sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal

É Natal cada vez que você sorri a um teu irmão e lhe estende as mãos.
É Natal cada vez que você fica em silêncio para escutar o outro.
É Natal cada vez que você não aceita aqueles princípios que renegam os oprimidos à margem da sociedade.
É Natal cada vez que você espera com aqueles que estão desesperados na pobreza física e espiritual
É Natal cada vez que você reconhece com humildade os teus limites e as tuas fraquezas.
É Natal cada vez que você permite ao Senhor de renascer para se doar aos outros.
Madre Tereza de Calcutá

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Ano da Misericórdia. Jubileu. Ano Santo

Como todos sabem, aos 13 de março o Papa Francisco anunciou o Ano Jubilar, Ano da Misericórdia: "Decidi convocar um Jubileu Extraordinário que tenha o seu centro na Misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia".
O que é Ano Santo? Tem a sua origem no Ano Jubilar hebraico. A cada 50 anos, durante um ano inteiro (chamado ano sabático), era necessário libertar escravos, perdoar as dívidas e, entre outras exigências, deixar de cultivar as terras... Um ano de “descanso” (Lv 25,8).
A Igreja assimilou esta prática rica em conteúdo. Na tradição católica, o Jubileu também dura a um ano, mas tem um sentido mais espiritual. Consiste, sobretudo, na conversão interior (o que, enfim, leva a conversão social, ao novo tipo de relacionamentos) e no perdão dos pecados dos fiéis, quando cumprirem disposições prescritas pela Igreja (veja: Indulgências).
A palavra Jubileu vem do hebraico "yobel" que se refere ao chifre do cordeiro (servia como instrumento). No latim, o “jubileu” vem do "iubilum", que significa grande contentamento, grito de alegria.
A celebração de um Jubileu ocorre durante um ano, por isso, tal ano é chamado de "Ano Santo" ou "Ano Jubilar. O Jubileu, ou Ano Santo, pode ser ordinário ou extraordinário. É ordinário, quando a celebração ocorre a cada 25 anos, e o extraordinário, quando é proclamado pelo Papa, antes deste tempo, para celebrar algum acontecimento, de forma especial.

O Jubileu da Misericórdia, é um Jubileu extraordinário e foi iniciado hoje, no dia da Imaculada Conceição de Maria, com um gesto simbólico de abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro. O encerramento do Ano Santo será no dia 20 de novembro de 2016, na Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo.
No próximo dia 13 de dezembro, serão abertas as portas-santas nas catedrais e santuários do mundo, em comunhão com a Igreja de Roma. O gesto simbólico de abrir as portas revela a abertura e aponta para o encontro. Quando alguém esperado está para chegar, lhe abrimos a porta. Ao visitar alguém, somos recebidos com as portas abertas. Isto “representa deixar vir e, ao mesmo tempo, ir ao encontro. Passar pela porta da misericórdia também é revelar a busca pela misericórdia”.*
“A misericórdia faz parte do nosso dia a dia onde manifestamos nossas relações. Por isso, fazemos a experiência das frustrações, das ofensas, do encontro com os pobres e com aqueles que não possuem a mesma fé. Então, é na convivência diária que podemos perceber, a partir da misericórdia de Deus, que somos chamados a sermos misericordiosos como o Pai”, disse dom Leonardo Steiner, Secretário Geral da CNBB*.
  



domingo, 6 de dezembro de 2015

A Verdade existe

A Verdade existe
E ela é uma Pessoa,
Que quer ser conhecida,
Que ama todo ser humano
E que se chama Jesus Cristo

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Fé - Ignorância em crescimento (ritualismo, consumismo, verdade)

Nos dias 30 de novembro até 3 de dezembro, acontecia em Roma, a XIX Assembleia Plenária da Congregação para a Evangelização dos Povos (CEP). Os dados apresentados parecem são otimistas, pois apontam crescimento de batizados, no mundo inteiro. (O Prefeito da Congregação observou que "o maior aumento foi na África”. Ele disse que "em 2005, eram 153 milhões e em 2013 subiram para 206 milhões, um aumento de 34%, enquanto na América o aumento foi de 10,5% e 17,4% na Ásia".
Depois de ressaltar as "sombras e luzes” de cada um dos continentes, o Prefeito do Dicastério Missionário falou das prioridades, acentuando a preocupação com a difusão da mentalidade consumista, que “freia o entusiasmo, adormece as consciências e apaga as vocações”. Foi destacado, também, que um dos principais desafios é a proliferação de seitas que “aumentam em todos os continentes, alcançando as cidades, mas também povoados distantes, destruindo o que com esforço e zelo pastoral foi semeado pelos missionários e sucessivamente pelas Igrejas jovens”. (http://www.zenit.org/pt/articles/aumenta-o-numero-daqueles-que-nao-conhecem).
Pessoalmente, não vejo perigo na proliferação de seitas. Elas crescem, não por “possuem a verdade”, mas porque respondem às expectativas consumistas da sociedade e dos crentes-ritualistas. Elas se proliferam por causa da ignorância dos crentes católicos, acomodados, ensimesmados e servindo-se de Deus para se dar bem na vida. É uma antiga tentação (Mc 9,33-34; Mt 20,20-24), a maior consequência do pecado original.
O maior dos perigos é a mentalidade consumista, que, como disse o Prefeito da CEP “freia o entusiasmo, adormece as consciências e apaga as vocações”. As tentativas de catequisar alguém que só pensa em si e procura o que é mais fácil na vida, serão frustradas sempre. Por isso, não me entusiasmam relatórios e avaliações otimistas. Pode ser que cresça o número dos que se batizam e correm atrás das seguranças baratas na vida, mas temo que aumenta o número daqueles que não conhecem Jesus Cristo.
O que custa crer do jeito que falei acima? Crer que Deus existe, serve para que, se não houver a mudança de vida para entrar em relacionamento com Ele? Enquanto isso, aceitar Jesus Cristo como Senhor da vida, requer o “renunciar a si mesmo”.  Supõe desistir de realizar os sonhos próprios, em favor do Sonho de Deus (que é o Reino para todos). Assim como a Maria, José...(Lc 1,26-38; Mt 1,19-21).  É aqui que começa a fé. O crente é aquele que conheceu Jesus Cristo, O aceitou para ser o centro de sua vida e se comprometeu de construir o Seu Reino, pela força do amor.
O que fazer, então? O que deve fazer um crente de Cristo? Por onde começar? Fazer como fez Jesus. Primeiramente, convidar a conversão (Mc 1,14-15; 6,12; Mt 3,2) Só depois ensinar como viver a vida nova, de quem aderiu a Projeto do Reino de Deus. Quem não se converter não adianta perder o tempo, para ensiná-lo viver do jeito cristão, porque ele nunca irá fazê-lo (Mt 19,16-28). E se, porventura, realizar algumas das práticas dos cristãos, o fará pelo pragmatismo, em expectativa de retorno, dentro da sua mentalidade consumista. Ou, então, para ter mais conforto, sentir-se mais seguro, quanto a eventual ajuda que irá precisar de “deus” (criado conforme a sua mundivisão) (cf. Mt 20,21-24).
Vai buscar o conhecimento de Deus, somente quem acreditar no amor. Quem o experimentar, por parte de Deus e tentar corresponder, doando-se gratuitamente, como Deus o faz. Tal pessoa pode e deve ser ajudada para crescer no conhecimento de Jesus Cristo e, assim, tornar-se testemunha Sua.
Opor-se efetivamente ao avanço da ignorância é um desafio da evangelização em nossos dias.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Martírio no Peru (Sendero Luminoso, Beatificação dos Mártires)

