Uns dias atrás escrevi sobre o Querigma e a sua
importância. Aproveitando o mês de férias (também da Catequese Paroquial) volto
ao assunto da catequese e insisto na necessidade de revisão da concepção deste
estratégico ministério da Igreja, como também da maneira com está sendo
realizado.
Para provocar a discussão e alimentar a reflexão sobre
o assunto afirmo (obviamente generalizando) que a Catequese, na grande maioria
das paroquias e comunidades é uma Catequese “furada”. Um Ministério furado.
O que se encontra furado é defeituoso. Não segura o
conteúdo. Portanto, não serve. Não serve para o objetivo que deve alcançar.
Quando, em casa, algum objeto está com defeito tentamo-lo consertar. Se não há
conserto, mesmo com aperto de coração, o jogamos fora.
É óbvio que não quero dizer que a Catequese deve
ser abandonada. Pelo contrário, deve ser reorganizada (consertada) para servir
ao seu objetivo que consiste em consolidar o conhecimento fundamental da fé
católica, estreitar a relação pessoal com Deus, inserir na vida da
comunidade eclesial e comprometer com a missão da Igreja. Em soma: formar um
católico consciente da sua identidade.
Para quem serve a Catequese que se equipara a uma
aula escolar e consiste em transmissão de algumas informações (mais ou menos
próximas ao ensinamento da Igreja) sobre Deus e sobre comportamento moral dos
fieis?
No meu ver, que não serve a ninguém, porque não
serve para atingir o seu objetivo próprio. Por outro lado, até que serve, sim.
Serve para proporcionar aos ministros e responsáveis pela Catequese uma sensação
e convicção de cumprimento do mandamento de Jesus: “Ide e anunciai o
evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Proporciona uma sensação
de satisfação do dever cumprido e da continuidade da evangelização
iniciada por Jesus e pelos Apóstolos.
Uma sensação... É trágico contentar-se com uma
sensação e com a “consciência tranquila” sem questionar os efeitos deste
empreendimento. Será que realmente há desculpa da falta de frutos da Catequese
só pelo fato que “fazemos a nossa parte e o resto depende da graça de Deus”?
Enfim, “se a Catequese não funciona como deveria a culpa é das famílias que não
cooperam e que, em grande parte, são desestruturadas”. A culpa é do mundo, da
tv, da internet, etc. A culpa está fora de nós, fora da Igreja...
Será que realmente este tipo de argumentos
transfere a nossa pessoal responsabilidade para “culpados anônimos”? A
qualidade da nossa evangelização, catequese e testemunho de vida não tem nada a
ver? O que, então, pensar ouvindo as palavras de Jesus: “Não deis aos cães o que é
santo, nem jogueis vossas pérolas diante dos porcos” (Mt 7,6)?
São
constrangentes as vozes de preocupação, por parte do clero e dos leigos, com
relação a evasão dos católicos para as diversas seitas e igrejas
neopentecostais. Seitas inescrupulosas... De
fato são elas que destroem a Igreja ou a latente
ignorância religiosa dos católicos?
A
busca de novas estratégias, novos planos de evangelização (como aquele que, recentemente,
fez a Igreja distribuir um milhão de bíblias) parecem iniciativas
desesperadoras de quem está desorientado... Quer fazer “alguma coisa”, mas não
sabe direito por onde começar...
Quantos
documentos, inclusive valiosos, já formam publicados e quantos planos de ação?!
São tantos que mal se chega ao conhecimento de um e já vem outro... Todos são
importantes, sem dúvida. Poderiam ser úteis, mas o problema é que hoje ninguém
tem tempo... e, nas paróquias diminui, cada vez mais, o número de pessoas (que
já são poucas) dispostas a assumir qualquer compromisso.
O
Concílio Vaticano II “abriu as portas ao Espírito Santo” e soprou uma nova vida
à Igreja. Este grande evento foi encerrado há 40 anos, mas até hoje, a grande
parte de suas disposições não foi implantada na vida das paroquias e,
provavelmente, não é conhecida...
Já
passou da hora de descobrir a salvação (em vários sentidos) na Catequese
efetiva que vai formar discípulos e missionários do Evangelho, cientes da
sua identidade e vivamente inseridos no Corpo Místico de Cristo (1Cor 12,12-14).
Estes serão crentes e missionários pelo testemunho de vida
voltada ao bem, no amor despretensioso que abrange todas as pessoas e seres
irracionais.
Para
nada adianta lamentar-se que hoje “ninguém quer nada”. A verdade é que a
situação não vai ser melhor, na medida do passar do tempo. Se a Igreja não
evangelizar este mundo em que vive (não só através de documentos e declarações)
ele por si só não vais ser melhor. E as famílias também...
