quarta-feira, 19 de abril de 2017

Pascoa. Libertação. Ressurreição.

Oitava da Páscoa, extensão da Alegria Pascal

Na Liturgia católica, durante a Oitava da Ressurreição, ressoa o alegre "Aleluia!". A Igreja, novamente, anuncia ao mundo que Jesus, o Crucificado, está vivo! Aponta, que Ele pode ser a luz da esperança para todos aqueles que já perderam o gosto e o sentido de viver. Porque Ele morreu e ressuscitou não para ostentar o poder extraordinário que possui, mas para libertar os homens, cativos de todas as escravidões. Desta forma, na Ressurreição contemplamos o amor de Deus, que é o centro da nossa fé cristã.

A Ressurreição de Jesus Cristo Crucificado e Morto, é o fundamento da nossa fé. Também, é o alicerce da nossa esperança, de que teremos a vida após a partida deste mundo. Precisamente isto que lemos na Carta de São Paulo: “Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vocês dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou; e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm (1Cor 15,12-14). E mais ainda: “Pois, se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é ilusória e vocês ainda estão nos seus pecados (1Cor 15,16-17).

A madrugada do Primeiro Dia da Semana (Jo 20,1) revela ao mundo que a última palavra não pertence a morte, mas a vida! A vida não é submetida a corrupção. Esta destrói apenas tudo aquilo que é material. Porém, a vida destruída, não mais que biologicamente, volta a Deus, de onde saiu, pois exclusivamente Deus é a fonte de toda a vida (Sl 35[36],10). Portanto, a nossa certeza é esta: o ponto final da vida humana não é morte, não é o sepulcro, mas a vida!

As pessoas ressuscitadas por Jesus (a filha de Jairo, o filho duma viúva, Lázaro) voltaram à a vida “normal” antes de sua morte, mas no futuro tinham de morrer de novo. Enquanto a Ressurreição de Jesus, é um fenômeno absolutamente inédito. Esta Ressurreição é a passagem para a vida não sujeita mais ao poder da morte. Nenhum ser humano, mesmo os soldados que estavam vigiando o túmulo de Jesus, captou qualquer fenômeno externo deste acontecimento. Ninguém pode descrever como foi a Ressurreição de Jesus. No entanto, o mais importante que os sinais externos são os preciosos testemunhos de encontros com o Ressuscitado, das pessoas, que o tinham acompanhado antes de sua morte (apóstolos, amigos e seguidores).

Os cristãos ortodoxos não representam o fato da Ressurreição em si, mas pões o acento nos seus efeitos mais importantes, ou seja, a libertação do poder da morte. A Descida de Cristo ao inferno é uma das doutrinas cristãs e nós a professamos no Credo dos Apóstolos. Na arte cristã oriental, a descida ao inferno é apresentada na iconografia. Um dos ícones mais relevantes é Anastasis (do grego, "Ressurreição"), do século XIII. É um ícone muito
dinâmico e muito expressivo. No centro do ícone pode se ver, o Cristo vitorioso, sem marcas da paixão e do sofrimento, rodeado por estrelas, pisando sobre os derrubados portões do inferno e sobre os símbolos da escravidão do pecado, espalhados por toda a parte. Ele puxa pela mão o Adão e a Eva, libertando os de seus túmulos. Vemos que os joelhos de Cristo estão dobrados, mas ele não está andando em nenhuma direção. Parece que o sentido do movimento é puxar para cima. Enfim, a essência da Ressurreição de Cristo é levar toda a humanidade a vida plena em Deus.

No fim dos tempos (Mt 24,30-31) todos ressuscitarão, uns para a vida e outros para a morte (Mt 25,31-34,41,46), conforme as suas opções durante a vida terrena. Cada um entrará nesta Vida, na hora exata. “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda” (1Cor 15,21-23).

A Ressurreição de Cristo nos provoca a uma resposta, conforme escreve São Paulo: “Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, acreditamos também que aqueles que morreram em Jesus serão levados por Deus em sua companhia” (1Tes 4,14). “De fato, a uma ordem, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, o próprio Senhor descerá do céu. Então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, que estivermos ainda na terra, seremos arrebatados junto com eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares. E então estaremos para sempre com o Senhor. Consolem-se, pois, uns aos outros com essas palavras” (1Tes 4,16-18).

Enquanto esperamos a Vida plena na Glória de Deus devemos viver a ressurreição constante (porque o pecado nos atinge constantemente) nesta vida, na Terra. Viver em Cristo Ressuscitado, viver da Sua Misericórdia, tentar olhar e pensar como Ele. O grande Missionário, são Paulo traduz estas palavras em atitudes concretas: “Se vocês foram ressuscitados com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos, e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus” (Col 3,1-3ss).


Precisamos deixar Ele ressuscitar também em nós, e não somente na Liturgia, celebrada as vezes, desatentamente. Muito bem o expressa Alessandro Pronzato, sacerdote, jornalista, escritor e professor italiano: "Nós também precisamos ressuscitar Jesus. Deixemo-lo sair do túmulo no qual O fechamos. Libertemo-lo da escravidão das cadeias dos nossos preconceitos, feridas, decepções e das nossas frustrações. Purifiquemos o Seu rosto de aparência grotesca, de caricaturas imaginárias, com as quais O deformamos. Permitamos que Ele quebre os esquemas e visões mesquinhas em que O aprisionamos. Um Deus isolado na igreja. Prisioneiro de nossos rituais sem vida. Adormecido em nossas reclamações chorosas. Muito vigiado para não violar a paz pública e, em particular, que obedecesse a hierarquia de prioridades, que nós mesmos estabelecemos...
Será que permitiremos a esse Deus ser novamente um Deus em nós? Será que permitiremos que apareça como Ele é, e não como gostaríamos que fosse?
A celebração da Páscoa significa a aceitação do fato, de que Deus não concorda em permanecer na sepultura e de que não quer fazer o papel que lhe atribuímos" (tradução livre minha).

Vou concluir esta postagem com as palavras de Bento XVI, escritas no prefácio do "Catecismo da Juventude" ("Youcat"), com intuito de motivar os leitores desta matéria, ao esforço à reflexão, ao questionamento das próprias opções e escolhas, bem como, a revisar o último fim de tudo que se considera importante.
Eis as palavras do Bento XVI: “Deveis conhecer aquilo em que acreditais; deveis conhecer a vossa fé com a mesma paixão que um especialista de informática conhece o sistema operacional de um computador; deveis conhecê-la como um musicista conhece a sua obra; sim, deveis ser bem mais profundamente enraizados na fé da geração dos vossos genitores, para poder resistir com força e decisão aos desafios e às tentações deste tempo. Tendes necessidade do auxílio divino, se a vossa fé não quer secar como uma gota de orvalho ao sol, se não desejais sucumbir às tentações do consumismo...”.





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