Aos 9 de Agosto de 1991, no Peru, foram assassinados dois sacerdotes, franciscanos Conventuais, da província religiosa de Cracóvia, na Polônia, pelos guerrilheiros do movimento maoísta, Sendero Luminoso.

Frei Miguel Tomaszek nasceu em 23 de setembro de 1960, em Lekawica (Polónia). Depois da escola primária em sua cidade natal, cursou o ensino médio no Seminário Menor dos Franciscanos Conventuais, em Legnica. E em Cracóvia estudou a Filosofia e Teologia. Foi ordenado sacerdote aos 23 de maio de 1987.

Frei Zbigniew Strzalkowski nasceu em 03 de julho de 1958, em Tarnow. Entrou na ordem franciscana em 1979. Foi ordenado sacerdote aos 07 de junho de 1986. 
Aos 30 de agosto de 1989, ambos mártires, juntamente com o frei Jaroslaw Wysoczanski (que escapou da chacina, pois estava viajando) vieram ao Peru, a cidade de Pariacoto (norte do Peru), onde fundaram um convento franciscano.

Os frades viviam e exerciam trabalhos pastorais na região de Pariacoto, nos Andes de Ancash, onde viviam há onze anos.  Os guerrilheiros do Sendero Luminoso semeavam terror e assassinavam milhares de civis e autoridades, em povoados e cidades, com a finalidade de instaurar um regime comunista. O trabalho evangelizador dos frades, junto aos pobres de Pariacoto, era considerado uma ameaça pelos terroristas, pois os religiosos organizavam ajuda social, incluíndo a educação e a saúde, ensinavam o povo a trabalhar, bem como pediam a perdoar aos inimigos e construir a unidade, apesar das injustiças. Impediam que o ódio tomasse conta dos fiéis. E sem esse ódio, o Sendero Luminoso não teria apoio necessário, e não poderia contar com mais membros para a sua luta armada.
 
Os frades foram ameaçados várias vezes, com finalidade de abandonarem o trabalho pastoral, e, melhor se mudassem de lá, para outro lugar. Mas, por amor a Deus e ao povo, os irmãos não se deixaram intimidar. Foram acusados pelos guerrilheiros de “enganar as pessoas”, de “infectar as pessoas mediante a distribuição de alimentos da imperialista Caritas" e de adormecer “o ímpeto revolucionário com a pregação da paz”. 1

Aos 09 de agosto de 1991, a noite, um grupo de senderistas encapuzados, veio a Pariacoto, ao convento dos fardes, para “eliminar o problema”. Amarraram-lhes as mãos e os levaram na caminhonete da missão franciscana, junto com o prefeito da cidade. Em seguida, assassinaram a todos, na cercania do povoado Pueblo Viejo. Junto aos os corpos, deixaram um pedaço de papelão, com as palavras escritas pelos assassinos: "bem morrer, que falam de paz e lambendo o imperialismo." 2

Dias depois do assassinato, uma irmã religiosa, que colaborava na missão disse: “Permaneceram lá até o final. Isso não se improvisa, é um dom. Vi Zbigniew uns dias antes de seu martírio, perguntei-lhe se estavam ameaçados, sorriu e disse: ‘Não podemos abandonar o povo. Nunca se sabe, mas se nos matarem, que nos enterrem aqui’. 1

Depois de quatro anos do martírio, em 05 de junho de 1995, o bispo de Chimbote, Dom Luis Armando Bambarén Gastelumendi, SJ, autorizou a abertura do processo de beatificação de mártires da fé. Concluído o processo, os mártires serão beatificados no próximo 05 de dezembro, no Estádio Centenário de Chimbote.

