquadrar na mentalidade de macaco, que só sabe imitar o que os outro fazem...



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Advento. Espera. Três vindas de Deus.

Tempo do Advento
Esta matéria ia ser escrita e postada no começo do Advento, mas o tempo passou... O Advento ainda continua e faz bem lembrar que este breve Tempo Litúrgico (4 semanas) dá o início ao Ano Litúrgico, no qual vivenciamos os Mistérios da Salvação (sobretudo a Encarnação e Páscoa) e consolida-se a nossa Vida, iniciada no Sacramento do Batismo.
O Advento possui três dimensões, pode-se falar de três vindas de Deus ao mundo.
A primeira é a dimensão histórica. Recorda-se o grande advento da humanidade, que se inicia logo depois do pecado original (Gen 3,15) e vai até a Encarnação de Deus em Belém.  Nesta dimensão pode-se notar um drama do desencontro. Impressiona, que o Povo Eleito de Deus (a Igreja da Primeira Aliança) por tantos séculos sustentado pela esperança da salvação, não reconhece e rejeita o seu Deus que vem para salvá-lo. Este perigo podemos correr também nós, quando nos satisfazemos com mero cumprimento de normas e celebração do ritos, mesmo sem o devido entendimento.
A segunda dimensão, talvez a mais importante, porque se refere ao bíblico “hoje”, é a vinda de Deus nos Sacramentos. Eles foram instituídos por Jesus, como sinais sagrados visíveis, sensíveis e eficazes (Cat.Igr.Cat. 1113-1134) da graça salvífica de Deus. Portanto, são indispensáveis para possuir a Vida e para que ela cresça produzindo frutos desejáveis por Deus (Jo 15,16).
“Os sacramentos são «da Igreja», no duplo sentido de que são «por ela» e «para ela». São «pela Igreja», porque ela é o sacramento da ação de Cristo que nela opera, graças à missão do Espírito Santo. E são «para a Igreja», são estes «sacramentos que fazem a Igreja» (31), porque manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus-Amor, um em três pessoas” (Cat.Igr.Cat. 1118).
No Sacramento do Batismo recebemos a Vida Nova, no Sacramento da Eucaristia ela é alimentada e consolidada, no Sacramento da Reconciliação esta vida é renovada, quando atingida pelo pecado. Foi por amor que recebemos estes “canais de graça”, mas podemos preferir e escolher os “canais do prazer”, repetindo assim o erro do Povo, na primeira vinda de Deus.
Enfim, a terceira dimensão do Advento é a segunda e última vinda de Deus ao mundo (“Parusia”). Quando o Filho do Homem voltar o mal será definitivamente eliminado e o homem poderá viver plenamente feliz, pois apara isto foi criado, para fazer parte da vida de Deus. O tempo presente deve servir para nos prepararmos para esta vinda e para prepararmos o mundo, pois somos “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-16). Igualmente, alguém pode pensar: “será que virá, mesmo?”, ou “quem sabe quando?”. Em consequência poderá viver como que Deus não existisse e o homem não precisasse prestar as contas das suas escolhas (Lc 12, 39-48). Corremos este risco, sobretudo nós, crentes, podendo nos enganar a nós mesmos substituindo a fé confiante e espera pela vinda do Senhor, pelos ritos e cultos... (Lc 21,5-11).
O Advento Litúrgico que estamos vivendo, ainda está na sua primeira fase, até o dia 16 de dezembro inclusive. O espírito deste período consiste na conversão pessoal (profunda mudança da mentalidade), como condição indispensável para encontrar-se com Deus que vem, agora, nos Sacramentos e que vem no sentido escatológico.
A segunda fase do Advento, que começa aos 17 de dezembro é a preparação imediata para a celebração do Natal, lembrando a Primeira Vinda e abrindo o coração para mais uma, e mais profunda acolhida de Deus no mistério da Encarnação. A partir deste dia, tendo os corações voltados a Deus, os cristãos enfeitam suas casas e ambientes em que vivem com os símbolos natalinos. O seu Natal não será de aparência, mas será um verdadeiro encontro com Deus que salva e traz a paz.


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Orar pelos defuntos é louvável.

Finados.
Do contrário ao que dizem os “conhecedores da Bíblia” é muito importante orar pelos falecidos, e não menos zelosamente que pelos vivos. Por que?
No lugar nenhum da Bíblia encontra-se qualquer menção que proíba ou desaconselhe a intercessão orante pelos falecidos. Mais ainda, a Sagrada Escritura (nos ambos Testamentos) recomenda a esta prática e a considera como um ato de caridade, cf.: 2 Mc 12,43-46; Tb 12,12; Mt 12,31-32 (evidencia que certas culpas podem ser perdoadas nesta vida, e outras, na vida futura); 2 Tim 1,15-18 (comparando estes versículos com o versículo 19 do capítulo 4, da mesma Carta, vemos que Onesífero já era morto, e São Paulo reza por ele, pedindo que o Senhor tenha misericórdia dele).

