sábado, 24 de janeiro de 2015

Deus - Procurar ?

Quando alguém diz que é preciso buscar a Deus, na verdade é Deus quem vai atrás do homem, desde o pecado original (Zc 1,3-4). Tenta orientá-lo e atraí-lo para a vida na união e no amor. Havia muitas tentativas no passado e, hoje também, Deus não se cansa de ir atrás do homem (Hb 1,1-2).

Nos Evangelhos pode-se ver Jesus, a Palavra do Pai (Jo 14,7-9), que sem distinção oferece o amor e a misericórdia a todos (Jo 10,10), não considerando a ninguém como inimigo. Há um só inimigo do homem (1Pd 5,8-9) do qual só Ele que nos libertar, o que manifestou em diversos milagres.

A Sagrada Escritura mostra que o povo numerosamente ia atrás de Jesus. Poderia parecer que aquele povo, de fato, reconheceu e aceitou a chance da salvação eterna que Deus lhe oferecia. “Todos estão te procurando” (Mc 1,37) diziam a Jesus.
A gente poderia sentir inveja daquele povo que corria atrás de JC. Quando, porém, paramos para analisar as suas motivações, logo percebemos que não foi por causa da vida eterna, mas por causa de interesses particulares, o que, inclusive, desmascarava o próprio Jesus (Jo 6, 26-29). O negócio próprio era a força motivadora para aquele povo correr atrás do Nazareno.

De lá para cá não mudou nada. A maioria das pessoas que “procuram” a Deus, ou das que vêm à igreja, o fazem por alguma necessidade de interesse pessoal. Enquanto não conseguem “se virar” sozinhas correm atrás de alguém quem “pode poder”. Daí, torna-se compreensível porque os mais ricos não “precisam de Deus” (Lc 12,15-19)...

Muitas vezes Deus socorre os homens nas necessidades do dia-a-dia e faz milagres. Sempre, porém, quer que o homem descubra o Seu Amor. Amor gratuito e generoso. Amor desinteressado. Assim, Deus quer ensinar ao homem a amar e fazer o bem desinteressadamente. Doar-se sem esperar nada em troca, eis a vida de Deus.

Mas Deus não atende todos os que O pedem. Por que? Por ser Deus, o Deus-Amor, Ele não pode alimentar e favorecer os instintos do “homem velho”, que só pensa em si mesmo. Tenta, incansavelmente, colocar o homem no caminho da vida, que é o amor. Quando vê que não pode fazer mais nada, vai adiante... (Mc 1,38).

Quando o homem não consegue passar por esta divisa-limite e, detém-se no amor próprio, Deus tem de deixa-lo com as suas “graças alcançadas” e tem de ir para “outros lugares” (Mc 1,38). Irá buscar os corações capazes de se dilatarem e amarem, do jeito de que foram amados.

O homem só será feliz se descobrir a lógica do amor, que é chave para a felicidade.
Deus procura o homem e, também, se deixa encontrar por aqueles que O procuram, no sentido de estarem abertos à Sua iniciativa salvadora. As vezes Ele “foge”, quando alguém quer apenas aproveitar-se e satisfazer os seus próprios caprichos. A maior barreira para Deus poder agir é a mentalidade materialista e utilitarista do homem moderno. “Só me interessa, só vale o que serve para mim”...

Quantas graças poderiam ter ido adiante, sem serem recebidas por mim? Quantas chances perdidas... Quanta coisa poderia ter mudado em minha vida, se eu pensasse menos em mim mesmo....

Talvez hoje, os apóstolos diriam a Jesus: “Ninguém mais te procura. Todos estão ocupados com os próprios negócios. Todos só se interessam por uma vida boa, tranquila. Vamos para outros lugares?”.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Jovem - o homem inquieto

Os jovens de todos os tempos possuem uma natureza inquieta. A sua inquietude incomoda a todos. Mas, ao mesmo tempo, todos os procuram e, sem eles, não imaginam o futuro.
Assim, deveriam ser também todos os cristãos. Homens inquietos. Sonhadores e batalhadores por um mundo ideal, que não existe para os intelectuais mas, de fato, é real e chama-se o Reino de Deus, iniciado por Jesus de Nazaré (Lc 17,20-21).

