Oitava da
Páscoa, extensão da Alegria Pascal
Na Liturgia católica,
durante a Oitava da Ressurreição, ressoa o alegre "Aleluia!". A
Igreja, novamente, anuncia ao mundo que Jesus, o Crucificado, está vivo! Aponta,
que Ele pode ser a luz da esperança para todos aqueles que já perderam o gosto
e o sentido de viver. Porque Ele morreu e ressuscitou não para ostentar o poder
extraordinário que possui, mas para libertar os homens, cativos de todas as
escravidões. Desta forma, na Ressurreição contemplamos o amor de Deus, que é o
centro da nossa fé cristã.
A
Ressurreição de Jesus Cristo Crucificado e Morto, é o fundamento da nossa fé. Também,
é o alicerce da nossa esperança, de que teremos a vida após a partida deste
mundo. Precisamente isto que lemos na Carta de São Paulo: “Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que
alguns de vocês dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há
ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou; e se Cristo
não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que
vocês têm” (1Cor 15,12-14). E mais ainda: “Pois, se os mortos não
ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é ilusória e vocês
ainda estão nos seus pecados (1Cor 15,16-17).
A
madrugada do Primeiro Dia da Semana (Jo 20,1) revela ao mundo que a última
palavra não pertence a morte, mas a vida! A vida não é submetida a corrupção.
Esta destrói apenas tudo aquilo que é material. Porém, a vida destruída, não
mais que biologicamente, volta a Deus, de onde saiu, pois exclusivamente Deus é
a fonte de toda a vida (Sl 35[36],10). Portanto, a nossa certeza é esta: o
ponto final da vida humana não é morte, não é o sepulcro, mas a vida!
As pessoas
ressuscitadas por Jesus (a filha de Jairo, o filho duma viúva, Lázaro) voltaram
à a vida “normal” antes de sua morte, mas no futuro tinham de morrer de novo.
Enquanto a Ressurreição de Jesus, é um fenômeno absolutamente inédito. Esta
Ressurreição é a passagem para a vida não sujeita mais ao poder da morte.
Nenhum ser humano, mesmo os soldados que estavam vigiando o túmulo de Jesus, captou
qualquer fenômeno externo deste acontecimento. Ninguém pode descrever como foi a
Ressurreição de Jesus. No entanto, o mais importante que os sinais externos são
os preciosos testemunhos de encontros com o Ressuscitado, das pessoas, que o
tinham acompanhado antes de sua morte (apóstolos, amigos e seguidores).
Os cristãos
ortodoxos não representam o fato da Ressurreição em si, mas pões o acento nos seus
efeitos mais importantes, ou seja, a libertação do poder da morte. A Descida de
Cristo ao inferno é uma das doutrinas cristãs e nós a professamos no Credo dos
Apóstolos. Na arte cristã oriental, a descida ao inferno é apresentada na
iconografia. Um dos ícones mais relevantes é Anastasis (do grego, "Ressurreição"),
do século XIII. É um ícone muito
dinâmico e muito expressivo. No centro do
ícone pode se ver, o Cristo vitorioso, sem marcas da paixão e do sofrimento, rodeado
por estrelas, pisando sobre os derrubados portões do inferno e sobre os
símbolos da escravidão do pecado, espalhados por toda a parte. Ele puxa pela
mão o Adão e a Eva, libertando os de seus túmulos. Vemos que os joelhos de
Cristo estão dobrados, mas ele não está andando em nenhuma direção. Parece que o
sentido do movimento é puxar para cima. Enfim, a essência da Ressurreição de
Cristo é levar toda a humanidade a vida plena em Deus.
No fim dos
tempos (Mt 24,30-31) todos ressuscitarão, uns para a vida e outros para a morte
(Mt 25,31-34,41,46), conforme as suas opções durante a vida terrena. Cada um
entrará nesta Vida, na hora exata. “Porque,
assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em
Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de
Cristo, na sua vinda” (1Cor 15,21-23).
A Ressurreição de Cristo nos provoca a uma resposta, conforme escreve São Paulo: “Se acreditamos que Jesus morreu e
ressuscitou, acreditamos também que aqueles que morreram em Jesus serão levados
por Deus em sua companhia” (1Tes 4,14). “De
fato, a uma ordem, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, o próprio
Senhor descerá do céu. Então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois
nós, os vivos, que estivermos ainda na terra, seremos arrebatados junto com
eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares. E então estaremos para
sempre com o Senhor. Consolem-se, pois, uns aos outros com essas palavras”
(1Tes 4,16-18).
Enquanto
esperamos a Vida plena na Glória de Deus devemos viver a ressurreição constante
(porque o pecado nos atinge constantemente) nesta vida, na Terra. Viver em
Cristo Ressuscitado, viver da Sua Misericórdia, tentar olhar e pensar como Ele.
O grande Missionário, são Paulo traduz estas palavras em atitudes concretas: “Se vocês foram ressuscitados com Cristo,
procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensem
nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos, e a vida de
vocês está escondida com Cristo em Deus” (Col 3,1-3ss).
Precisamos deixar Ele ressuscitar
também em nós, e não somente na Liturgia, celebrada as vezes, desatentamente. Muito
bem o expressa Alessandro Pronzato, sacerdote, jornalista,
escritor e professor italiano: "Nós também precisamos ressuscitar Jesus.
Deixemo-lo sair do túmulo no qual O fechamos. Libertemo-lo da escravidão das
cadeias dos nossos preconceitos, feridas, decepções e das nossas frustrações.
Purifiquemos o Seu rosto de aparência grotesca, de caricaturas imaginárias, com
as quais O deformamos. Permitamos que Ele quebre os esquemas e visões
mesquinhas em que O aprisionamos. Um Deus isolado na igreja. Prisioneiro de
nossos rituais sem vida. Adormecido em nossas reclamações chorosas. Muito
vigiado para não violar a paz pública e, em particular, que obedecesse a
hierarquia de prioridades, que nós mesmos estabelecemos...
Será que
permitiremos a esse Deus ser novamente um Deus em nós? Será que permitiremos
que apareça como Ele é, e não como gostaríamos que fosse?
A
celebração da Páscoa significa a aceitação do fato, de que Deus não concorda
em permanecer na sepultura e de que não quer fazer o papel que lhe atribuímos"
(tradução livre minha).
Vou
concluir esta postagem com as palavras de Bento XVI, escritas no prefácio do "Catecismo da
Juventude" ("Youcat"), com intuito de motivar os leitores desta
matéria, ao esforço à reflexão, ao questionamento das próprias opções e escolhas,
bem como, a revisar o último fim de tudo que se considera importante.
Eis as palavras do Bento XVI: “Deveis
conhecer aquilo em que acreditais; deveis conhecer a vossa fé com a
mesma paixão que um especialista de informática conhece o sistema operacional
de um computador; deveis conhecê-la como um musicista conhece a sua obra;
sim, deveis ser bem mais profundamente enraizados na fé da geração dos vossos
genitores, para poder resistir com força e decisão aos desafios e às tentações
deste tempo. Tendes necessidade do auxílio divino, se a vossa fé não quer secar
como uma gota de orvalho ao sol, se não desejais sucumbir às tentações do
consumismo...”.
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