As culturas e religiões antigas pressentiam ou transmitiam, cultivando herdada dos ancestrais, uma convicção de que os mortos necessitam de ajuda. Por isso, lhes traziam alimentos e sepultavam, juntamente com seus corpos, as armas, instrumentos de trabalho e outros utensílios. “Essas crenças logo deram lugar a regras de conduta. Desde que o morto tinha necessidade de alimento e de bebida, pensou-se que era dever dos vivos satisfazer às suas necessidades. O cuidado de levar alimentos aos mortos não foi abandonado ao capricho, ou aos sentimentos mutáveis dos homens; era obrigatório” (Fustel de Coulanges, A Cidade Antiga, cap.II). Os antigos, não tiveram ainda, como nós temos hoje, o conceito de alma imortal, pois esta verdade foi nos revelada por Jesus Cristo, portanto “ajudavam” aos defuntos de acordo com a sua inteligência e conhecimentos da época.
Hoje sabemos, que o ser humano é uma criatura excepcional e superior de todos os seres existentes. A Sagrada Escritura sublinha este fato apresentando a descrição da criação do homem, como uma “obra de arte”, obra exclusiva e a mais perfeita, realizada como coroação da Obra Criadora de Deus (Gen 1,26ss). E mais ainda, o ser humano foi criado como “imagem e semelhança de Deus”.
O que isto significa? É que Deus é Espírito Perfeito, Invisível e Todo Poderoso. Uma vez na história, Ele se encarnou, assumiu a natureza humana (Deus se fez Homem) para libertar toda a humanidade (a sua natureza) do poder do Maligno. Mas, nem por isso, Deus deixou de ser Espírito Eterno (sem começo e sem fim).
Portanto, o ser humano, criatura feita de matéria, recebeu um “sopro de Vida Divina” (Gen 2,7) que é vida eterna, sem fim. Semelhança de Deus. O homem tem seu início de vida, mas não tem fim. Portanto, o que morre e é levado ao cemitério é a parte material do homem, cujo “Sopro Divino” (que chamamos de alma) não morre, permanece eterno, inatingível pela morte. 
E aqui chegamos ao nosso assunto. A humanidade foi atingida pelo pecado, que afetou a sua natureza, logo na origem (daí o “pecado original”). Assim, a imagem de Deus no ser humano foi desfigurada, mas não destruída. O homem ao escolher o caminho da vontade própria, rejeitando a obediência, tornou-se o oposto ao que Deus é. Tornou-se inimigo de Deus, não querendo “andar com Ele”. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” Rom 3,23. “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram... (Rom 5,12). 
A natureza humana, apesar de libertada do poder do Maligno, continua carregando a consequência (desfiguração) do pecado original, que se manifesta como inclinação para satisfazer a vontade própria. Por isso, todo homem vive em pecado, até ser libertado para fazer a vontade de Deus...
E se morrer em estado de pecado, dependendo do grau do desamor que vivia, (só Deus é quem sabe), pode correr o risco de viver eternamente no mundo do desamor, na linguagem popular chamado de inferno.

A Igreja, confiando na infinita Misericórdia Divina, supõe que os moribundos podem mudar a sua opção de vida e se arrepender dos erros, no último instante da sua consciência neste mundo, recomenda vivamente a oração por todos os falecido (Catecismo: No 16, 89, 958, 1032,1056, 1371, 1414, 1471, 1479).

Enquanto um homem vive na terra, está em poder de ajustar as suas escolhas, atitudes, preferências à lógica do amor. No instante da morte, esta possibilidade deixa de existir. É algo assim, quando para um relógio... Não será mais “ontem”, nem “amanhã”, mas tudo será AGORA. Depois da morte, como nos ensina o Catecismo (1021, 1022, 1033), apoiando-se na Sagrada Escritura, segue-se o Juízo Particular, no qual a alma toma destino escolhido na Terra e, enfim Juízo Final, que perpetua estas escolhas. Será o meu estado, meu destino aquilo que escolhi viver na vida terrestre e recebo no instante da minha Passagem para a Eternidade. Por esta razão, Jesus insistia para permanecer n´Ele, que é Vida, para não entrar no mundo do desamor (Jo 15,1-8).

Todos os que morrem, em qualquer pecado, antes de se unirem a Deus-Amor necessitam de purificação, o que no latim se chama: “purgare”, donde vem o termo português “purgatório”, lugar onde se encontram os santos-pecadores. É por eles que rezamos, expressando a nossa comunhão, amizade (quando a gente sofre, como é bom receber uma presença amiga, uma cartinha, um telefonema) e, assim encorajando aquelas almas a arderem por amor a Deus e aos seres humanos que ainda labutam na terra enfrentando todo tipo de tentações.
Rezamos também para agradecer a Deus pelos benefícios que nos tem concedido através deles e também, agradecemos a eles que se deixaram inspirar por Deus a serem instrumentos do bem. Rezamos ainda com espírito de reconciliação com falecidos, que as vezes nos causaram sofrimento, traumas, deixando dolorosas recordações. Esta oração é muito libertadora e fonte de saúde espiritual e física, para quem reza assim. É louvável orar pelos defuntos, pois assim vivemos a universalidade da Comunhão da Igreja Universal. “Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de purificação, também são membros da mesma comunhão dos santos, nós podemos ajudá-los, entre outros modos, obtendo para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas temporais devidas pelos seus pecados” (Cat. 1479).

Não se deve negar esta Comunhão com os defuntos, sem correr o risco de se desencontrar com a Palavra de Deus. “Se os mortos não interessam pelos vivos, como se explica que aquele rico nos tormentos do inferno suplicasse a Abraão que enviasse Lázaro a seus cinco irmãos ainda vivos, para convencê-los a mudar de vida e evitar de virem, por sua vez, àquele local de tormento? (Lc 16,27). Como podia Abraão ignorar o que se passava aqui na terra, visto que sabia terem os vivos Moisés e os profetas, isto é, seus livros, e que seguindo-se escapariam aos tormentos do inferno? Não sabia ele que o rico tinha vivido em delícias e que Lázaro, o pobre, vivera na penúria e sofrimento? Com efeito, disse: “- Filho, lembra-te de que recebestes teus bens em vida, e Lázaro por sua vez os males” (Lc 16,25). Abraão estava, pois, a par dos fatos concernentes aos vivos, não aos mortos. Pode ser que estes fatos ele não podia os ter conhecido no momento em que ocorreram, mas após o falecimento dos dois, e sob as indicações do próprio Lázaro” (da “Fé explicada”).

O Dia de Finados é o dia daqueles que já estão muito perto do Céu, perto da Glória com Jesus Ressuscitado, mas ainda necessitam da purificação interior. Oremos por eles e com eles. Lembremos deles na Eucaristia, visitemos cemitério, lucremos indulgências. Deste modo, também o nosso caminho para o céu será mais seguro, pois será acompanhado por todos aqueles que hoje se beneficiam do nosso carinho, caridade fé orante e solidariedade. 




domingo, 30 de outubro de 2016

Compras compulsivas. Pega somente o que precisas.