Mais informações: www.beatificacionchimbote.org

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Fé igorante - Ignorância de Zaqueu

Quem é o Zaqueu? O Zaqueu histórico é um personagem da Bíblia (Lc 19,1-10). Um homem que vivia “tocando” a vida, no seu posto de funcionário público. Era “alguém” e, mesmo sendo marginalizado pelas autoridades da sua nação, dedicava-se ao seu serviço, para crescer na carreira. Não era muito religioso, pela situação em que se encontrava, sendo um colaborador dos invasores romanos, não podia frequentar o Templo. Apesar de não lhe faltar nada, pois era rico (Lc 19,2), sentia-se marginalizado, por causa da ignorância e indiferença com quais era tratado.

Um dia, a notícia inesperada e eletrizante, chegou aos seus ouvidos. Um mestre ambulante, chamado também de profeta, Jesus de Nazaré, estava entrando na sua cidade, Jericó. Já ouvia falar dele, mas nunca teve oportunidade de vê-lo. Quando soube, por onde estava passando, largou o seu escritório e correu atrás da multidão que cercava o Pregador.

Infelizmente, não conseguia ver aquele Rabi, pois era de baixa estatura (Lc 19,3). E o desejo de vê-lo dominava todo o seu ser. Deixando do lado, então, o seu status social, correu para frente e... como uma criança, subiu numa figueira, pacientemente esperando ali, Jesus passar (Lc 19,4).
O final da história é muito feliz. O Senhor hospeda-se em sua casa, para a alegria do próprio Zaqueu, dos seus companheiros errantes e para o escândalo de todos os “corretos”. Em seguida, acontece um milagre de comunhão. O Zaqueu, comovido, decide mudar de vida e recompensar todas as faltas cometidas. Enquanto isso, Jesus, anuncia que assim, “hoje a salvação veio a esta casa” (Lc 19,9).

O Zaqueu, sou eu. Você pode ser, também, se não se conformar com o seu pecado (para ficar claro, não se trata de uma atitude considerada como tal, mas do egocentrismo, raiz de todo mal).
Agora, neste tempo de graça, o Tempo do Advento, o Senhor nos fala, como falou a Zaqueu: “Desce depressa”. Desce da altura da sua megalomania, do seu egocentrismo e ganancia... Desce das suas expectativas arbitrárias e das preocupações. E continua: “hoje EU devo ficar na tua casa” (Lc 19,5). Eu no centro. Todo o resto, que compõe a tua vida deve servir a tua verdadeira felicidade, para qual fostes chamado a vida, e que está em Mim.

A ignorância de Zaqueu o mantinha na margem da vida, mesmo que tivesse muitos bens materiais e podia comprar quase tudo (já que era “muito rico”, Lc 19,2). A ignorância dele era vencível e, graças a sua determinação, foi vencida. O homem teve uma experiência excepcional, que provavelmente nunca imaginava. É assim que Deus faz com a gente. Basta, não teimar na ignorância, basta não se conformar com o pecado.

Zaqueu é um modelo universal de como se posicionar perante a ignorância. As suas atitudes, seus passos até encontrar Jesus, formam um itinerário para toda pessoa. Nos dizem que não há situações sem saída. É preciso ter a esperança, pois a vida da gente é preciosa nos olhos de Deus e Ele fará tudo, para nos encaminhar para direção que conduz a felicidade. O importante é que, de fato, não nos acomodamos e não queiramos permanecer na ignorância. É preciso, como Zaqueu, superar as conveniências, vergonha, conforto, comodismo... O sacrifício é indispensável. Este é processo e o tempo de esperar, faz parte dele.

domingo, 29 de novembro de 2015

Ano Litúrgico

Querendo definir, pode sie dizer que, o Ano Litúrgico é um modo de cronometrar, ou melhor, viver o tempo, que se divide em distintos períodos (Tempos Litúrgicos). Distintos, quanto ao tempo de duração, e quanto ao caráter específico de cada um. O Ano Litúrgico divide-se em seguintes Tempos (só para lembrar, porque, anteriormente já o fizemos): Advento, Natal, Tempo Comum (breve), Quaresma, Páscoa, Tempo Comum (até o fim de Ano, que é a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo). O mais extenso é o Tempo Comum, como que fosse o cotidiano da vida, em que os cristãos vivenciam aqueles grande Mistérios celebrados.

O objetivo do Ano Litúrgico, é viver na presença de Deus, o que proporciona a sintonia do crente com a dinâmica própria de cada Tempo Litúrgico. Pretende-se vivenciar o Seu Amor nos Mistérios celebrados e, assim, “assimilar” a vida eterna, a salvação, recebida gratuitamente do Filho de Deus feito Homem.
Sem dificuldade pode-se notar, pela comparação, que a dinâmica e o objetivo do Ano Civil, são diferentes. Enquanto a Ano Litúrgico “celebra” os Mistérios da fé, fazendo os reais e eficazes, o Ano Civil “comemora” os acontecimentos do passado e, também, os do tempo corrente.

Assim, com razão, pode-se dizer, que o Ano Litúrgico, ao contemplar e celebrar os mistérios da salvação, comunica a vida, constrói a comunhão fraterna entre as pessoas, suscita e alimenta esperança num “amanhã” melhor. Motiva e contribui para o bem da realidade temporal, em que a Igreja se encontra neste momento.

O Ano Litúrgico não nos prende ao passado, por mais glorioso que fosse (as memórias dos santos, também é para a inspiração e interpretação atual).  Não alimenta sentimentalismo pelos acontecimentos passados. Não é um saudosismo que pode anestesiar a iniciativa e criatividade.

A vivência do Ano Litúrgico, nos motiva para a ação, para iniciativa, para abertura e vigilância, em vista da “visita” de Deus que “há de vir” e, que já está no meio de nós, vindo ao nosso encontro incessantemente com Seu Amor, Sua Misericórdia e com a plenitude de Vida, que é comunhão com Ele. Deus nos “visita” para ficar, para fazer parte da nossa vida, Aguardando, como sempre, a nossa decisão, resposta... (Lc 1,26-38).