Ao ler os Evangelhos notamos que Jesus não chama à sua companhia as pessoas religiosas e piedosas do seu tempo, mas os jovens. Na juventude se encontra um potencial, que quando bem direcionado é capaz de provocar transformação do mundo (Mt 11,12). Por isso, Jesus trazendo o novo fermento (Mt 5,13-14) precisa de jovens. O Espírito Santo que Jesus concede aos Seus discípulos é o Espírito juvenil, Espírito de inquietude, que dentro de um tempo breve consegue evolucionar o mundo.

A juventude não é unicamente uma faixa etária mas, em si, é a qualidade do espírito do homem. É o espírito de inquietude e de rebeldia, que não se conforma com a realidade atual, como Jovis (ou Jupiter) da mitologia romana. Tende a mudar o mundo em que vive pagando, as vezes, altíssimo custo. Nunca se rende, por acreditar de verdade no ideal de um tal mundo novo. Só assim é possível mudar a realidade. Através da força juvenil, que não depende da idade (há muito jovens velhos, sem espírito juvenil)...

Precisamos hoje de jovens inquietos, criativos, não conformados. Lemos sobre eles na literatura, ouvimos histórias contadas pelos mais velhos. Isto não pode ser um passado. Este potencial juvenil está em nós. Precisa ser liberado. Hoje...

O oposto da inquietude é a estabilidade (quietude), que caracteriza a idade adulta e é sonhada por todos, até mesmo, pelos jovens de hoje. Enquanto isso, a vida é dinâmica pela própria natureza. É um movimento dinâmico e, enquanto isso a ansiedade pela estabilidade contraria o ritmo de vida. Portanto, pode-se dizer que o espírito de quietude é inconciliável com o espírito juvenil, espírito cristão, chamado para enfrentar o comodismo e construir um mundo novo, uma nova civilização - a do amor.

A estabilidade esconde em si a busca da paz, mas compreendida como sensação de bem estar. No fundo é uma pretensão prepotente de controlar tudo, dominar a vida. O homem se sente bem quando as coisas acontecem de acordo com as suas expectativas e desejos. Mas, realizando os próprios sonhos vai, também, realizar o projeto de vida que o Criador vinculou à sua existência? Aonde vai chegar se tudo neste mundo temporal é passageiro?

O homem guiado por Jesus Cristo, pelo Seu Espírito não domina tudo, e não sabe para onde vai (Jo 3,8), mas tem a certeza que o seu Caminho (Jo 14,6) é seguro. Que sendo guiado por Deus torna-se luz do mundo (Mt 5,14).

Torna-se homem novo num mundo velho, que corre atrás da satisfação de suas vontades egoístas e caprichas.
O cristão deve ser fermento desta terra (Mt 13, 33-35). Como um fermento que avança e transforma a farinha num alimento saboroso e sadio, assim também o cristão, ciente do poder transformador recebido no Batismo, lança-se generosamente e, pela própria vida, transforma a realidade que o cerca (ainda que não seja notável). O fermento tem o poder dentro de si. Com ele funcionando o mundo se tornará o Reino de Deus.

Senhor, quero ser homem inquieto. A inquietude está dentro de mim. Que eu não queira livrar-me dela. Não sei aonde pode levar-me. Mas, me ensina... Me conduza por este caminho de inquietude e incertezas, estando em minha frente.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Jesus salvador - O que queres de nós, Jesus Nazareno?

Certo homem, possuído pelo espírito mal (filosofia utilitarista e hedonista de vida) ouvindo ensinamento de Jesus exclama: O que queres de nós, Jesus Nazareno? (Lc 4,34). Obviamente, a pergunta não é de interesse ou de curiosidade. É uma pergunta causada por medo.

Aquele Homem, Jesus, questiona a minha hierarquia de valores, questiona os princípios da minha vida! Ele quer me destruir, pois, como posso viver privando-me de tantas coisas boas que já tenho, de tantas fontes de prazer e do bem-estar que compõem o âmbito da minha vida?!