A cultura do descartável e do provisório, como costumava falar papa Bento XVI, é um dos “produtos” da sociedade moderna que optou por busca da felicidade, sem levar em consideração o Projeto de Deus. O ser humano tenta preencher o vazio do seu interior recorrendo a diversos meios, entre eles ao consumo descontrolado de “tudo que encontra na sua frente”...
Este problema é um problema espiritual, antes de ser psicológico. A espiritualidade madura nasce e cresce, a partir da fé em Deus. Por incrível que pareça, mas o mal moderno, do vazio interior, atinge um incalculável número de pessoas, que se dizem crentes. E onde está o problema? Na concepção da fé, evidentemente.
A fé não consiste em acreditar (admitir) a existência de Deus, como Criador e Senhor, mas consiste em ADERIR ao seu Projeto de Vida. Acreditar que Deus me ama e que o melhor para mim e, em seguida, comprometer-se, aderindo ao Plano de Deus que quer todos felizes. Quando falta este compromisso, pode-se ver uma fé débil e inútil, semelhante a oração má, o que dizemos na postagem anterior.
Dizem, que o Sócrates, filósofo grego, considerado um dos homens mais sábios e inteligentes da sua época, que viveu no século V, antes de Cristo, conhecido também como homem extremamente ascético, costumava passear com frequência pelo mercado popular. Não tinha medo de escandalizar aqueles, que o conheciam como asceta e desprendido. Ia ao mercado só para olhar as coisas que não quis possuir. Assim, ele confirmava a sua convicção de que não precisava nada mais, além do que tinha, para ser feliz e ter a paz.
Para os crentes em Deus Trinitário, Jesus Cristo propõe um caminho de vida muito parecido ao de Sócrates. Ir pela vida, levando somente o necessário (Lc 10,4; Mc 6,7-11), porque Deus vai cuidar do for preciso a mais.
Pergunte-se a si mesmo: Realmente estás precisando de roupa nova, do novo smartfone, de trocar carro novamente, etc? O que realmente vai ganhar com isso? Ou, talvez venha a perder algo, se não fizer aquela aquisição?
Faz bem lembrar-se de alguma situação quando a gente desejou muito algum objeto (joia, computador, bicicleta, roupa). E quando já o conseguiu, depois de um tempo, surgiu um outro desejo, que começou a “perseguir” e dominar os pensamentos. I assim vai...
E se hoje, você abrir as suas gavetas e olhar mais atentamente as prateleiras... E se notar que ali há várias coisas que há muito tempo não utilizou, ou até, nem sabia que tinha? Não é para logo se desfazer de tudo, mas para fazer uma experiência e ver o efeito do compulsivo acúmulo de bens.

Se a gente pensar bem e perceber que tem o suficiente na vida para ser feliz, estaria livre de perturbações, que acompanham desejos de acumular constantemente os bens. O “prestigio” que se pode ganhar no ambiente do trabalho, colegas, vizinhos pode ser mera manifestação das carências, que deste modo se tenta satisfazer.
A exortação de Pedro é bastante válida e útil: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé” (1Pd 5,8-9).




sexta-feira, 28 de outubro de 2016

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Oração “má”

 “Rezo, rezo e nada adianta”, “parece que Deus não me ouvi”. Estes e parecidos desabafos se ouve com muita frequência. O que fazer? Os “peritos da espiritualidade popular” (termo criado por mim), muito convictos de terem a razão, costumam dizer: “tem que rezar mais”.
As vezes, realmente, é preciso rezar mais se, de fato, a oração é breve e superficial ou muito fragmentada. No entanto, nem sempre “rezar mais” proporciona o bem. Estranho, não é? Como é possível que as longas orações poderiam não fazer bem?

A resposta podemos encontrar nas palavras de São Tiago: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal” (Tg 4,3). A oração má não ajuda, mas frustra, decepciona. Não leva a mudança de vida, porque não permite Deus a transformar. A má oração pretende “subornar” a Deus para “conseguir a graça” o que na verdade significa: conseguir que Deus faça o que orante pede.
A vontade de Deus, Amor Infinito, não está em consideração, porque Ele é concebido como alguém distante, indiferente com a sorte do homem e severo. Tal “Deus” tem de ser “conquistado” através das devidas orações, promessas e sacrifícios.

O caminho correto para orar com proveito é rezar diferentemente, em vez de longamente.
O que isto significa? A oração possibilita o encontro com Deus, o Amigo. Quando quero entrar no mundo de oração devo me conscientizar de que Ele é o mais importante. Os problemas e preocupações devem ser deixados fora. Nada pode interferir nesta intimidade toda particular. Até mesmo as devoções pessoais, deve se revisar, para não serem um peso inútil, mas levarem ao Encontro com Amigo.

Além disso, a oração boa não consiste em palavreado. O próprio Jesus disse: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras” (Mt 6,7). É preciso que haja a proporção entre “o falar” e “o escutar” na oração. A essência da oração é escutar. É Deus, o Pai, que espera homem na oração para lhe falar e para dar descanso, conforto e paz (Mt 11,28ss).

Ainda, é muito importante ter um momento fixo, durante cada dia, para este Encontro e tentar ser fiel a ele.
Jesus não pede para rezarmos mais e mais. Pede para rezarmos sempre, isto é para que toda a nossa vida seja uma oração (Lc 18,1).

Uma boa oração, sempre agradável a Deus é aquela que segue o “roteiro” chamado de Pai Nosso: santificado seja o Teu Nome, seja feita a Vossa vontade, etc.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Dia da Criança ou da Virgem Maria - II

Dia da Criança. Dia dos filhos de Deus - continuação

Na véspera do Dia da Criança volto a insistir em revisar a vigente comemoração das crianças, que está em evidente conflito com um dia especial, de caráter espiritual e religioso, dia de Nossa Senhora Aparecida. Como já disse na postagem anterior, esta situação é como que uma “sabotagem” que “detona” tanto a problemática da criança e da família, quanto o aspecto religioso, que anuncia aos Brasileiros que têm uma Mãe, e que podem contar e aprender muito com Ela.

Curioso de quando e quem implantou o Dia da Criança tão infortunadamente, comecei pesquisar e no site www.portaldafamilia.org encontrei a resposta: “O Dia da Criança no Brasil foi "inventado" por um político. O deputado federal Galdino do Valle Filho teve a ideia de criar um dia em homenagem às crianças na década de 1920. Os deputados aprovaram e o dia 12 de outubro foi oficializado como Dia da Criança pelo presidente Arthur Bernardes, por meio do decreto nº 4867, de 5 de novembro de 1924. [...]Muitos países comemoram o dia das Crianças em 20 de novembro, já que a ONU (Organização das Nações Unidas) reconhece esse dia como o dia Universal das Crianças, pois nessa data também é comemorada a aprovação da Declaração dos Direitos das Crianças. Entre outras coisas, esta Declaração estabelece que toda criança deve ter proteção e cuidados especiais antes e depois do nascimento”.

Bem. Um político “inventou” o Dia das Crianças. Excelente! Parabéns a ele. Enfim, ele tem direito de portar uma certa ignorância religiosa e confundir as boas intenções com atitudes acertadas. Mas, eu me pergunto: onde estavam as autoridades da Igreja para acolher esta boa “invenção” e ajudar a implantá-la no “terreno” certo? Numa data que não colide com alguma outra, de relevante importância, como o dia de Nossa Senhora Aparecida.

Por que até hoje não se questiona este infeliz “casamento”? Será que seja justo permitir a banalizar, e reduzir o Dia da Criança ao consumismo e diversão? Sem dúvida as intenções que levaram o deputado Gaudino a lutar pelo Dia da Criança foram bem mais sérias. E, parece que, sobretudo hoje, atuais...



sábado, 1 de outubro de 2016

Se tivésseis fé...

Se tivésseis fé... faríeis coisas impossíveis...
Aumenta a nossa fé... Jesus, não atende. Em vez de satisfazer este desejo nobre e justo, muda de assunto e... parece alimentar este desejo. 
Parece estar falando: "é isto que eu quero", "é bom que compreendem que a fé é um dom gratuito e não uma porção de conhecimentos", é bom que entendem que a inteligência humana tem limites"...
Em vez de crucifixo no peito... vem um amuleto...
Aumenta a nossa fé...
O modelo da fé verdadeira e madura sempre será Abraão. Homem de confiança e obediência, profundas. Quantas vezes este homem devia ter pedido: "Senhor aumenta a minha fé"...
Aumenta também a minha...


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Dia da Criança ou da Virgem Morena

12 de outubro é
Dia dos filhos de Deus.

Quando foi escolhido o dia 12 de outubro para homenagear crianças no Brasil? Quem o fez? Quais foram motivos para esta escolha?
É louvável que se faça esta homenagem e que se chame atenção para vida humana em sua primeira etapa, a infância. As crianças alegravam Jesus, o Filho de Deus (Mt 19,4) e sempre alegram qualquer pessoa que tenha ao menos um pouco de sensibilidade humana. Ao olhar nos olhos duma criança pode-se ver algo encantador, indescritível e místico. Pode-se contemplar um mistério, belo e atraente.
No ano de 1925, em Genebra, os países da Europa tiveram a ideia de homenagear as crianças. O Brasil também assimilou esta prática, mas... foi escolhido um dia já ocupado!
Parece que sem pensar, mas apoderamo-nos do dia no qual os filhos de Deus homenageiam, expressam a fé e o amor, para com a sua Mãe, Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus Cristo. Esse dia é o Dia da Criança, mas... crianças evangélicas (Mt 18,3). É o dia dos filhos de Deus e da Mãe de Deus. Portanto, o dia 12 de outubro deve ser devolvido a eles, para satisfazer a justiça, que em tranquilidade querem vivenciar e alimentar a união familiar com a sua Mãe.
Neste contexto a pergunta “por que?”, surge espontaneamente. Por que, então, para fazer uma coisa boa (instituir o Dia da Criança) “invadiu-se”, desfigurou-se um outro bem, quando poderiam existir ambos, separadamente; cada um no seu lugar, proporcionando assim, um benefício maior e promovendo uma visão integral da vida humana. O mistério da vida integral aparece sempre quando se “toca” a vida na sua dimensão temporal e transcendental, ao mesmo tempo.
A questão “por que?” fazer homenagem nacional das crianças (crentes, descrentes e indiferentes) no dia exclusivo da Padroeira do Brasil, pressupõe as respostas do gênero de “teorias de conspiração”, como: alguma “sabotagem” pastoral? uma obra das elites judaico-maçônicas? um jeitinho da antiga serpente que engana até as autoridades eclesiásticas?
Por mais tolerância e compreensão que se possa ter para sustentar as razões e tolerar a prática de realizar o Dia da Criança no próprio dia de Nossa Senhora, não se consegue escapar da impressão dum atentado contra a devoção de Maria. Ao menos, não dá para negar que está impressão está privada de fundamentação...