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Advento

A palavra “advento” significa “chegada”. Provém do verbo latino venho, venire – chegar e do prefixo “ad” – a um destino, à alguém. O advenire, portanto, que dá origem ao Advento, que significa “chegar a”.
O Advento é o tempo Litúrgico na Igreja, que dá o início ao Ano Liturgico1 e antecede o Natal. Os cristãos esperam a vinda de Messias-Salvador, em dois sentidos: como a gloriosa vinda no fim dos tempos e, como encontro com Ele, na Liturgia da celebração do Seu Natal, que pela força do Sacramento, faz este Mistério real e atual.
As quatro semanas deste primeiro tempo litúrgico, do ano novo, têm como objetivo recordar e vivenciar o Grande Advento da humanidade, que ansiosamente aguardava o Messias, a Encarnação de Deus na história da humanidade (a Sua Primeira vinda ao nosso mundo). Mas, sobretudo, quer ajudar despertar a consciência e abrir os corações dos homens para o Deus-Amor, que vem ao seu encontro. Ele vem sentido escatológico e no cotidiano de suas vidas, em todos os acontecimentos, encontros e na diversidade das experiências. Não só “virá”, num futuro desconhecido, mas vem, incessantemente (Ap 1,8).
As vindas de Deus sempre nos surpreendem. Ignoramos como e quando Ele virá. Uma vez vem na pessoa de um necessitado, outra, num parente ou vizinho importuno, ou ainda, na enfermidade e na perseguição. Por isso, Ele nos pede para vigiar, isto é: viver com os olhos abertos e ouvidos atentos (Lc 12,39; Mt 24,42; 25,13; 1Tes 4,16-17).
A primeira fase do Advento, que vai até o dia 17 de dezembro, possui caráter escatológico, ou seja, nos convida para preparar-se para o encontro com Deus, no fim da nossa existência terrena. Esta preparação requer a conversão da vida em pecado, para uma vida em comunhão, com Deus e com as pessoas. Os meios necessários para isto são: a oração, a escuta e a meditação, mais assíduas da Palavra de Deus, abertura generosa para o próximo, sobretudo necessitado.
A segunda fase, o restante do Advento, é voltada para a imediata preparação para o Natal de Jesus, celebrações do aniversário da Sua Encarnação.
Neste contexto, como não fazer uma crítica aos nossos governantes, que ainda, antes de começar o Advento, já antecipam o clima do Natal (eliminando o Advento), ao enfeitarem as ruas e os ambientes públicos, com decorações natalinas. Gastam, para isto, o dinheiro público, em valores altos, só para “comemorar” o Natal. Alimentam assim, o consumismo e a “febre de compras”, enganam as pessoas com um boneco, chamado de “papai Noel” (este já roubou a Festa de Jesus), e o Natal consideram como um evento cultural. Eu protesto, e insisto para não fazer este tipo de Natal. É incomparavelmente melhor reverter em benefício das pessoas realmente necessitadas e, estas são muitas, para não depreciar o estado de saúde pública, educação, etc.
Sei que há quem defenda esta prática (sim, dentro da Igreja), alegando que a sociedade virará pagã, se não cultivar tais costumes. Mas, porventura, esta sociedade é cristã? Afirmo que, não é um risco para responder: jamais! (Até os que se declaram cristãos, além dá escandalosa ignorância da doutrina, têm muito pouco, ou nada, a ver com a vida cristã). “Devemos voltar aos tempos dos primeiros cristãos: eles enfrentaram um mundo pré-cristão; nós estamos enfrentando fortemente um mundo pós-cristão... Temos necessidade de recomeçar a partir da pessoa de Jesus e ajudar humildemente os nossos contemporâneos a experimentar um encontro pessoal com Ele”. (http://www.zenit.org/pt/articles/cantalamessa-disse-no-sinodo-anglicano-estamos-enfrentando-um-mundo-pos-cristao?utm_campaign=diarioportughtml&utm_content=%5bZP151126%5d%20O%20mundo%20visto%20de%20Roma&utm_medium=email&utm_source=dispatch&utm_term=Image).

E novamente pergunto: estes investimentos para “fazer” Natal nos espaços sociais vai levar alguém à conversão, que é uma condição, indispensável, para VIVER o Natal? Porventura, considerando o Natal como um evento cultural, não contribuímos para a dessacralização deste grande Mistério? Em vez de evangelizar o mundo (levar-lhe a Pessoa de Jesus), queremos oferecer-lhe as “carcaças” das nossas lembranças religiosas? Isto não é honesto e, além disso, acarreta a responsabilidade.
O Advento, que agora começamos, deve nos servir para a preparação, sobretudo do coração e da alma, para acolher o Filho do Pai Eterno que vem (Ap 1,8). É o tempo para pensar no estado de nossa vida religiosa (verificar e consertar a qualidade de vínculos com Deus), moral (abandonar as práticas conflitivas com a Lei de Deus e amar mais), relacionamentos (com as pessoas e com as coisas). Estes âmbitos devem estar preparados para receber com dignidade o Dom do Pai Eterno, O Menino-Salvador.
A Liturgia e os ambientes celebrativos, em nossas Comunidades, são modelos e inspirações de como viver o Advento no espírito cristão e com proveito (a simplicidade, o recolhimento mais silêncio, reflexão sobre o sentido da vida). Estes valores devemos tentar vivenciar em nossa vida cotidiana, para não nos depararmos com a situação, que O Natal está chegando, o Advento começou e eu... continuo vivendo como antes, como que não houvesse nem o Advento, nem o Natal...
"Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto" (Fl 4,4). Este é o sentido e o clima do Natal. Alegrar-se, POR CAUSA DO SENHOR!

1/ Sobre o Ano Litúrgico já escrevi neste Blog. Veja abaixo.



