sábado, 20 de maio de 2017

Refúgio dos pecadores. Auxílio dos cristãos.

Na Ladainha Lauretana invocamos Maria como “Saúde dos Enfermos”, “Consoladora dos aflitos”, “Auxílio dos Cristãos”. Todas estas invocações expressam a confiança dos cristãos na poderosa intercessão da Virgem, junto ao seu Filho. A Maria, também é invocada como “Refúgio dos Pecadores”. Não há perigo de dizer assim, ou de degenerar o único papel do Cristo Salvador. A Maria não poderia ser saúde para os enfermos e nem o conforto para os aflitos se, antes de tudo, não fosse Refúgio dos pecadores.

Todos estes títulos, com os quais adornamos a Mãe de Jesus Cristo, têm a sua fonte no Amor misericordioso de Deus, que escolheu e preparou a Jovem de Nazaré para ser a Mãe do Seu Filho Unigênito. Assim, como a vinda do Verbo Eterno ao mundo, foi motivada pelo Amor misericordioso, assim, também o papel de Maria de Nazaré, na história da salvação, é o fruto do mesmo Amor Divino. Deus serve-se de todos os meios para salvar a humanidade da ilusão do pecado, ou seja, do caminho de vida que, exclusivamente, consiste na realização dos próprios sonhos e projetos. Foi por esta razão (por ser a expressão da Misericórdia Divina), que a Maria recebeu dos crentes de Seu Filho, o título “Refúgio dos pecadores”.

Como compreender corretamente este título e esta função da Mãe de Jesus Cristo? Deve ser óbvio, que é preciso fazê-lo no contexto de toda a Revelação (Tradição e Sagrada Escritura), que nos transmite grande paixão de Deus pelas criaturas humanas. Desde o começo da criação, Deus orienta os homens e alerta-os perante as consequências da eventual infidelidade à Comunhão com Ele (Gen 2,16). Quando esta acontece, Deus imediatamente estende a mão aos pecadores e promete a solução (Gen 3,15), o que se realizou na Pessoa e na Obra de Jesus Cristo. O importante é notar, como o vemos, também, na parábola do “filho pródigo”, que Deus não faz pouco caso da situação do homem no pecado. De maneira nenhuma diminui a gravidade do pecado, mas supera-a pela sua surpreendente e infinita misericórdia. “Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva”, diz a Sagrada Escritura (Ez 33,11).

O mesmo faz a Virgem Maria, sendo o “canal” da Misericórdia (por meio d´Ela veio ao mundo a Misericórdia Encarnada). Não procura (porque também não pode) isentar os pecadores das consequências de suas escolhas, ou fazer com que vivam tranquilos em seus pecados, mas, dependendo da situação de cada um, ajuda, encoraja e orienta para o Encontro com a Misericórdia Divina. A Virgem Maria, não é uma Mãe que tenta esconder ou diminuir a gravidade do pecado. Se quisesse fazê-lo toraria se conivente com o pecado, em vez de ser caminho para a Misericórdia de Deus.

Assim sendo, a atuação de Maria, como Refúgio dos pecadores, é condicionada pela situação individual de cada um, que entrou no mundo do pecado. Portanto, aquele que segue, com todas as forças, o Caminho de Deus mas, levado pela fraqueza, comete alguma infidelidade (na oração, com a língua, olhar ou pensamento), logo se arrepende e sinceramente “chora” a falta da vigilância e atenção. Sofre por causa dos remorsos, causados pelo pecado. Neste caso, Maria aparece como mãe compreensiva, que acolhe o filho errante e lhe mostra a saída, através do Sacramento da Reconciliação (Confissão).

