quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Orar pelos defuntos é louvável.

Finados.
Do contrário ao que dizem os “conhecedores da Bíblia” é muito importante orar pelos falecidos, e não menos zelosamente que pelos vivos. Por que?
No lugar nenhum da Bíblia encontra-se qualquer menção que proíba ou desaconselhe a intercessão orante pelos falecidos. Mais ainda, a Sagrada Escritura (nos ambos Testamentos) recomenda a esta prática e a considera como um ato de caridade, cf.: 2 Mc 12,43-46; Tb 12,12; Mt 12,31-32 (evidencia que certas culpas podem ser perdoadas nesta vida, e outras, na vida futura); 2 Tim 1,15-18 (comparando estes versículos com o versículo 19 do capítulo 4, da mesma Carta, vemos que Onesífero já era morto, e São Paulo reza por ele, pedindo que o Senhor tenha misericórdia dele).

As culturas e religiões antigas pressentiam ou transmitiam, cultivando herdada dos ancestrais, uma convicção de que os mortos necessitam de ajuda. Por isso, lhes traziam alimentos e sepultavam, juntamente com seus corpos, as armas, instrumentos de trabalho e outros utensílios. “Essas crenças logo deram lugar a regras de conduta. Desde que o morto tinha necessidade de alimento e de bebida, pensou-se que era dever dos vivos satisfazer às suas necessidades. O cuidado de levar alimentos aos mortos não foi abandonado ao capricho, ou aos sentimentos mutáveis dos homens; era obrigatório” (Fustel de Coulanges, A Cidade Antiga, cap.II). Os antigos, não tiveram ainda, como nós temos hoje, o conceito de alma imortal, pois esta verdade foi nos revelada por Jesus Cristo, portanto “ajudavam” aos defuntos de acordo com a sua inteligência e conhecimentos da época.
Hoje sabemos, que o ser humano é uma criatura excepcional e superior de todos os seres existentes. A Sagrada Escritura sublinha este fato apresentando a descrição da criação do homem, como uma “obra de arte”, obra exclusiva e a mais perfeita, realizada como coroação da Obra Criadora de Deus (Gen 1,26ss). E mais ainda, o ser humano foi criado como “imagem e semelhança de Deus”.
O que isto significa? É que Deus é Espírito Perfeito, Invisível e Todo Poderoso. Uma vez na história, Ele se encarnou, assumiu a natureza humana (Deus se fez Homem) para libertar toda a humanidade (a sua natureza) do poder do Maligno. Mas, nem por isso, Deus deixou de ser Espírito Eterno (sem começo e sem fim).
Portanto, o ser humano, criatura feita de matéria, recebeu um “sopro de Vida Divina” (Gen 2,7) que é vida eterna, sem fim. Semelhança de Deus. O homem tem seu início de vida, mas não tem fim. Portanto, o que morre e é levado ao cemitério é a parte material do homem, cujo “Sopro Divino” (que chamamos de alma) não morre, permanece eterno, inatingível pela morte. 
E aqui chegamos ao nosso assunto. A humanidade foi atingida pelo pecado, que afetou a sua natureza, logo na origem (daí o “pecado original”). Assim, a imagem de Deus no ser humano foi desfigurada, mas não destruída. O homem ao escolher o caminho da vontade própria, rejeitando a obediência, tornou-se o oposto ao que Deus é. Tornou-se inimigo de Deus, não querendo “andar com Ele”. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” Rom 3,23. “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram... (Rom 5,12). 
A natureza humana, apesar de libertada do poder do Maligno, continua carregando a consequência (desfiguração) do pecado original, que se manifesta como inclinação para satisfazer a vontade própria. Por isso, todo homem vive em pecado, até ser libertado para fazer a vontade de Deus...
E se morrer em estado de pecado, dependendo do grau do desamor que vivia, (só Deus é quem sabe), pode correr o risco de viver eternamente no mundo do desamor, na linguagem popular chamado de inferno.