Parece que
na Igreja existe um fenômeno estranho de “caridade pastoral” (que na verdade é
a falta dela), e que consiste num minimalismo
(ante evangélico), por parte de alguns padres e leigos, que se expressa em “não sobrecarregar”. Isto é visível também na área
de Catequese. Refiro-me a algumas práticas comuns como: a Catequese de 02 “anos”
e só uma vez por semana, incluindo as faltas (Se somar os encontros formativos descontando
as férias, feriados, ECC-s, etc – sobraria o que? Uma “bela” verdade sobre a preparação
para vida cristã). A Catequese de adultos em preparação para os Sacramentos de
Iniciação, de 1-3 “meses”. Há ainda várias outras obras de “caridade pastoral”
referentes a solidez da catequese.
Levando
os ignorantes aos Sacramentos pensa-se evangelizar e ajudar na salvação, porque
os Sacramentos agem “ex opere operato”? Qual é objetivo deste trabalho? É
ajudar? Ajudar a quem?
Talvez
até seja uma ajuda, mas equivocada. Ajuda ao “senhor das trevas” e não ao
Senhor da Luz que quer levar todos à Verdade (Jo 8,32).
Será
que Jesus faria assim, como vários o fazem? Ou, antes buscaria sinas de fé?
Exigiria desprendimento e compromisso com a obra do Reino (Mt 6,33)?
Escrevo
estas palavras e o coração me doe porque a minha Igreja (que de fato é de Jesus
Cristo - Mt 16,18) não compreende a importância (tendo outras ocupações – sem
dúvida importantes) da Catequese efetiva, precedida pela evangelização (também
efetiva; se não for, ou seja, se alguém ao ser evangelizado,
não receber Jesus Cristo, como Senhor, não acreditar n’Ele e no Seu Plano
– não pode ser catequizado!1).
Assim vem tolerando o avanço da ignorância e, com isso, da indiferença e
impiedade.
Alguns
percebem este problema, mas por serem poucos, não se aventuram para fazer uma Catequese
evangélica (que comunica e assimila o Evangelho –JC) ou não sabem bem como
fazê-la. Acham que as mudanças neste campo deveriam partir “de cima”. Que os
bispos deveriam ordenar.
Isto me
parece uma desculpa inútil. Cada um tem de ter zelo evangelizador. Os bispos
não precisam ordenar mais, além do que já foi feito. Este é o trabalho nas
bases. Nas comunidades, centros comunitários e nas paróquias. Todo batizado,
sobretudo um sacerdote, pela própria vocação cristã tem de evangelizar e
catequizar, em primeiro lugar pela própria vida. Tem de ter a criatividade e
iniciativa. Estas, por sua vez, só existem lá onde há autêntico amor.
A
Catequese institucional (preparação para os Sacramentos) pode ser ministrada a quem
antes foi evangelizado. A evangelização é o encontro com Cristo, não a
Catequese. A Catequese é o Caminho com Cristo (aprendendo ser como Ele) e para
o Cristo (estreitando a união com Ele para se assemelhar, sempre mais, a Ele).
É
preciso amar o mundo como Deus o ama. Evangelizar e catequizar são as melhores
maneiras de expressar o amor. É a melhor contribuição que a Igreja pode prestar
para o mundo ser melhor (sem diminuir o valor da inestimável importância da
doutrina social, defesa da vida ou ecumenismo).
Sendo
cristão, evangeliza e catequista! Seja um catequista no ambiente em que vive,
descansa, estuda ou trabalha. Como? Simplesmente, tente amar. O amor é
inconfundível. Assim, como Deus ama a todos (e tudo que existe) um cristão deve
fazê-lo também. O amor sincero é a fonte da criatividade e de iniciativa.
Catequizar ou
enganar, eis a questão...,
diria Hamlet, da magnífica peça de W.Shakespeare. A Catequese que engana, em
vez de formar seguidores de Cristo, fabrica deuses falsos! Assim são as
pessoas, que “fazem” I Eucaristia, Crisma ou Catecumenato antes do Batismo.
Recebem um certificado, mas fazem o que querem, vivem do jeito que “dá a
vontade”, só pensam em si mesmos, sem se importar, até mesmo, com a Lei de
Deus. A sua “fé” depositam nos recursos de tecnologia, beleza do corpo, num
“futuro melhor”... São típicos “deuses” falsos de cujo capricho depende o
presente e o futuro... Eles mesmos caminham a ruina e, ainda, desencaminham os
inocentes e os de boa vontade, que muitas vezes tem sincero desejo de encontrar
a Deus.
PS.
Recomendo a leitura
da matéria anterior, sobre o Querigma:(http://sejasantoparaserfeliz.blogspot.com.br/2014/06/a-igreja-e-o-querigma.html)