Finados.
Do contrário ao que dizem os “conhecedores da Bíblia” é muito importante
orar pelos falecidos, e não menos zelosamente que pelos vivos. Por que?
No lugar nenhum da Bíblia encontra-se qualquer menção que proíba ou
desaconselhe a intercessão orante pelos falecidos. Mais ainda, a Sagrada
Escritura (nos ambos Testamentos) recomenda a esta prática e a considera como
um ato de caridade, cf.: 2 Mc 12,43-46; Tb 12,12; Mt 12,31-32 (evidencia que certas culpas podem ser perdoadas nesta vida, e
outras, na vida futura); 2 Tim 1,15-18 (comparando estes versículos
com o versículo 19 do capítulo 4, da mesma Carta, vemos que Onesífero já era
morto, e São Paulo reza por ele, pedindo que o Senhor tenha misericórdia dele).
As culturas e religiões antigas pressentiam ou
transmitiam, cultivando herdada dos ancestrais, uma convicção de que os mortos
necessitam de ajuda. Por isso, lhes traziam alimentos e sepultavam, juntamente
com seus corpos, as armas, instrumentos de trabalho e outros utensílios. “Essas crenças logo
deram lugar a regras de conduta. Desde que o morto tinha necessidade de
alimento e de bebida, pensou-se que era dever dos vivos satisfazer às suas
necessidades. O cuidado de levar alimentos aos mortos não foi abandonado ao
capricho, ou aos sentimentos mutáveis dos homens; era obrigatório” (Fustel de
Coulanges, A Cidade Antiga, cap.II). Os
antigos, não tiveram ainda, como nós temos hoje, o conceito de alma imortal,
pois esta verdade foi nos revelada por Jesus Cristo, portanto “ajudavam” aos
defuntos de acordo com a sua inteligência e conhecimentos da época.

O que isto significa? É que Deus é Espírito
Perfeito, Invisível e Todo Poderoso. Uma vez na história, Ele se encarnou,
assumiu a natureza humana (Deus se fez Homem) para libertar toda a humanidade
(a sua natureza) do poder do Maligno. Mas, nem por isso, Deus deixou de ser
Espírito Eterno (sem começo e sem fim).
Portanto, o ser humano, criatura feita de matéria,
recebeu um “sopro de Vida Divina” (Gen 2,7) que é vida eterna, sem fim.
Semelhança de Deus. O homem tem seu início de vida, mas não tem fim.
Portanto, o que morre e é levado ao cemitério é a parte material do homem, cujo
“Sopro Divino” (que chamamos de alma) não morre, permanece eterno, inatingível
pela morte.
E aqui chegamos ao nosso assunto. A humanidade foi
atingida pelo pecado, que afetou a sua natureza, logo na origem (daí o “pecado
original”). Assim, a imagem de Deus no ser humano foi desfigurada, mas não
destruída. O homem ao escolher o caminho da vontade própria, rejeitando a
obediência, tornou-se o oposto ao que Deus é. Tornou-se inimigo de Deus, não
querendo “andar com Ele”. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” Rom 3,23. “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no
mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens,
porque todos pecaram... (Rom 5,12).
A natureza humana, apesar de libertada do poder do Maligno, continua carregando a consequência (desfiguração) do pecado original, que se manifesta como inclinação para satisfazer a vontade própria. Por isso, todo homem vive em pecado, até ser libertado para fazer a vontade de Deus...
A natureza humana, apesar de libertada do poder do Maligno, continua carregando a consequência (desfiguração) do pecado original, que se manifesta como inclinação para satisfazer a vontade própria. Por isso, todo homem vive em pecado, até ser libertado para fazer a vontade de Deus...
E se morrer em estado de pecado, dependendo do grau
do desamor que vivia, (só Deus é quem sabe), pode correr o risco de viver
eternamente no mundo do desamor, na linguagem popular chamado de inferno.
A Igreja, confiando na infinita Misericórdia
Divina, supõe que os moribundos podem mudar a sua opção de vida e se arrepender
dos erros, no último instante da sua consciência neste mundo, recomenda
vivamente a oração por todos os falecido (Catecismo: No 16, 89, 958,
1032,1056, 1371, 1414, 1471, 1479).
Enquanto um homem vive na terra, está em poder de
ajustar as suas escolhas, atitudes, preferências à lógica do amor. No instante
da morte, esta possibilidade deixa de existir. É algo assim, quando para um
relógio... Não será mais “ontem”, nem “amanhã”, mas tudo será AGORA. Depois da
morte, como nos ensina o Catecismo (1021, 1022, 1033), apoiando-se na Sagrada
Escritura, segue-se o Juízo Particular, no qual a alma toma destino escolhido
na Terra e, enfim Juízo Final, que perpetua estas escolhas. Será o meu estado,
meu destino aquilo que escolhi viver na vida terrestre e recebo no instante da
minha Passagem para a Eternidade. Por esta razão, Jesus insistia para
permanecer n´Ele, que é Vida, para não entrar no mundo do desamor (Jo 15,1-8).
Todos os que morrem, em qualquer pecado, antes de
se unirem a Deus-Amor necessitam de purificação, o que no latim se chama:
“purgare”, donde vem o termo português “purgatório”, lugar onde se encontram os
santos-pecadores. É por eles que rezamos, expressando a nossa comunhão, amizade
(quando a gente sofre, como é bom receber uma presença amiga, uma cartinha, um
telefonema) e, assim encorajando aquelas almas a arderem por amor a Deus e aos
seres humanos que ainda labutam na terra enfrentando todo tipo de tentações.
Rezamos também para
agradecer a Deus pelos benefícios que nos tem concedido através deles e também,
agradecemos a eles que se deixaram inspirar por Deus a serem instrumentos do
bem. Rezamos ainda com espírito de reconciliação com falecidos, que as vezes
nos causaram sofrimento, traumas, deixando dolorosas recordações. Esta oração é
muito libertadora e fonte de saúde espiritual e física, para quem reza assim. É
louvável orar pelos defuntos, pois assim vivemos a universalidade da Comunhão
da Igreja Universal. “Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de purificação, também são
membros da mesma comunhão dos santos, nós podemos ajudá-los, entre outros
modos, obtendo para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas
temporais devidas pelos seus pecados” (Cat. 1479).

O Dia de Finados é o dia daqueles que já estão muito perto do Céu, perto
da Glória com Jesus Ressuscitado, mas ainda necessitam da purificação interior.
Oremos por eles e com eles. Lembremos deles na Eucaristia, visitemos cemitério,
lucremos indulgências. Deste modo, também o nosso caminho para o céu será mais
seguro, pois será acompanhado por todos aqueles que hoje se beneficiam do nosso
carinho, caridade fé orante e solidariedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário