terça-feira, 6 de abril de 2021

Homem Pascal. Páscoa. Liturgia-Vida. Peregrino no mundo.

 Cristão - uma criatura “pascal”

Solenemente e alegremente estamos vivendo a Oitava da Páscoa (8 dias seguidos, após a Páscoa Redentora, que libertou o mundo do poder do Inferno). Nestes dias consolidamos e assimilamos cada vez mais este grande Mistério que nos quer comunicar a Vida Nova, a mesma do Cristo Ressuscitado.

É uma pena que a maioria maciça dos cristãos deixou de vivenciar a Páscoa, conservando apenas algumas tradições e/ou ritos, de valor secundário (Procissão Penitencial, Procissão do Encontro, “Enterrar o Cristo”, etc) ou, até mesmo, alienante (feriadão, bacalhau na Sexta-Feira Santa, ovo de chocolate).

Enquanto isso, a Páscoa é um Mistério e um dom da Graça Divina, ao qual temos o acesso através da fé, na Liturgia. A primeira Páscoa (Ex 12-13) teve o caráter profundamente litúrgico (o cordeiro, o modo como sacrificar e comer, o seu sangue, etc). Aquela Páscoa judaica, sendo a figura da Páscoa Perfeita e Universal, compõe o contexto da instituição da Páscoa Redentora de Cristo Jesus, da Nova e Eterna Aliança (Lc 22,20).

Os primeiros participantes da Nova Páscoa, estavam presentes ali, no Cenáculo, junto ao “Cordeiro Imaculado” (1Pd 1,19), que se imolava a Si mesmo, sob espécies do pão e do vinho (Lc 22,14-20) e que, em seguida, os alimentava com o Seu Corpo e Seu Sangue.

O avanço da descristianização e dessacralização da sociedade absorveu uma grande parte dos cristãos, que privando-se do Sacrum abraçaram o “profanum” no qual tentam satisfazer a fome da felicidade, latente em todo ser humano. As inquietudes do coração humano e esforços para ser feliz “apesar de tudo”, não podem ser bem sucedidas somente no plano natural, pois este mundo em que vivemos proporciona apenas meios, para se alcançar o Objetivo. E esse Objetivo é a Vida Nova trazida pelo Senhor Ressuscitado...

Já que o mundo moderno oferece inúmeros atrativos, para muitos começa a faltar tempo para a reflexão, para perguntas sobre o sentido da vida e das coisas, enfim, para preservar e cultivar um olhar sobrenatural. Este é alimentado pela profissão e celebração da fé em Comunidade, na Liturgia. Quando falta o interesse pessoal, falta também o tempo... Assim, começa a passagem para o ritualismo e magia. As riquezas do Mistério, em vez de alimentar, orientar e encorajar tornam-se uma mera “obrigação”, da qual sempre que for possível, procura-se livrar...

A Páscoa, como central acontecimento de fé, não é uma recordação histórica, como também não o é, o Natal ou o Pentecostes. São acontecimentos, que através da Sagrada Liturgia (sinais visíveis, sensíveis e eficazes) se tornam reais e nos proporcionam a participação deles, com os mesmos efeitos que tiveram no passado. Nos fazem mergulhar no determinado Mistério, elevando cada vez mais no grau de intimidade com o Mistério, que chamamos Deus.

Vemos que aqui não há lugar para a rotina ou ritualismo sem a vida. Mais ainda, tais atitudes podem ser uma rebeldia contra Deus, que é Vida e que através ritos litúrgicos procura atrair e envolver o homem neste mistério.

Por isso, a Páscoa, é muito mais que o primeiro Domingo da Páscoa na Ressurreição. Nem termina no dia seguinte, ou seja na segunda -feira. Ela dura três dias e... não termina. É o começo. Assim, como foi no Antigo Testamento. O Povo Eleito passou da terra da escravidão e da morte para a Terra Prometida. E a nossa Páscoa, também, continua, enquanto não alcançarmos a Terra Prometida, que é a Casa do Pai.

O cristão, portanto, deve ser um “homem/mulher Pascal”... Abraça o espírito pascal, como modo de viver. E isso não é um heroísmo, mas a consequência do Batismo (mergulhar, imergir). O batizado inserido em Deus na Santíssima Trindade, como que naturalmente é orientado para viver a vida seguindo o Caminho, Verdade e Vida, que é o Filho do Homem, o primeiro “Homem Pascal”. Ou seja, o cristão vive como um peregrino (Lc 12,35-38; 1Pd 2,11) que atravessa varias realidades mas, se dirige para o além...

Portanto, investir tudo para ser feliz neste mundo significa viver frustrado... A felicidade verdadeira está além...

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