Quando, porém, alguém já “criou raízes no mundo do pecado”, nem pensa no arrependimento, mas procura justificações para a sua situação (eu não quis, mas ele(a) me fez pecar; eu já sou assim, não dou conta; não adianta tentar eu mudar, porque “o mundo de hoje”...), o papel da Refúgio do pecadores é diferente. Não pode acolher, confortar e orientar para a Confissão, porque o infeliz não quer. Está instalado no mundo do pecado e ali “se sente bem”. Ora, ora, os sentimentos são instáveis e, muitas vezes, ilusórios. Assim como ninguém fica estável na vida em comunhão com Deus, igualmente acontece com quem foi dominado pelo mal. A tranquilidade do pecador, o seu “sentir-se bem” são ilusórias e aparentes. A verdade é que, a “instalad” no mundo do pecado está deslizando para o “fundo do poço”. De tempos em tempos, porém, ele dá-se conta do que acontece, e isso o assusta. Em tal situação, sente urgentemente a necessidade de ajuda. É nesse momento que a Nossa Senhora aparece para amparar tal infeliz. Sem reclamar da sua situação, mas também sem “passar a mão”. Esta bondade materna de Nossa Senhora, que aceita os filhos errantes pelo próprio fato de serem filhos, é uma verdadeira e atraente “Estrela da Manhã”. 

Há, ainda uma situação mais difícil de todas, no “serviço” maternal da Virgem Maria. É quando uma pessoa chegou ao ponto de se identificar com o pecado. Humanamente, não tem mais jeito. Tal pessoa, não só justifica o seu pecado, mas ainda, não admite a oposição às suas escolhas pecaminosas e seus vícios. Aqui, a atuação do Refúgio dos pecadores, consiste em intervir na hora em que a iminência do desabamento do mundo ilusório, construído sem Deus, nitidamente aparece no horizonte da vida (doença grave, acidente, ameaça de morte). Começa a avistar o engano no qual apostou a sua vida. Vê-se vivamente ameaçado nas suas seguranças e... não tem esperança. Nesse momento a Virgem Maria mostra-lhe que ainda há uma saída. A Misericórdia de Deus generosa e incondicional, cuja expressão visível é Ela mesma, a Mãe do Salvador. Intercede por ele, o encoraja para o arrependimento e conversão, através da Confissão.

Para ficar claro. A Maria não nos protege da “ira de Deus”, das consequências dos nossos pecados, mas do poder destrutivo do Maligno, que seduz à vida no pecado e, em consequência, à morte eterna.

À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém.

sábado, 13 de maio de 2017

Mulher. Sonho de Deus

Maria nos Mistérios de Deus
A mulher, desde a origem da vida, tem um papel excepcional. Isto é inquestionável, pois como afirma a Sagrada Escritura (resumidamente), quando foi chamada a vida, tornou-se a causa de alegria (felicidade) de Adão (representante da humanidade), mas também, foi um meio de desgraça, para si e para o resto da criação. Mesmo assim, a mulher continua sendo uma personagem única, e no processo de restauração dos danos causados pela desobediência, a ela foi confiado o papel principal.
Os exegetas identificam a mulher do Gênesis com a Mulher do Calvário e do Apocalipse. Tudo parece encaixar-se e aparece belo Plano de Deus, fonte de toda a vida, que faz a Vida sempre triunfar. Deste modo, no meio do “lixão” (a imagem do mundo depois da Queda) surge uma bela Flor, a Vida isenta totalmente dos rastos da morte, que aflige todos os seres humanos.

Uma Menina, Virgem de Nazaré, a Cheia de Graça (Lc 1,27-28) que, com toda a razão é chamada de Nova Eva. Ela é o primeiro ser humano, perfeito, idêntico àquele que vivia no Paraíso bíblico. De fato, desta forma, iniciou-se a Nova Criação e um Novo Mundo começou a existir. A Maria, criada por Deus com amor, como a Eva, é incumbida de ser a “mãe de todos os viventes” (Gen 3,20) no Mundo Novo. Dela é que nasce o Novo Adão, o Homem Puro e Deus Verdadeiro, o Emmanuel, Jesus, o Cristo de Deus, conforme a Vontade do Criador Lc 1,31-32).
A partir daquele momento o mistério de Deus e o mistério do homem, se entrelaçam, formam um novo mistério (como um matrimônio), o mistério da Comunhão, que comunica a vida ao homem (Jo 6; Jo 15,1-8; 1Jo 5,12. Deus presente na vida do homem e homem envolvido no Mistério de Deus, conforme afirma a Sagrada Escritura: “De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: ´Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados´” (Lc 2,13-14); “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele” (Jo 6,56). “Se alguém me amar, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14,23). No evangelho de João (Jo 15,5) encontramos as últimas exortações de Jesus. Ele insiste e repete: "Eu sou a videira e vós os ramos... Permanecei em mim e eu ficarei em vós".

