sexta-feira, 16 de julho de 2021

 Estefânia (Fulla) HORAK

Fulla Horak nasceu em 1909 em Tarnopol (Polônia). Apesar de ter sido criada na fé católica, abandonou a Igreja, mas estava sempre em busca da verdade. Finalmente, depois de muitos anos de luta espiritual, ela encontrou Deus e Lhe confiou a sua vida. Depois, a Fulla, foi um verdadeiro suporte para muitas pessoas, mostrando-lhes o objetivo mais importante - o Céu.

Quando tinha apenas dez anos, seus três irmãos morreram nos campos de batalha da guerra. A sua família sofria muito, sendo obrigada a constantes mudanças de habitação. Estefânia, conhecida como Stefula, ou Fulla, em abreviação, fala disso numa das cartas a madre Helena, da congregação Sacré Coeur: “Ninguém nunca teve uma infância mais triste do que eu. Quando penso ao longo dos anos, parece-me que sou uma criatura que, estremecendo de frio, se retira para o canto mais afastado da jaula, para não enxergar a feiura do mundo. Mas, ninguém fez nada de errado comigo, apenas o cinza brutal da vida cotidiana cresceu e cresceu ao meu redor, e muitas vezes desejei ter nascido cega e surda”.

Estudou filosofia e, depois, trabalhou como professora de música. Não conseguia ser feliz, porque tinha no seu íntimo uns desejos implícitos, umas dúvidas e anseios: “A minha alma gostaria de tomar algumas pílulas para dormir e sentir logo a sua ação misericordiosa. Por que viver, então? Para que eu existo? " - escreveu.

A formação filosófica e a mente interrogativa de Fulla a fizeram procurar respostas para diversas perguntas sobre Deus e sobre a fé, que a perseguiam. Em resultado, as indagações levaram Fulla a rejeitar religiosidade superficial e tradicional, mas não a Deus, como afirma o seu sobrinho, pe. Tomasz Horak, a "Este outro Deus", que ela desejou com todo o seu ser. Evidenciam isso as anotações de Fulla: “Não acredito em nada que as pessoas acreditam. Não entendo como elas acreditam. Acho que, se Deus existe, Ele é muito maior de qualquer coisa que se possa dizer sobre Ele". Em outra passagem: “A Senhora sabe que, se Deus viesse a mim, eu O aceitaria com franqueza e deixaria que Ele me preenchesse? Se eu O sentisse, meu coração se aliviaria, o peso que o amassa se escoaria, e eu encontraria coisas indizíveis... Gostaria de acreditar em Deus... Que brinquedo cruel inventou Aquele que nos criou!... Sobretudo essa nostalgia ardente pela incompreensível mas, indubitável - Eternidade”. Talvez estas palavras sejam as mais comoventes: “Deus! Como eu Te odeio por não estares aqui!”

O ultimato da Mãe de Deus

Então, como é possível que uma ateia se tornou mística? Tudo começou em Częstochowa (Santuário de Nossa Senhora), onde Estefânia decidiu buscar a luz: “Se as pessoas obtêm graças relacionados com a saúde ou questões materiais, duma imagem pintada, porque eu não haveria tentar ali, obter uma luz para a alma? Mesmo sendo uma incrédula, decidi esgotar todas as meios recomendados, para não ter nada pelo que me censurar e, obter para mim mesma a prova da minha melhor vontade. Nem as fanfarras que acompanham a apresentação da Imagem, nem a multidão orante, nem o Rosto Moreno acima do altar me impressionaram de leve. Os donativos (votos) pareciam-me uma decoração propagandista, de mau gosto, e o padre pregando do púlpito - insincero. (...) Foi quando, de maneira fria, objetiva e clara, dei um ultimato à Mãe de Deus: se dentro de três meses - simplesmente, sem nenhum milagre, sem choques, sem nada de extraordinário - receberei fé e uma sensação interior de Deus - eu juro dedicar-me ao serviço do Céu, até a morte. " Na cidade de Lviv, ela fez a sua confissão e aguardava a resposta do Céu, pedindo: "Deus, se existes, dá-me luz!".

Encontros com os santos

E a luz veio. No entanto, não imediatamente. Em 10 de agosto de 1935, F. Horak participou da encontro de salão. Quando uma das mulheres, contando sobre um assunto pessoal bem sucedido, que atribuía a Mãe de Deus, Fulla não aguentou, expelindo de si, que acreditava na existência de Maria. Surgiu a discussão. A citada mulher dirigiu-se a Stefania: “Meu Deus! Como a senhora é infeliz por não acreditar!”. Ao que Fulla, irritada, respondeu com a pergunta: "E a senhora credita?" Então, a interlocutora respondeu com grande alegria: "Eu acredito!"