E o que você acha? É certo misturar estas duas festividades? Não haveria mais proveito, para todos, se forem celebradas separadamente, cada uma no seu lugar e do seu próprio jeito?
Toda crítica construtiva propõe alguma alternativa. Nós também sugerimos:
1/ Primeiramente, pode-se escolher uma outra data fixa, para o Dia da Criança (já que o dia de Nossa Senhora Aparecida é mais antigo), como foi feito em vários países. Em Genebra, com tal foi proclamado dia 1 de junho. Por que não o assumir?
2/ A ONU reconhece o dia 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança, por ser a data em que foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959 e a Convenção dos Direitos da Criança em 1989. Enfim, pode-se escolher qualquer outro dia para homenagear as nossas crianças.
3/ Concretamente, o que nós podemos fazer hoje, enquanto persiste o conflito entre o Dia da Criançase o Dia de Nossa Senhora Aparecida? È óbvio que sempre será valido rezar, esperar, questionar esta prática. Mas, podemos também, nesta expectativa de mudança, “transferir” o Dia da Criança do dia 12 de outubro para um domingo antes ou depois desta data. Não seria uma boa alternativa?

Enfim, podemos e devemos enfrentar os meios de comunicação, que muitas vezes se colocam a serviço de interesses particulares, fazendo lavagem cerebral do povo. Tomando consciência aproveitemos este conflito para uma simples, mas responsável catequese, sobre a ordem das prioridades em nossa vida.
Acho que isto é possível. Basta crer, mas também, agir conforme as competências e possibilidades.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Os Mandamentos – estes não precisa obedecer

Obedecer a todos os Mandamentos?
O Evangelho de hoje (Mt 22,34-40) apresenta Jesus, cuja vida e cujas palavras incomodam o mundo em que vive e que foi questionado sobre a importância dos mandamentos da Lei Mosaica. A pergunta foi sútil e mal-intencionada, mas Jesus responde aos adversários, de um modo satisfatório e inquestionável, e revela a verdade acerca de toda a Lei. Ela foi dada por Amor Divino para viver aprendendo amar. Pois somente quem ama no céu vai entrar, como canta Pe. Zezinho na bela musiquinha para crianças: “Eu sigo a Luz".
A Lei, não é, portanto, um meio garantido da salvação eterna. Não se pode dizer “nunca desobedeci qualquer ordem tua” (como filho mais velho da parábola sobre o pai misericordioso) (Lc 15,29-32) por isso, tenho direito aos privilégios...
A graduação entre os Mandamentos não permite dizer: “eu amo a Deus” ou “sou católico [que quer dizer: cristão de coração universal como Jesus Cristo) mas... não sou casado na Igreja, ou já faz tempo que vivo em pecado...”.

O fundamento de toda a Lei é o amor. Portanto, basta amar. Não basta um mero cumprimento, por mais zeloso que fosse (como os fariseus), mas o seguimento do Amor Encarnado que nos orientou: “amais-vos uns aos outros, assim como eu os amei” (Jo 15,9-12). Onde há amor há sacrifício, que o caracteriza e legitima.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

"Testemunha" da Ressurreição - lenço de Manoppello

Lenço (Véu) de Manoppello
Lemos nos Evangelhos que depois da morte de Jesus o Seu Corpo foi envolto num pano de linho e depositado no sepulcro. Porém, a Sua cabeça foi encoberta num lenço distinto. No pano de linho (Sudário) Jesus deixou impressão do seu Corpo martirizado, mas no lenço deixou a imagem do Seu rosto, no momento da passagem do estado da morte para vida.
O Sudário permanece guardado na cidade de Turim, na Itália enquanto o lenço, que cobria o rosto de Jesus, encontra-se em Manoppello. Ambos tecidos são únicos objetos materiais “testemunhas”-provas da Ressurreição. Isto foi comprovado pelos recentes estudos científicos.

O tecido do lenço de Manoppello é tão fino e delicado que, se for dobrado, chegaria ao tamanho duma unha. Foi feito de bisso (seda) marinho e considerado o mais precioso da antiguidade. Tecnicamente é impossível pintar qualquer coisa num material tão fino. Pois, de fato, não se encontrou qualquer tipo de tintura e, conforme tradição, a imagem não de origem humana.
“Nos estudos de irmã Blandina Paschalis Schlömer, pintora e estudiosa dos ícones, a pesquisadora defende uma relação muito estreita entre a imagem do Véu de Manoppello e o rosto impresso no Sudário de Turim (esta última imagem foi determinada pela oxidação das fibras de linho mais superficiais de que o lençol é composto; como todos sabem, as pesquisas científicas realizadas nos últimos cem anos não conseguiram ainda determinar a causa dessa oxidação). A relação seria tão estreita a ponto de permitir uma compatibilidade total, com uma série de pontos de contato, quando é feita a sobreposição do Santo Rosto com a face impressa no Sudário (para completar, há ainda plena compatibilidade desses dois objetos com as manchas de sangue que aparecem no Sudário de Oviedo)” http://www.30giorni.it/articoli_id_21100_l6.htm.
Esse véu poderia ser justamente, o lenço, que Pedro e João viram no sepulcro, “que cobrira a cabeça de Jesus, e se encontrava não estendido com os panos de linho no chão [ou seja, com o grande Sudário], mas enrolado à parte” (Jo 20,7).
João, o “viu e creu” (Jo 20,8)...





segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Céu existe

Pensar no Céu
Hoje celebramos a solenidade litúrgica da Assunção de Maria, Mãe de Jesus Cristo. “Assunção” significa ser levado ao Céu e se refere a Virgem Maria, ao contrário da “Ascenção” que trata de Jesus Cristo, que sendo Homem-Deus subiu ao Céu.
A primeira questão é que nos Escritos do NT não se encontra nem a palavra “assunção” nem fato algum ali mencionado, como no caso da ascensão de JC (Lc 24,50-53).
Então, de onde vem a ideia e qual é a finalidade da solenidade da Assunção?
Os cristãos (a Sagrada Tradição) nunca duvidaram sobre o fim da vida e glorificação eterna de Maria, por isso os Livros do NT não se ocupam om este assunto. Os cristãos compreendiam que Maria, sendo tão privilegiada (“plena de Graça” – Lc 1,28) não podia como qualquer um mortal nem esperar até a Segunda Vinda do Seu Filho, para entrar no Seu Reino, mas que no instante da morte foi levada ao Céu. Não existe, também, o túmulo de Maria.
Santo Epifânio, bispo de Salamina de Chipre, nos anos de 374-377, escreveu um livro sobre heresias, no qual escreve: “Ou a santa Virgem morreu e foi sepultada e seguiu-se depois sua Assunção na glória, ou sem fim verificou-se em plena e ilibada pureza, adornando a coroa de sua virgindade…” (MS, p. 267).
Este pensamento exprime mais claramente São João de Damasco (675-749) escrevendo: “Era necessário que aquela que no parto havia conservado ilesa sua virgindade conservasse também sem corrupção alguma seu corpo depois da morte. Era preciso que aquela que havia trazido no seio o Criador feito menino habitasse nos tabernáculos divinos. Era necessário que aquela que tinha visto o Filho sobre a Cruz, recebendo no coração aquela espada das dores das quais fora imune ao dá-Lo à luz, O contemplasse sentado à direita do Pai. Era necessário que a Mãe de Deus possuísse aquilo que pertence ao Filho e fosse honrada por todas as criaturas como Mãe de Deus”.
A finalidade da celebração da Assunção de Maria, em primeiro lugar, é:
*      a glorificação de Deus que manifesta a Sua Infinita Misericórdia e faz “grandes coisas” na vida dos seres humanos.
*      Em segundo lugar, somos convidados a venerar a própria Virgem Maria, que sendo dócil ao Espírito Santo, obediente e fiel no caminho da fé (vivendo só para Jesus) cooperou admiravelmente com a Graça Divina.
*      Depois, a Assunção nos chama a elevar os olhos, pensamentos e corações para o “alto” e, conforme orientou JC, “buscar as coisas do alto” (Lc 12,22-31) e nos lembrar, que assim como Maria temos um lugar na Casa do Pai (Jo 14,2-3).
*      Enfim, este dia nos encoraja e fortalece diante das ameaças do Dragão infernal e nos motiva para deixar-se defender por Deus (Ap 12,3-9).
O Céu existe, sim. Pode ser nosso.

Muitos já estão ali. Torcem e oram por nós para não nos deixemos enganar e não nos percamos neste mundo temporal...


domingo, 7 de agosto de 2016

Oração & vida longa

Vida longa para quem reza

O que sempre foi sabido, a todos os crentes, a medicina confirma que a participação ativa da vida religiosa prolonga a vida humana. Não só garante, na esperança, a vida eterna, mas prolonga a vida na terra em 33 por cento.
A esta conclusão chegaram os cientistas da universidade americana de Harvard, depois de detalhados estudos, que duraram 16 anos. As mulheres (quase 5 mil) escolhidas para participar deste programa científico todas estiveram livres de doenças cardiovasculares e das relacionadas ao câncer.

Descobriu-se que as mulheres que tiveram a vida religiosa e espiritual ativa (oração pessoal, meditação, celebrações comunitárias, grupos religiosos etc.) tiveram menor risco de morte em 33% das mulheres do mesmo grupo cuja religião não era ativa ou que não tiveram nenhuma religião. 

Sinto muito, que não posso citar a fonte exata desta informação, pois aquela fonte da qual tirei a informação, não faz referência de onde tirou estes dados. No entanto, quem estiver interessado, encontrará várias outras matérias relacionadas aos benefícios da oração e das práticas religiosas.

“Alguns estudos mostraram que pessoas religiosamente ativas tendem a ser mais saudáveis. Isso pode ser devido ao poder da oração, mas também pode ser explicado pela disposição de se levar uma vida regrada, já que muitas religiões pedem que seus devotos evitem atos que ponham a saúde ­em risco, como por exemplo o consumo de álcool e de cigarro (em inglês), além do sexo casual. Além disso, pessoas religiosamente ativas são beneficiadas pelos laços sociais dentro de seus grupos religiosos.
Um estudo da Universidade da Califórnia - Berkeley confirmou que pessoas religiosas apresentam um risco menor de doenças e de morte [fonte: Yang (em inglês)]. Dentro e fora da comunidade científica muitos acreditam que a oração pode ser benéfica à saúde das pessoas” (http://marisalobo.blogspot.com.br/2012/02/estudos-cientificos-provam-o-poder-da.html).
“Para a psicologia, a crença no eterno serviu, desde os primórdios, para que o homem superasse alguns conflitos dramáticos e pudesse seguir em frente. Forças maléficas presentes em todos nós, como o instinto assassino e a rivalidade, seriam de alguma forma controladas pela experiência mística. É essa a visão da psicanálise sobre a fé” (http://super.abril.com.br/cultura/espiritualidade-a-genetica-da-fe).

Todos os crentes sabem que Jesus, o Cristo de Deus, tem poder de curar. Cura igualmente alma e corpo, conforme as Sua Misericórdia e seus desígnios. Basta ter fé. São ilimitados os meios através dos quais estas curas acontecem, mas é bom saber que os meios ordinários são: a Palavra e os Sacramentos (em particular os Sacramentos de Cura - Unção do Enfermos e Confissão).

Portanto, tenha tempo para “perder” com Deus e terás a vida eterna após desta vida, longa e feliz.



sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Oração. Liturgia e abusos. Profanação. Espírito lúdico

Liturgia no cruzamento?
     
O texto a seguir é de autoria do Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e foi publicado no L’Osservatore Romano, aos 12 de junho de 2015.
     Resolvi traduzi-lo, pois traz uma luz de esperança e claras pistas de intenção do retorno para o espírito do Concílio Vaticano II. Resta torcer que não falte a coragem, ao Cardeal, de enfrentar o espírito lúdico da Liturgia hodierna. Algumas das questões abordadas pelo Cardeal podem ser consideradas secundárias ou desnecessárias, o que não deixa de reconhecer a matéria como excelente intervenção e contribuição na busca da verdadeira Liturgia, que realmente realiza a comunhão do homem com Deus.
  Nesta tradução foram feitas algumas pequenas intervenções, para facilitar a leitura. Primeiramente, foram introduzidos subtítulos. Os números em parênteses referem-se a Constituição sobre a Liturgia do Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium. Em parênteses “quadradas” foram feitas explicações úteis. Todos realces provém do tradutor
    Enfim, sugiro uma leitura atenta desta matéria e convido para questionar a maneira de celebrar a Liturgia, aqui, nesta página e lá, na sua Paróquia. Deus te ilumine!