O que queres de nós, Jesus?! Não queremos que nos livres do pecado. Estamos bem. Esta vida é doce. Nos dá gosto. Ela é concreta e... já está aqui. Enquanto, a Tua vida, o Teu Reino são apenas... promessas.
Diante de Jesus Nazareno não dá para passar indiferentemente. Pode-se aceita-Lo ou rejeitá-Lo. Tertium non datur, como diz a expressão latina. Não há terceira opção. Com Ele ou contra Ele (Mt 12,30).

Quem tem medo de Jesus? O Herodes e as autoridades (Mt 2,1-2), os Gerasenos (Lc 8,35), o Sinédrio judaico (Jo 11,47-52), o mundo de todos os tempos (sob o domínio do “príncipe deste mundo” (João 12:31)).
Têm medo d’Ele todos aqueles que o “príncipe deste mundo” conseguiu atrair ao seu serviço. Pensam que fazem a melhor opção da vida seguindo a lógica do efeito, da carreira, do sucesso e do “carpe diem”, como dizia filósofo francês do século XVII, o René de Descartes.
E nós, crentes? Também devemos ter medo? Não podemos perguntar: O que queres de nós, Jesus Nazareno? Sim, podemos. Até, mesmo, devemos perguntar assim: Jesus, o que queres de mim? O que devo fazer? (At 22,10). Qual é a Tua vontade? Para onde queres me enviar (as vezes para dentro da própria casa)?

Deus só quer que o homem, a Sua imagem e semelhança, seja verdadeiramente e plenamente feliz. O Inimigo, Pai da Mentira (Jo 8,44) incansavelmente repete a mentira do Paraíso de que Deus não quer a felicidade do homem. Que esconde a verdade diante dele (Gn 3,1-5). Incute a desconfiança no homem, para que este tenha medo de Deus (Gn 3,8-9) e, ficando longe d’Ele, permaneça na sombra da morte (Lc 1,68; Sl 23,4; Is 9,1). Que não conheça e não aceite a mão estendida de Deus, na Pessoa de Jesus Nazareno. O mundo das trevas tem medo da luz (Jo 1,9-11).

O que fazer? Jesus, venha para me salvar.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Batismo de Jesus - O maior pecador

O Batismo de Jesus no rio Jordão provocava e continua provocando perguntas e questionamentos. Entre outros, quer-se saber por que Jesus, sendo Filho de Deus, quis ser batizado como qualquer um pecador, não obstante a resistência do próprio João Batista.


Realmente, Jesus como Filho de Deus, não precisava ser batizado. Mais ainda, que foi Ele mesmo quem instituiu o Batismo, superior ao do João Batista (o que João reconhece: Mc 1,7-8).


Mas, Jesus, o Verbo de Deus, se fez homem e, como Deus-Homem, assumiu a natureza e toda a condição humana, para salvar e justificar a humanidade de todos os tempos. Foi por isso que nasceu de uma Mulher (ainda que fecundado misteriosamente), viveu numa família, trabalhou como qualquer operário, sentia cansaço, alegria, saudades, dor... Enfim, experimentou a incompreensão, rejeição, maledicência e condenação injusta que resultou na morte cruel, numa cruz.


Não poderia Jesus, mesmo sendo Deus, resgatar a humanidade e arrancá-la sob o domínio do Maligno se não morresse. Tinha que se cumprir a eterna Lei (Rom 6,23; Heb 9,22). E, ao assumir a condição humana, tornou se pecador. Mais ainda, tornou-se o maior dos pecadores, porque assumiu os pecados de toda a humanidade (1Pd 2,24).


Ao entrar no rio para ser batizado, juntamente com os pecadores comuns, Ele levou em Si todos os homens e mulheres e, ao mesmo tempo, indicou o caminho que leva à vida. O caminho de recomeço da vida, de voltar-se a Deus para receber o Espírito Santo e viver, com filho de Deus, fazendo o bem “por toda a parte” (At 10, 38-39).
Assim o pecado tornou-se a fonte de misericórdia...