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Igreja - O ignorante na Igreja

Ninguém tem muito apreço por uma pessoa ignorante, podemos afirmar com grande grau de probabilidade, até porque o ignorante se considera o mais sabido. Vai dogmatizar desde o esporte, pela política, terminando, sempre, na religião. Vai sentenciar trazendo soluções “reveladoras” e “infalíveis”. Vai condenar uns e isentar outros, idealizando terceiros. Tudo conforme os dogmas da sua “sabedoria”.


Como mencionamos anteriormente, o ignorante não admite alguém questionar os seus estereótipos, mas vai multiplicar razões e argumentos, que fundamentariam, mais ainda, as suas convicções. Vai insistir que o seu objetivo é “ajudar” e fazer as coisas andarem melhor.

O exemplo que me vem na menta agora é o uso dos chamados “folhetos” ou “jornalzinhos” nas Celebrações litúrgicas. A prática provisória, muito difundida hoje, tornou-se um elemento “indispensável” para uma “boa participação”. O que me espanta, é que não há criatividade, não há preocupação de buscar outros meios, que de fato poderiam proporcionar condições de uma boa participação e da vivência dos Mistérios, depois das Celebrações. Insisto aqui na prática de levar a Bíblia, para fazer n´ela suas anotações e/ou inspirações... O uso destes “folhetos” de fato garante “as respostas” da assembleia, mas, será que nisto consiste uma verdadeira participação?

Neste contexto da ignorância na Igreja, penso ainda na catequese (outro dia falaremos mais do assunto). Muitas vezes reduzida a uma aula escolar e de qualidade duvidosa. Muitas vezes, tratada mais como um relicto do passado, ou um costume tradicional, que convém continuar, para os filhos e afilhados “fizerem” determinados sacramentos. E assim, se “fabrica” caricaturas católicas, em vez de formar, cristãos, discípulos-missionários (independentemente da idade), comprometidos com Deus e a Igreja.
É doído falar assim, mas, acho que não se pode calar, enquanto o vício mortal de ignorância, que reduz a Igreja de Cristo, a um esconderijo de acomodados e conformistas, que se servem da ignorância para realizar os seus caprichos, ´com ajuda de Deus´, continuar “bem de vida” (Jesus chamava isto mais radicalmente [Mt 21,13]). Este vício deve ser desmascarado e combatido sistematicamente (não só “ad hoc”).

Além disto, deve se notar outro fenômeno muito preocupante. Ao contrário da ignorância generalizada, a ignorância religiosa parece ser bem vista. Para ela há muita compreensão, há generosa, mutua justificação das infidelidades na vivência da fé e impressionante solidariedade naquilo que é reprovado pelas normas evangélicas e/ou religiosas. Pode-se invejar como se atraem os ignorantes religiosos e como se apoiam nos seus juízos infalíveis e inquestionáveis.

A ignorância religiosa parece fazer parte de “boas maneiras” do “cristão e moderno”. Enfim, não há motivo de se orgulhar por não conhecer verdades elementares, dos princípios da fé, que são dominadas pelas crianças da catequese fundamental. Antes, é uma vergonha, no caso de um adulto oportunista. É uma humilhação.
Não seria isto uma obra do “pai da mentira” (Jo 8,44) que não mede esforços para afastar o homem da Verdade? Porém, se este não viver segundo a Verdade, vai parar no mundo da Mentira e caminhará para a destruição (Lc 19, 42-44).

Todas as religiões são boas, não preciso ir a igreja para rezar, para crer em Deus... Não gosto de ler, escutar palestras, ficar em silêncio...  Não pense assim. Busque, questione, pergunte. Aqui não é questão dos gostos. É um dever. “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29) diz Jesus. Aprendei a verdade para não viver na ignorância e nos estereótipos... A não ser que queres ser um “deficiente”, que por própria opção deixa condicionar o seu “hoje” e o “amanhã” pelo saber dos outros...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

oração-vida

O Abba Ló veio a abba José e disse-lhe: "Abba, na medida do possível sigo a minha regra imutável: um pouco jejuo, oro, medito, tento ficar recolhido. Assim, como consigo, tento purificar meus pensamentos. O que deveria fazer além disso?”.

O velho levantou-se, esticou as mãos para cima e seus dedos se tornaram como as dez tochas. Ele disse: "Se queres, torne-se você todo, como um fogo".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

Orar sem cessar

Ao Santo Epifânio, Bispo de Chipre, o abba do seu mosteiro, que foi na Palestina, mandou a notícia: "Graças a tuas orações não temos negligenciado a regra, e zelosamente celebramos o ofício Divino, a terça, a sexta e a non, bem como as Vésperas".

Ele o repreendeu e disse: "Dá para ver que vocês não rezam em outro tempo. Quem é um monge verdadeiro monge deve rezar sem cessar ou cantar salmos em seu coração".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Oração incessante

Certa vez, alguns monges, chamados euxitos, quer dizer, orantes, vieram a Enaton, para ter com Abba Lucio. O velho perguntou-lhes: "Vocês se ocupam com algum ofício?" Eles responderam: "Nós não fazemos nenhum trabalho físico, mas, como diz o Apóstolo, nós oramos sem cessar". O velho perguntou-lhes: "Então vocês não comem?". "Sim, comemos", responderam eles. "Então, quando vocês tomam uma refeição, quem ora por vocês?", perguntou o velho. "Vocês não dormem?", continuava perguntando. "Dormimos", responderam eles. "E quem ora por vocês?", perguntava o velho. Não conseguiam encontrar a resposta. 
Ele lhes disse: "Perdoem-me, meus irmãos, mas vocês não fazem o que vocês dizem. Vou lhes mostrar que, trabalhando com as próprias mãos, eu oro constantemente. Assento-me e com a ajuda de Deus, umedecendo alguns ramos de palmeira, faço delas tranças, dizendo: ´Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua grande misericórdia; na imensidão da vossa compaixão apagai as minhas transgressões´. E perguntou-lhes: "Esta é uma oração ou não?". "É", disseram eles. 
Ele continuou: "Quando fico trabalhando o dia inteiro, orando em meu coração ou oralmente, consigo ganhar cerca de dezesseis centavos. Dois deles, coloco junto ao portão, e o restante vai para o meu sustento. Quem recebe aqueles dois centavos, ora por mim enquanto eu me alimento ou durmo. E, desta forma, pela graça de Deus, eu cumpro o que está escrito: ´Orai sem cessar´".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ignorante por escolha