A ação silenciosa do coração.

Será que finalmente vamos conhecer a Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, após cinquenta anos da sua promulgação pelo Papa Paulo VI? 
A “Sacrosanctum Concilium” não é um simples catálogo de normas para reforma litúrgica, mas uma verdadeira “Carta Magna” de toda a ação litúrgica. Com ela, o Concílio Ecumênico nos dá uma lição magistral do método. Longe de estar contente com uma abordagem multidisciplinar e exterior, o Concílio quer fazer-nos contemplar sobre o que a Liturgia é em sua essência. A prática da Igreja sempre vem haurindo de Quem Ela recebe e a Quem contempla pela Revelação. O cuidado pastoral não pode ser desligado da doutrina. A Igreja, “se empenha na ação e se entrega à contemplação” (cf. No 2).

Uma participação ativa
A Constituição do Concílio convida-nos a redescobrir a origem Trinitária da ação litúrgica. Com efeito, o Concílio estabelece a continuidade entre a missão do Cristo Redentor e a missão litúrgica da Igreja. “Por isso, assim como Cristo foi enviado pelo Pai, também Ele enviou os Apóstolos... para que realizassem a obra de salvação que anunciavam, mediante o Sacrifício e os Sacramentos, em torno dos quais gravita toda a vida litúrgica” (No 6). A celebração da Liturgia é, portanto, nada mais do que fazer presente a Obra de Cristo. A Liturgia em sua essência é “actio Christi” [o agir de Cristo]: “a obra da redenção dos homens e da glorificação perfeita de Deus” (No 5). É Ele quem é Sumo Sacerdote, o verdadeiro Sujeito e verdadeiro Agente da Liturgia (No 7). Se este princípio vital não for aceito, corre-se o risco de transformar a Liturgia em uma auto-celebração da comunidade.

No entanto, a correta ação da Igreja consiste em entrar na ação de Cristo, em inserir-se na obra daquele que recebeu a missão do Pai. Por isso, recebemos “a plenitude do culto divino”, pois “a sua humanidade foi, na unidade da Pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação” (No 5). A Igreja, portanto, Corpo de Cristo, deve tornar-se um instrumento nas mãos do Verbo. Este é o sentido último do conceito-chave da Constituição Conciliar: “participatio actuosa” [a participação ativa]. Tal participação da Igreja significa tornar-se instrumento de Cristo Sacerdote, com a finalidade de participar da Sua missão trinitária. A Igreja participa ativamente da ação da Liturgia de Cristo, na medida em que ela se faz Seu instrumento. Neste sentido, a expressão “comunidade celebrante” não é desprovido de ambiguidade e exige prudência (Cf. Instrução “Redemptoris sacramentum”, No 42).

Portanto, a “Participatio actuosa” não deve ser entendida como uma necessidade de fazer qualquer coisa. O ensinamento do Concílio, sobre este ponto, tem sido frequentemente deformado. Enquanto isso, trata-se de permitir que Cristo nos aceite e nos una ao Seu Sacrifício. Por isso, a “participatio” litúrgica deve ser entendida como graça de Cristo, que “associa sempre a si a Igreja” (No 7). E é Ele a quem pertence a iniciativa e a competência. A Igreja “invoca o seu Senhor e por meio d´Ele rende culto ao Eterno Pai” (No 7).
O sacerdote, portanto, deve tornar-se, um instrumento que permite que Cristo transpareça. Assim, como recentemente nos lembrou Papa Francisco, o celebrante não é apresentador de um espetáculo; não deve visar a simpatia da assembleia, colocando-se como seu principal interlocutor. Por sua vez, entrar no espírito do Concílio significa, fazer-se desaparecer e desistir de ser o centro do palco.

Ao contrário do que às vezes se acentuava, está em conformidade com a Constituição Conciliar, e até mesmo apropriado para que, durante o Ato Penitencial, o Hino do Glória, orações presidenciais e Oração Eucarística, todos – tanto o sacerdote, quanto os fiéis — voltem-se juntos ao Oriente, para expressar o seu desejo de participar da obra de culto e da Redenção realizada por Cristo. Tal modo de agir poderia ser duma maneira conveniente introduzido nas catedrais, que devem ser exemplos da vida litúrgica (Cf. No 41).
É claro que, há outras partes da Missa, onde o sacerdote, agindo “in persona Christi Capitis” [na pessoa de Cristo Cabeça] entra em diálogo nupcial com a assembleia. Este momento “cara-a-cara” tem como objetivo levar à relação pessoal com Deus, que, através da graça do Espírito Santo, tornar-se-á relação dos corações [‘coração-à-coração”]. Além disso, o Concílio propõe outros meios que favorecem a participação: “as aclamações dos fiéis, as respostas, os salmos, as antífonas, os cânticos, bem como as ações ou gestos e atitudes corporais” (No 30).

Um espaço para Deus
Uma leitura excessivamente rápida e superficial [da Constituição] levou a conclusão que é preciso agir de tal modo que os fiéis estejam constantemente ocupados. A contemporânea mentalidade ocidental, moldada pela tecnologia e fascinada pelos meios de comunicação de massa, desejou fazer da Liturgia uma obra, eficaz e produtiva, de pedagogia. Neste intuito tentava-se realizar celebrações de confraternização/convívio. As pessoas engajadas ativamente na Liturgia, animadas por motivos pastorais, tentam, às vezes, fazer dela um espaço didático, introduzindo na celebração elementos profanos e espetaculosos. Não vemos, por acaso, como multiplicam-se os testemunhos e aplausos? Acredita-se que isto favorece a participação dos fiéis, na verdade, porém, a Liturgia está sendo reduzida a um encontro humano.