A Igreja, confiando na infinita Misericórdia Divina, supõe que os moribundos podem mudar a sua opção de vida e se arrepender dos erros, no último instante da sua consciência neste mundo, recomenda vivamente a oração por todos os falecido (Catecismo: No 16, 89, 958, 1032,1056, 1371, 1414, 1471, 1479).

Enquanto um homem vive na terra, está em poder de ajustar as suas escolhas, atitudes, preferências à lógica do amor. No instante da morte, esta possibilidade deixa de existir. É algo assim, quando para um relógio... Não será mais “ontem”, nem “amanhã”, mas tudo será AGORA. Depois da morte, como nos ensina o Catecismo (1021, 1022, 1033), apoiando-se na Sagrada Escritura, segue-se o Juízo Particular, no qual a alma toma destino escolhido na Terra e, enfim Juízo Final, que perpetua estas escolhas. Será o meu estado, meu destino aquilo que escolhi viver na vida terrestre e recebo no instante da minha Passagem para a Eternidade. Por esta razão, Jesus insistia para permanecer n´Ele, que é Vida, para não entrar no mundo do desamor (Jo 15,1-8).

Todos os que morrem, em qualquer pecado, antes de se unirem a Deus-Amor necessitam de purificação, o que no latim se chama: “purgare”, donde vem o termo português “purgatório”, lugar onde se encontram os santos-pecadores. É por eles que rezamos, expressando a nossa comunhão, amizade (quando a gente sofre, como é bom receber uma presença amiga, uma cartinha, um telefonema) e, assim encorajando aquelas almas a arderem por amor a Deus e aos seres humanos que ainda labutam na terra enfrentando todo tipo de tentações.
Rezamos também para agradecer a Deus pelos benefícios que nos tem concedido através deles e também, agradecemos a eles que se deixaram inspirar por Deus a serem instrumentos do bem. Rezamos ainda com espírito de reconciliação com falecidos, que as vezes nos causaram sofrimento, traumas, deixando dolorosas recordações. Esta oração é muito libertadora e fonte de saúde espiritual e física, para quem reza assim. É louvável orar pelos defuntos, pois assim vivemos a universalidade da Comunhão da Igreja Universal. “Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de purificação, também são membros da mesma comunhão dos santos, nós podemos ajudá-los, entre outros modos, obtendo para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas temporais devidas pelos seus pecados” (Cat. 1479).

Não se deve negar esta Comunhão com os defuntos, sem correr o risco de se desencontrar com a Palavra de Deus. “Se os mortos não interessam pelos vivos, como se explica que aquele rico nos tormentos do inferno suplicasse a Abraão que enviasse Lázaro a seus cinco irmãos ainda vivos, para convencê-los a mudar de vida e evitar de virem, por sua vez, àquele local de tormento? (Lc 16,27). Como podia Abraão ignorar o que se passava aqui na terra, visto que sabia terem os vivos Moisés e os profetas, isto é, seus livros, e que seguindo-se escapariam aos tormentos do inferno? Não sabia ele que o rico tinha vivido em delícias e que Lázaro, o pobre, vivera na penúria e sofrimento? Com efeito, disse: “- Filho, lembra-te de que recebestes teus bens em vida, e Lázaro por sua vez os males” (Lc 16,25). Abraão estava, pois, a par dos fatos concernentes aos vivos, não aos mortos. Pode ser que estes fatos ele não podia os ter conhecido no momento em que ocorreram, mas após o falecimento dos dois, e sob as indicações do próprio Lázaro” (da “Fé explicada”).

O Dia de Finados é o dia daqueles que já estão muito perto do Céu, perto da Glória com Jesus Ressuscitado, mas ainda necessitam da purificação interior. Oremos por eles e com eles. Lembremos deles na Eucaristia, visitemos cemitério, lucremos indulgências. Deste modo, também o nosso caminho para o céu será mais seguro, pois será acompanhado por todos aqueles que hoje se beneficiam do nosso carinho, caridade fé orante e solidariedade.