Deus faz as coisas para existirem e todas elas são boas. A Maria de Nazaré foi criada por Deus para ser a Mãe da Humanidade do Seu Filho Unigênito, e continua sendo, bem como sempre será, a Mãe do Filho de Deus. Assim, como participou da Sua Vida, desde a Concepção, continua fazendo parte dela hoje (tendo passado o Calvário, a Ressurreição, o Pentecostes e acompanhado os primeiros passos do recém-nascido Seu novo Corpo, o Corpo Místico (1Cor 12,12-13.27; Col 1,18; Ef 5,23). Jesus Cristo está vivo e Maria vive n´Ele, como também vivem n´Ele todos os santos, do Céu e da nossa Terra.

Fazem parte deste Corpo Místico de Cristo: a Igreja Triunfante (constituída pelas almas que já se encontram no Céu); a Padecente (as almas que no Purgatório preparam-se para entrar na Glória) e a Militante, que somos nós, ainda “peregrinos” neste mundo. Como galhos da mesma árvore, vivendo do mesmo tronco, como membros do mesmo Corpo, ligados a Jesus, sua Cabeça, somos vivificados pelo mesmo Sangue. Isso é a Comunhão dos Santos. A união de todos, no Corpo, no Sangue, no Espírito.
Sendo assim, a Mulher Bíblica e Evangélica, está a serviço desta maravilhosa Comunhão, continua exercendo o papel de Mãe – em vista da vida plena para todos (Jo 10,10). Pela misericórdia do Pai Eterno, Ela é “instrumento” do Amor Infinito, para orientar todos a Casa do Pai (Jo 14,2-3), conforme comunicou aos Pastorzinhos em Fátima: “O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus” (13/06/1917).

Não é sem razão, que o papa João Paulo II decidiu consagrar a humanidade ao Imaculado Coração de Maria, diante da sua imagem de Fátima. Naquele Ato de Consagração ele disse: “Ó Mãe dos homens e dos povos, Vós conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que abalam o mundo, acolhei o nosso brado, dirigido no Espírito Santo diretamente ao vosso Coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva do Senhor aqueles que mais esperam por este abraço e, ao mesmo tempo, aqueles cuja entrega também Vós esperais de maneira particular. Tomai sob a vossa proteção materna a família humana inteira, que, com enlevo afetuoso, nós Vos confiamos, ó Mãe. Que se aproxime para todos o tempo da paz e da liberdade, o tempo da verdade, da justiça e da esperança” (“Veneração, agradecimento, entrega à Virgem Maria Theotokos” em: Insegnamenti di Giovanni Paolo II (14-VI-1981).

Não se deve ter receio ou medo de consagrar a vida a Maria, Mãe dos viventes, que quer o bem para todos. Há várias fórmulas para se fazer isto. Mas, o mais importante é o coração que quer amar. A consagração, é uma entrega, é um ato de amor. Não só para com Deus... Só é capaz de amar quem será capaz de se sacrificar pelo outro, ou seja, sempre e com todos os meios buscar o seu bem (não prazer, mas o bem verdadeiro).