As vezes encontramos pessoas que se fazem andarilhos, moradores de rua, optam pela vida solitária e sem uso de meios de comunicação, que se fazem pobres por escolha, etc. Cada um é livre, no entanto, achamos estranho, sentindo ao mesmo tempo, que isto nos atrai e, até, questiona. Por que fez aquilo? Como se pode viver privado destes bens? Será que isto tem sentido? Enfim, acabamos por admirar tal pessoa.

A questão é diferente quando se trata da ignorância por escolha... Neste caso, a opção do ignorante é livrar-se do conhecimento e entregar-se a mercê dos outros. Mendigar dos seus conhecimentos, contentar-se com estas migalhas (´esmolas´), iludir-se e, não poucas vezes, deixar-se manipular.
Hoje, não deveríamos encontrar pessoas ignorantes, em qualquer área de vida. O sistema de educação se estende por toda a parte e atinge até o povo das roças mais afastadas dos centros urbanos. Os meios de comunicação removem as barreiras de distância e de acesso às fontes de informações. Ou seja, não há mais razões para existir a ignorância invencível.

Podemos dizer que hoje, todo ignorante, é ignorante porque quer. Ou seja, faz opção pela ignorância. Parece ser um absurdo, mas não é. É bastante cômodo viver na ignorância. A pessoa que opta por não saber, na verdade quer se isentar da responsabilidade pelos seus atos e da busca da verdade. A busca da verdade exige esforço e sacrifício, sobretudo na hora de se deparar com ela. É um sofrimento. Agora é preciso escolher...  Ou viver a Verdade ou seguir a Mentira.

A opção por ignorância tem suas razões, mais ou menos, conscientes em cada indivíduo. A primeira razão é o comodismo. Para que saber mais? Para que querer mudar, já que “sempre foi assim”? Para que gastar com um livro, uma passagem ou sair de casa? “Até que eu quereria, mas é difícil...  “Se, um dia eu precisar vou perguntar o fulano, que sabe mais”...

A segunda razão é o medo de decidir e fazer escolhas. Ao adquirir os conhecimentos, sobretudo a Verdade, o indivíduo teria de escolher o bem objetivo (o pecado é um bem, mas subjetivo) e abandonar a conduta anterior, com as práticas que visam exclusivamente o interesse próprio e o prazer (cortar o que leva ao pecado, cf. Mt 5, 29ss). Teria que deixar a filosofia de viver para satisfazer os caprichos da vontade própria. Este medo é o medo de privar-se do benefício e prazer que proporciona a vida em pecado. O pecado é doce, mas... só no começo.  (“Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado”; Heb 11, 24-25). Ele sempre leva a morte (Rom 6,23; 1Jo 15,16; At 5,1ss;).

Todos os totalitarismos têm interesse para “formar” o povo na ignorância, para depois manipular sem restrições. É por isso, não medem esforços para alcançar este objetivo, empregando todo tipo de especialistas e preparando específicos programas educacionais. Que sejam “formados”, “passados”, recebendo diplomas, mas que não aprendam. Um homem inteligente não deve “formar-se” deste modo. Deve se conscientizar e mobilizar para buscar a verdade, empregar os meios disponíveis para isto. Deve buscar e questionar sempre, lembrando as palavras de Jesus: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará...” (Jo 8,32).

Certa vez, quando eu era estudante de teologia, numa reunião com a direção do seminário, me levantei a cobrar dos formadores, mais oportunidades para o aprofundamento da nossa espiritualidade. Os colegas me apoiaram, mas para a nossa decepção, a resposta foi muito surpreendente, pois se resumiu em aumentar a quantidade de celebrações comunitárias, que já não eram poucas... Que falta de imaginação! Que vista curta! Para todos é sabido que os eventos (celebrações também) comunitários só preenchem e alimentam, quando há autênticas e vivas relações dos indivíduos com Deus.

Vejo que, até hoje esta mentalidade “de preservação”, como um freio infernal, está bem de vida na Igreja e não deixa, a muita gente de boa vontade, entrar no caminho de busca e do encontro com Deus. O formalismo desmotiva e impede a busca do ideal (Mt 23,13).

Agora, eu me pergunto: não deveria ser humilhante a um crente viver na ignorância? Não conhecer direito os Mandamentos da Lei de Deus? Princípios morais? Não saber manusear a Bíblia? Não conhecer passos elementares da vida interior?
Ao menos, deveria incomodar e provocar o desejo de conhecer a verdade, para não se conformar com a vida na ignorância.
O coitado do Papa Francisco que convoca Igreja a “sair”, enquanto esta só quer a “tranquilidade, paz, saúde... Só quer levar a vida de um “bom católico”, viver a rotina das práticas devocionais, ter ”consciência ´tranquila´ de quem foi batizado, reza, vai a igreja... Será que os apelos do profeta Francisco, um dia, conseguirão surtir algum efeito?