“Pela primeira vez na minha vida ouvi esta palavra pronunciada com tanta emoção, força e fervor. Há muitos anos eu mesma queria dizer assim" - anotou a F. Horak. Chocada, ela começou a chorar, e os que estavam reunidos na sala, viram uma luz acima de sua cabeça. Poucos dias após aquele encontro, a Fulla sentiu a presença de alguém do além-mundo. Era uma bela freira de hábito, a santa Magdalena Zofia Barat, fundadora da Congregação Sacré Coeur, que morreu 70 anos antes, tornando-se "santa senhora".

A Fulla, também foi "visitada" por cardeal Mercier, João Bosco, Teresa do Menino Jesus, Januário, Silvestro, André Bobola, João Vianney, Catarina Emmerich, e outros. Apareciam muito reais. A Estefânia tocava no hábito áspero de Santa Magdalena Sofia, via como os santos tampam a vela acesa, ao passarem na frente dela, ouvia quando um bonde passando na rua, abafava as suas vozes.

O ditado da Santa Senhora

Um dia, santa Magdalena mandou a Fulla para anotar suas palavras: “Pegue papel e lápis. Não ascenda a luz. Escreva. Acalme-se, vem ao meu lado. Sente-se mais perto. Sentei-me com o caderno no colo e, de repente, o lápis começou a se mover sozinho no papel. Eu estava apenas segurando. Não sei o que escrevia porque não ouvi nenhum ditado. Acenda a luz e leia". As anotações continham orientações para a Stefania. Depois vieram as revelações místicas que ela anotava cuidadosamente. Eram, entre outras, as mensagens e instruções dos santos e, também, as descrições das realidades do Céu, do Purgatório e do Inferno. Foi assim que nasceu o livro "A Santa Senhora", cuja publicação foi financiada pelo Marechal Rydz-Śmigły. Lamentavelmente, poucas cópias sobreviveram. A maior parte da edição foi destruída durante bombardeios à Varsóvia, em 1939.

Inferno na Terra

Quando começou a guerra e os soviéticos ocuparam Lviv, Fulla lecionava no segundo grau. Logo se envolveu em defesa da Pátria ocupada. Se tornou mensageira do Exército da Pátria. E embora as aparições tenham terminado, F. Horak assegurava que “seus amigos invisíveis estavam sempre com ela”. Logo a Estefânia junto com a sua irmã Zofia foram presas por contrabandear a Sagrada Comunhão aos presos e condenados pelos soviéticos. Os interrogatórios brutais e a sentença de dez anos de campo de trabalhos forçados, prejudicaram gravemente já debilitada a saúde de Fulla. Foi necessária uma cirurgia de estômago. Em condições primitivas, sem anestesia, sem as ferramentas adequadas, todo o estômago e o duodeno foram extirpados: “Depois do primeiro corte gritei, pois, estava consciente. Eu vi o médico tirar o meu estômago de dentro. Um estranho contentamento tomou conta de mim. Como se um nevoeiro invisível descesse de cima e me envolvesse estreitamente, que eu não sentia tanta dor... A cirurgia durou das sete da manhã às duas da tarde... ”. No campo de concentração a Fulla experimentou o inferno na terra.

A provação na enfermidade

Depois de retornar à Polônia, ela morava com a Zofia em Zakopane. “E aqui começou algo incrível. Para o seu pequeno apartamento, primeiro em Krupówki, depois na rua Chałubińskiego, começaram a chegar inúmeras pessoas. As vezes, chegando a várias dezenas por dia. Vinham buscar conselho, oração, esperança. (...) Aquilo não foi fácil - horas e horas, passadas conversando e curando espiritualmente as pessoas. Fulla muitas vezes perdia forças. (...).

Depois de uns 20 anos, aproximadamente em 1974, começaram distúrbios renais, retornando sem cessar. As forças encolhiam cada vez mais, e o número de pessoas não estava diminuindo. As vezes, era obrigada despedir as seguidas “avalanches” de pessoas. Foram vários anos de provações nesta enfermidade. Quantas vezes visitei a titia – diz o sobrinho, Pe.Horak, tantas vezes a encontrei sorridente, alegre, brincando. As vezes celebrei a Santa Missa no apartamento na rua Chałubińskiego. Ela pedia, então: "Só não demore, não tenho forças". Finalmente, chegou mais uma provação - a fratura do fêmur. Foram 14 meses de dolorosa prostração na cama, quando qualquer movimento fazia com que os fragmentos ósseos feriam dolorosamente os músculos da perna por dentro”- recorda pe. T. Horak.

Fulla Horak faleceu em Zakopane em 9 de março de 1993. Ela deixou dois livros: “A Santa Senhora” e “Os Invisíveis”, que contêm recordações dos anos 1938-1956 e estão repletos de grande fé, amadurecida no sofrimento.

TRADUÇÃO da fonte: Echo Katolickie



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