O Papa Francisco, aos 13 de outubro de 2013, na Praça de São Pedro, pronunciou o seguinte Ato de Consagração:
Bem-Aventurada Virgem de Fátima,
com renovada gratidão pela tua presença materna
unimos a nossa voz à de todas as gerações
que te dizem bem-aventurada.
Celebramos em ti as grandes obras de Deus,
que nunca se cansa de se inclinar com misericórdia sobre a humanidade,
atormentada pelo mal e ferida pelo pecado,
para a guiar e salvar.
Acolhe com benevolência de Mãe
o acto de entrega que hoje fazemos com confiança,
diante desta tua imagem a nós tão querida.
Temos a certeza que cada um de nós é precioso aos teus olhos
e que nada te é desconhecido de tudo o que habita os nossos corações.
Deixamo-nos alcançar pelo teu olhar dulcíssimo
e recebemos a carícia confortadora do teu sorriso.
Guarda a nossa vida entre os teus braços:
abençoe e fortalece qualquer desejo de bem;
reacende e alimenta a fé;
ampara e ilumina a esperança;
suscita e anima a caridade;
guia todos nós no caminho da santidade.
Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção
pelos pequeninos e pelos pobres,
pelos excluídos e sofredores,
pelos pecadores e os desorientados;
reúne todos sob a tua proteção
e recomenda todos ao teu dileto Filho, nosso Senhor Jesus.
Amém.




segunda-feira, 1 de maio de 2017

Dignidade do trabalho. Dia do trabalhador.


O dia 1 de maio, em várias partes do mundo vem sendo marcado pelos protestos e manifestações, em vista de melhora da situação no “mundo do trabalho”. Um dos problemas mais graves, que hoje atingem muitos países do mundo, e o nosso principalmente, é a situação dramática do trabalhador. É o desemprego, é o trabalho precário e mal remunerado, é a necessidade de “fazer bicos” para completar os recursos necessários para honrar os compromissos e garantir uma vida digna a família. Também a migração e emigração têm as suas causas na precariedade das ofertas de emprego. Além disso, o “mundo empresário” tem os seus problemas, que as vezes repercutem no mundo dos trabalhadores. Apesar de tudo, deve-se lembrar a verdade exposta por João Paulo II, na encíclica sobre a dignidade do trabalho humano: “antes de mais nada o trabalho é “para o homem” e não o homem “para o trabalho”. (Laborem Exercens, No 6)

Na mesma encíclica, No 4, o Papa, diz: «A Igreja está convencida de que o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra», não só como um meio de sustento mas, também, como atividade específica que contribui para o desenvolvimento de cada pessoa e da sociedade. Por isso, o trabalho é um direito e um dever, decorrentes da natureza humana. Os cristãos têm, além disso, a razão bíblica, que é a verdade de que todo ser humano foi criado como “imagem de Deus” (Gen 1,27). Jesus Cristo, Deus Encarnado, pelo Seu exemplo e palavras, revelou que Deus continua sendo ativo e criador (Jo 5,17).

O primeiro capítulo do Gênesis, apresenta o “evangelho do trabalho”, como escreve João Paulo II, na citada encíclica, No 7. Este texto bíblico mostra o trabalho do homem como continuação da obra do Criador e não apenas o “ganha-pão”.

Também, o Papa Francisco (no Discurso aos Trabalhadores em Cagliari, aos 22/09/2013), vem lembrar ao mundo, que é muito importante “voltar a colocar no centro a pessoa e o trabalho. A crise econômica tem uma dimensão europeia global; no entanto, a crise não é apenas econômica, mas também ética, espiritual e humana. Na raiz existe uma traição ao bem comum, quer da parte do indivíduo, quer da parte de certos grupos de poder. Por conseguinte, é necessário tirar a centralidade à lei do lucro e do rendimento, e voltar a dar a prioridade à pessoa e ao bem comum”.

E nós? Sem dúvidas, é certo lutar pelas melhoras no mundo do trabalho, mas ao mesmo tempo é preciso que cada um olhe a si mesmo, a suas verdadeiras motivações de trabalhar, bem como a qualidade de todos os trabalhos cotidianos. Mesmo aqueles realizados dentro e ao redor da casa, na escola, no voluntariado. As melhoras no mundo começarão por aqui, pelo meu “pequeno universo”. Será que um salário injusto autoriza alguém a executar trabalhos malfeitos, ou praticar sabotagens? Se você não concorda com as condições oferecidas, não é obrigado aceitar o emprego. Porém, se aceitou, se firmou um compromisso, seja honesto e leal, sobretudo se és um cristão...