Talvez seja lhe útil, meu caro Visitante desta página, verificar na própria vida, algumas questões: Por que não busca mais o conhecimento da verdade? Por que vai à igreja, se pode rezar em casa ou em qualquer outro lugar? Acha que se deixar de rezar Deus não vai amá-lo? Então por que ama até os maiores criminosos? Por que, e como está fazendo o sinal da cruz, quando entra numa igreja? Para que, e como está fazendo a genuflexão, naquele momento? Por que confessa os pecados, se não pretende largá-los ou, então, duvida no perdão por meio de sacerdote? Talvez, durante esta leitura, surjam lhe outros questionamentos. Tente enfrentá-los. Se quiser pergunte, que responderemos, com amor.

Outro dia voltaremos, ainda, a esta questão. 



Cristo Rei


“ Tu é o rei?” (Jo 18, 33ss; Mc 14, 61).
Eu sou Rei, mas, o meu Reino não é deste mundo... (Jo 18,36).

O meu Reino se apoia nos paradoxos. Quem quer ser rico, faça-se pobre. Quem quer ser grande, faça-se servo de todos. Os que querem viver na abundância, façam-se necessitados, etc. (Mt 5, 3-12).

Estes paradoxos são chamados de absurdos e não são aceitos pela lógica humana. Por isto é difícil entrar no Meu Reino (Mt 19,24). Só entra quem renunciar a tudo e a si mesmo (Mc 8, 34; Lc 14, 33).

Para entrar no Reino de Jesus é necessário adquirir um visto, que é a caridade (amor) praticada cordialmente, sem esperar nada em troca (Mt 6, 2-21).

É o grande problema (e drama) dos crentes modernos que desejam a Deus e suas bênçãos para a felicidade nesta vida, neste mundo... Enquanto isso, Jesus diz: O meu Reino não é daqui...

terça-feira, 17 de novembro de 2015

“Católico” & ignorante"?


Prefiro enfrentar um batalhão de agnósticos militantes do que dois “católicos” ignorantes. É um horror conviver com um ignorante e, pior, se este for um fanático, ao mesmo tempo. Obviamente, trata-se de ignorância vencível, o que significa culpável, porque o conhecimento está dentro do alcance do ignorante, mas ele não o procura. Ou seja, poderia vencer a sua ignorância, pondo-se em busca da verdade.

É um desabafo que quero fazer, primeiramente diante do meu Senhor, tendo em mente as experiências de contatos com as mentes limitadas e “cimentadas”.
É sabido que fica muito mais fácil ensinar a quem não conhece nada, do que tentar explicar ou ensinar a quem “já sabe”. Igualmente é difícil, tentar orientar a quem “leu um único livro” na vida, ou “já fez a catequese” e, eventualmente, o ECC... Ou seja, querer dialogar com quem se cercou de muro de “conhecimento” e vive num mundo dos estereótipos e preconceitos, se torna uma tarefa quase impossível. Como quem quisesse enfrentar uma cortina de concreto com um simples martelo.

A ignorância é o maior mal que se alastra pela sociedade moderna. É uma praga (maior das do antigo Egito [Ex 7,14-12,36]), que parece não ter tratamento, nem a solução. Ela atinge não só a sociedade, mas também a Igreja. Talvez seja melhor dizer, que aquela, causa e alimenta a ignorância na Igreja.
Vários são os âmbitos e níveis da ignorância. 

Quero mi deter na ignorância religiosa, não se esquecendo, também, da ignorância por parte da sociedade, até quanto ao fenômeno chamado Igreja. Propositalmente chamo-a de ´fenômeno´, porque a sociedade (em geral) considera a Igreja uma mera organização e baseia o seu conhecimento nos estereótipos e preconceitos, muitas vezes, originados nos dados históricos interpretados tendencialmente. É o que carece de conhecimento da verdade. Enquanto isso, a Igreja é um fenômeno quanto a sua origem e quanto a sua natureza, sendo visível e invisível ao mesmo tempo.

Retornando ao tema, quero destacar o quanto é preocupante a vastidão da ignorância religiosa. E mais ainda preocupa que, nada ou pouco, se faz para eliminá-la, já ela é uma barreira que, não só dificulta, mas impede o relacionamento com Deus (como pode haver relação, se não há conhecimento?). Não me refiro às intervenções paliativas (como aquela iniciativa de distribuição de milhares de exemplares de bíblias), mas às tentativas de soluções efetivas.

Lamentável que o mal da ignorância atinge não somente os crentes leigos, mas também vários religiosos, que não querem conhecer plena doutrina da fé (se quisessem tudo está no alcance da mão). Em vez de serem pensadores evangélicos, criativos e ativos (respeitando as normas da Igreja), contentam-se ser técnicos da ministração dos sacramentos. Isto resulta na preservação da ignorância dos crentes leigos, no individualismo arbitrário e em várias formas de sectarismo.
Impressionante, que, em nossos dias, a ignorância vem crescendo, apesar da crescente quantidade dos meios de conhecimento. A ignorância é uma “cegueira” que marginaliza o ser humano. Tal “cego” lembra um portador de deficiência da narração evangélica, que vivia na margem de vida, alimentando-se das migalhas que lhe davam transeuntes, até recuperar a vista (Mc 10, 46-53).

Sem dúvida, a vida do ignorante é difícil, assim, como o seu futuro. Além disso, corre o risco de se acostumar com esta vida na “toca” do saber subjetivo e julgar os outros como criatividores estranhos, com ideias e iniciativas atrapalhadas. As consequências disto são alastrantes, quando pensamos nos pais que se conformam com ignorância religiosa, professores, pastores. "Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?” (Lc 6,39). Igualmente, um ignorante não pode ser a “luz do mundo” (Mt 5,14). Antes, deve-se reconhecer necessitado da iluminação. Precisa querer enxergar (Mc 10,51).