“O silêncio não é uma virtude, nem o ruído um pecado, é verdade”, diz Thomas Merton, “mas a agitação, confusão e barulho constantemente presentes na sociedade moderna ou em certas liturgias eucarísticas africanas, são uma expressão da atmosfera dos seus [da sociedade – int.trad.] pecados mais graves, da sua impiedade e desespero. Um mundo de propaganda, de intermináveis argumentações, de inventivas, críticas ou mera tagarelice, é um mundo em que não vale a pena a si esforçar para devidamente vivenciar a vida. A Missa torna-se uma confusão barulhenta e as orações um ruído exterior ou interior“ (Thomas Merton, “O sinal de Jonas” ed. Albin Michel, Paris, 1955, pg. 322).
Corre-se um risco real de não deixar espaço para Deus em nossas celebrações. Caímos em tentação dos Hebreus no deserto. Eles tentaram criar um culto de acordo com a sua própria medida e grandeza. Não nos esqueçamos, porém, que acabaram se prostrando diante do bezerro de ouro.

Há necessidade de silêncio
É a hora de ouvir atentamente o Concílio. A Liturgia é “sobretudo o culto da Majestade Divina” (No 33). Ela possui um valor pedagógico, na medida em que é totalmente orientada à glorificação de Deus e prestar Lhe culto. A Liturgia nos coloca realmente na presença da transcendência Divina. A verdadeira participação significa renovar em nós mesmos aquela “admiração” que são João Paulo II tinha em grande consideração (Ecclesia de Eucharistia, No 6). Esta santa admiração, este alegre temor, exigem o nosso silêncio diante da Majestade Divina. Muitas vezes, se esquece que o santo silêncio é um dos meios indicados pelo Concílio para favorecer melhor participação da Liturgia.

Já que a Liturgia é obra de Cristo, se faz necessário que o celebrante introduza seus próprios comentários? É preciso lembrar que, quando o Missal permite uma intervenção, ela não deve se transformar num discurso profano ou simplesmente humano, num comentário mais ou menos sutil, sobre acontecimentos atuais ou numa saudação profana das pessoas presentes, mas ser uma exortação, muito breve, para entrar no Mistério (Introdução Geral do Missal Romano, No 50). Com relação à homilia, ela é um ato litúrgico, que possui as suas próprias regras.

A “Participatio actuosa” pressupõe que se deixe o mundo profano, para entrar na “ação sagrada por excelência” (Sacrosanctum Concilium, No 7). Na verdade, “nós tentamos, com uma certa dose de arrogância, permanecer no nível humano, para entrar no nível divino” (Robert Sarah, “Deus ou nada”, pg.178).
Deste modo, é lamentável que o templo, em nossas igrejas, não é um lugar estritamente reservado para o culto Divino, que se entre nelas de vestes seculares e que o espaço sagrado não é claramente definido pela arquitetura. Já que, como ensina o Concílio, Cristo está presente na sua Palavra, quando ela é proclamada, é igualmente prejudicial que os leitores não usem roupas adequadas, que acentuem que eles não estão pronunciando palavras humanas, mas a Palavra de Deus.

O Mistério e a humildade
A Liturgia é uma realidade fundamentalmente mística e contemplativa, e, consequentemente, ultrapassa a nossa ação humana. Também a “participatio” é uma graça de Deus. Portanto, pressupõe a nossa abertura para o mistério celebrado. Assim, a Constituição recomenda pleno entendimento dos ritos (Cf. No 34) e, ao mesmo tempo, determina “que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em língua latina, as partes do Ordinário da Missa que lhes competem” (No 54).

De fato, o entendimento dos ritos não é um ato da razão humana, deixada à sua própria capacidade, e que deveria acolher tudo, compreender tudo, abraçar tudo. O entendimento dos ritos sagrados é um entendimento do “sensus fidei”que influencia a fé viva através do símbolo e faz conhecer através da “harmonia”, mais do que através do conceito. Esse entendimento pressupõe que nos aproximamos do Mistério com humildade.

Mas, será que vamos ter a coragem de prosseguir o Concílio até este ponto? No entanto, tal leitura, iluminada pela fé, tem importância fundamental para a evangelização. E deste modo, “mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para congregar na unidade à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor” (No 2). Ela [a leitura da Constituição] deve deixar de ser um lugar de desobediência às normas da Igreja. Falando mais especificamente, não pode ser uma ocasião para divisão entre os católicos. 

A leitura dialética da “Sacrosanctum Concilium”, ou a hermenêutica da ruptura num ou noutro sentido, não são frutos de um mesmo espírito de fé. O Concílio não queria romper com as formas de Liturgia herdadas da tradição, mas, ao contrário, queria aprofundá-las. A Constituição estabelece que “as novas formas surjam a partir das já existentes” (No 23).
Neste sentido, se faz necessário que, aqueles que celebram a Liturgia conforme o “usus antiquior”, o façam não no espírito de oposição, mas no espírito da “Sacrosanctum Concilium”. Da mesma forma, seria incorreto considerar a forma extraordinária do Rito Romano como procedente duma outra teologia, que não é Liturgia reformada.
Seria ainda desejável, que fosse inserido como anexo da próxima edição do Missal Romano o Ato Penitencial e o Ofertório da “antiquior usus”, com o objetivo de acentuar que as ambas formas litúrgicas iluminam uma à outra, constantemente e sem contradição.

Se vivermos a Liturgia com esse espírito, então, ela vai deixar de ser um lugar de rivalidade e críticas, para nos permitir participar ativamente nesta Liturgia “celebrada na cidade santa, Jerusalém, para a qual, como peregrinamos, onde Cristo está sentado [...], como ministro do santuário” (No 8).