sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Réveillon ou fim de ano, ou substituto do real

O Natal continua...
Está para terminar a celebração do Natal, da Encarnação de Deus e sua vinda ao mundo dos homens. Estendida por oito dias quer nos ajudar a penetrar mais profundamente o Mistério da Misericórdia de Deus, que vem para livrar a humanidade do poder das Trevas. Quer nos ajudar, ainda, a abrir as nossas vidas para a vinda e presença do Salvador, contínua e abrangente de todas as dimensões da vida cotidiana.
O período da Oitava do Natal coincide com o dia 31 de dezembro, último dia do ano civil. As comemorações do “fim de ano” atingiram hoje um nível exorbitante e mágico. Não é nada de mal comemorar a passagem do ano, mas preocupante é que muitos cristãos deixaram arrastar-se por esta onda “laical”, esperando por este dia e preparando-se muito mais e melhor, do que para as celebrações do próprio Natal.
Todos sabem a que a cronologia hodierna é um modo convencional de medir e organizar o tempo. As datas comemorativas do ano civil também são convencionais (Dia das Mães, Dias da Criança, Dia do Agricultor, etc.) ou históricas (Dia da Independência).
Ao contrário, o Natal e outras Celebrações litúrgicas não são convencionais nem históricas, e o seu valor, superior de todas as comemorações, consiste em fazer acontecer o que está sendo celebrado (não comemorado!). Não se trata duma mera recordação e, na oportunidade duma homenagem, mas de um FATO que acontece, se renova e atualiza para o bem e felicidade do ser humano.
Quando falta esta compreensão as pessoas transferem os seus sonhos, expectativas e seus desejos do infinito (muitas vezes inconscientes) para o mundo de fantasia e magia, atribuindo a certos objetos, lugares ou datas poderes sobrenaturais, capazes de mudar as suas vidas e realizar os seus desejos. O “réveillon” (na língua francesa usado para descrever uma festa de passagem de ano) é um destes momentos.
As pessoas esperam o ponteiro “bater” a meia noite para se cumprimentar e desejar um feliz ano novo... E será que vai acontecer? Somente pela força do desejo vai mudar algo? Pode mudar, sim, e vai mudar, mas será efeito das escolhas (prudentes ou insensatas). Mas, se estas escolhas forem iluminadas pela Luz de Deus (efeito da comunhão efetiva e contínua com Deus) levarão a realização humana e proporcionarão uma paz que é sinônimo da felicidade.

Muitos se alienam tanto que, parecem não fazer distinção entre o Natal e o fim de ano, felicitando-se: “Feliz Natal e próspero ano novo”, ou algo assim. Grande é o perigo de trocar o primário pelo secundário, o essencial pelo acidental, a felicidade pela sensação ou pelo prazer que passam e deixam a... ressaca.

Então, um cristão não pode comemorar a passagem do ano novo? Poder, pode. Contudo, o cristão católico deve lembrar que, além da cronologia convencional do tempo (ano civil) primeiramente deve viver a cronologia litúrgica (Ano Litúrgico) e com isso não é correto não comemorar a passagem do ano Litúrgico, mas fazê-lo exclusivamente na passagem do ano civil. Pode se comemorar o réveillon com a devida e justa proporção entre o real e convencional, sempre com Deus, pois só Ele pode dar ao ser humano o melhor que este precisa.
Finalizando, faz bem pensar fazendo quaisquer coisas, para não de enquadrar na mentalidade de macaco, que só sabe imitar o que os outro fazem...



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Advento. Espera. Três vindas de Deus.

Tempo do Advento
Esta matéria ia ser escrita e postada no começo do Advento, mas o tempo passou... O Advento ainda continua e faz bem lembrar que este breve Tempo Litúrgico (4 semanas) dá o início ao Ano Litúrgico, no qual vivenciamos os Mistérios da Salvação (sobretudo a Encarnação e Páscoa) e consolida-se a nossa Vida, iniciada no Sacramento do Batismo.
O Advento possui três dimensões, pode-se falar de três vindas de Deus ao mundo.
A primeira é a dimensão histórica. Recorda-se o grande advento da humanidade, que se inicia logo depois do pecado original (Gen 3,15) e vai até a Encarnação de Deus em Belém.  Nesta dimensão pode-se notar um drama do desencontro. Impressiona, que o Povo Eleito de Deus (a Igreja da Primeira Aliança) por tantos séculos sustentado pela esperança da salvação, não reconhece e rejeita o seu Deus que vem para salvá-lo. Este perigo podemos correr também nós, quando nos satisfazemos com mero cumprimento de normas e celebração do ritos, mesmo sem o devido entendimento.
A segunda dimensão, talvez a mais importante, porque se refere ao bíblico “hoje”, é a vinda de Deus nos Sacramentos. Eles foram instituídos por Jesus, como sinais sagrados visíveis, sensíveis e eficazes (Cat.Igr.Cat. 1113-1134) da graça salvífica de Deus. Portanto, são indispensáveis para possuir a Vida e para que ela cresça produzindo frutos desejáveis por Deus (Jo 15,16).
“Os sacramentos são «da Igreja», no duplo sentido de que são «por ela» e «para ela». São «pela Igreja», porque ela é o sacramento da ação de Cristo que nela opera, graças à missão do Espírito Santo. E são «para a Igreja», são estes «sacramentos que fazem a Igreja» (31), porque manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus-Amor, um em três pessoas” (Cat.Igr.Cat. 1118).
No Sacramento do Batismo recebemos a Vida Nova, no Sacramento da Eucaristia ela é alimentada e consolidada, no Sacramento da Reconciliação esta vida é renovada, quando atingida pelo pecado. Foi por amor que recebemos estes “canais de graça”, mas podemos preferir e escolher os “canais do prazer”, repetindo assim o erro do Povo, na primeira vinda de Deus.
Enfim, a terceira dimensão do Advento é a segunda e última vinda de Deus ao mundo (“Parusia”). Quando o Filho do Homem voltar o mal será definitivamente eliminado e o homem poderá viver plenamente feliz, pois apara isto foi criado, para fazer parte da vida de Deus. O tempo presente deve servir para nos prepararmos para esta vinda e para prepararmos o mundo, pois somos “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-16). Igualmente, alguém pode pensar: “será que virá, mesmo?”, ou “quem sabe quando?”. Em consequência poderá viver como que Deus não existisse e o homem não precisasse prestar as contas das suas escolhas (Lc 12, 39-48). Corremos este risco, sobretudo nós, crentes, podendo nos enganar a nós mesmos substituindo a fé confiante e espera pela vinda do Senhor, pelos ritos e cultos... (Lc 21,5-11).
O Advento Litúrgico que estamos vivendo, ainda está na sua primeira fase, até o dia 16 de dezembro inclusive. O espírito deste período consiste na conversão pessoal (profunda mudança da mentalidade), como condição indispensável para encontrar-se com Deus que vem, agora, nos Sacramentos e que vem no sentido escatológico.
A segunda fase do Advento, que começa aos 17 de dezembro é a preparação imediata para a celebração do Natal, lembrando a Primeira Vinda e abrindo o coração para mais uma, e mais profunda acolhida de Deus no mistério da Encarnação. A partir deste dia, tendo os corações voltados a Deus, os cristãos enfeitam suas casas e ambientes em que vivem com os símbolos natalinos. O seu Natal não será de aparência, mas será um verdadeiro encontro com Deus que salva e traz a paz.