As manifestações da ignorância religiosa, no senso estrito, são várias, por exemplo: rezar, “ir à igreja”, fazer parte dalguma pastoral – como atitudes rotineiras, mas desligadas da obediência a Vontade de Deus, porém, na convicção do indivíduo, suficientes para ser um “bom cristão”. O Papa Francisco chama isto de "mundanidade espiritual" (http://www.zenit.org/pt/articles/santa-marta-nao-sejam-cristaos-com-uma-vida-dupla?).

Estas práticas religiosas não se orientam ao conhecimento e à busca de Deus. A sua finalidade é projetada para alcançar “uma graça” ou a “paz” sonhada (não é a mesma que a paz de Jesus Cristo [Jo 14,27]). Não seria isto etiquetar-se de Deus, o que equivale instrumentalizá-Lo e reduzi-Lo apenas a uma ideia, enquanto Ele é uma Pessoa? As ideias não incomodam, são flexíveis, podem ser engavetadas, enquanto as pessoas questionam, incomodam e, as vezes, contariam. Deus também...

Um dos males mais graves da ignorância é o fanatismo. Ela é a mãe do fanatismo. Fique claro, que é diferente do radicalismo, que consiste em ter conhecimento e ser determinado no agir. O fanático se baseia no que “sabe” da boca dos outros, da própria imaginação, dos estereótipos e preconceitos. É capaz a maiores sacrifícios, para testemunhar e provar as suas “verdades”. Também é capaz, se for o caso, de “eliminar” os inimigos, que ameaçam as suas “verdades”, razão do seu ser. Um tal, não vai procurar a verdade, mas vai “consultar” as pessoas que pensam como ele, para se firmar nas suas convicções...

Não imagino a felicidade sem a busca da verdade. Vale a pena buscar, perguntar, questionar, mesmo que isto custe críticas, risos, comentários. Para o encorajamento lembro as palavras de Jesus: “encontrareis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

Espiritualidade - Mundanidade espiritual

O episódio de 2Mc 6,18-31, narra o martírio de Eleazar que não cede a pressão violenta do espírito da mundanidade. Prefere morrer em vez de renunciar princípios da sua religião e aceitar a pressão da lei “politicamente correta” com o seu “pensamento único”.
O Papa Francisco comentando hoje textos litúrgicos disse que: a "mundanidade espiritual" é a primeira armadilha na qual os cristãos podem cair: vive-se sem uma “coerência de vida”, finge-se uma atitude, mas, nos bastidores, se atua de “outra forma”.
O "demônio da mundanidade", é difícil de reconhecer “porque é como o verme que lentamente destrói, degrada, o tecido”, tornando-o inutilizável e quem é sua vítima, no final, “perde a identidade cristã”.
"A mundanidade leva para a vida dupla, aquela que aparece e aquela que é verdadeira, e afasta de Deus e destrói a sua identidade cristã”.
A identidade cristã, ao contrário do espírito mundano, não é "egoísta" mas, sim, "tenta cuidar com a própria coerência, cuidar, evitar o escândalo, cuidar dos outros, dar um bom exemplo”...


domingo, 8 de novembro de 2015

A morte e...?

O mês de novembro, com do Dia de Finados e semana da indulgência, suscita pensamentos sobre a fragilidade da existência humana e perguntas pelo “depois” do inevitável fim dela. “O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento.” (Hb 9,27). São duas verdades. A primeira é experimentada por todo ser humano e é recordada pelo cemitério. A segunda, é uma verdade revelada aos que acreditam em Deus.
Nada é mais óbvio neste mundo que o fato, que, um dia, todo ser humano vai deixa-lo e vai entrar no mistério da morte (para os crentes em Deus, é uma porta para a Vida). É muito impressionante, que isto, a mais evidente verdade, tem tão pouca influência para a vida cotidiana da gente. Quase ninguém leva a sério que a qualquer momento a morte pode interromper o curso de sua vida, desfazendo todos os planos e sonhos. “Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 24,42; 25,13). O homem sábio não se deixa surpreender, porque molda a sua vida, não se esquecendo da inevitável partida. Leva a vida de peregrino...
Conta-se (não sei se foi a verdade) que quando são João Bosco era adolescente e certa vez jogava bola com os colegas, alguém iniciou a conversa sobre o fim do mundo. Se o mundo fosse acabar hoje o que você faria? Cada uma dava uma resposta diferente: oração, arrependimento, reconciliação, perdão, ato de caridade, etc. E João Bosco ia dizer: “eu continuaria jogar a bola”. Estar sempre preparado é viver em paz interior.
A segunda verdade, o juízo. Na verdade o juízo acontece já neste mundo, no nosso “agora”, quando a gente faz escolhas. É nas escolhas que que definimos o nosso futuro. Se alguém, ao fazer suas escolhas não leva em consideração a ninguém (só pensa em si) e não quer corrigir a suas escolhas (arrepender-se) vai perpetuá-las e o Juízo de Deus não conseguirá justifica-lo. Pois a Justiça de Deus consiste em justificar o homem dos seus erros (pecados). Deus quer nos declarar justos diante dos Anjos e Santos.
O Juízo significa assumir a responsabilidade pela própria vida na terra (palavras, atos, omissões, desejos). Não seria prudente viver esta vida isentando-se da responsabilidade pelos próprios feitos, “como um homem sem juízo, que construiu a sua casa sobre a areia...” (Mt 7,26-27). Somente enquanto estamos neste mundo podemos decidir e modificar as nossas escolhas. Depois só nos resta esperar a recompensa... (Rom 2,6; 2Cor 5-10; Ef 6,8).
O juízo que, como a morte, espera-nos inevitavelmente, não deve nos aterrorizar, pois Deus é Amor. Deve nos motivar cada dia, a viver bem e criativamente o tempo, os dons que cada um tem e promover a unidade entre as pessoas. A criatividade faz a vida dinâmica, otimista e, enfim, realizada. É isto que Deus quer para cada um: a felicidade na criatividade motivada pelo amor.