segunda-feira, 23 de junho de 2014

Igreja & Querigma

Para muitos cristãos a palavra “querigma” soa estranho. O que é isto - dizem? Respondendo, pode se dizer que Querigma é a primeira evangelização, o primeiro passo para o conhecimento da Verdade e do novo, pleno sentido da vida.

A Igreja por muito tempo não valorizou devidamente a primeira evangelização, o Querigma (supondo, com toda razão, que a evangelização fundamental acontece no seio da família). “Querigma” vem da língua grega: κήρυγμα, kérygma – e significa: proclamar, gritar, anunciar. É o primeiro anúncio de Jesus Cristo. Trata-se de apresentar Jesus Cristo, morto, ressuscitado e glorificado com a finalidade de suscitar a fé e levar a conversão (a mudança de conduta na vida) para ter a experiência da vida nova, no seguimento de Jesus Cristo.

A Igreja, então, insistia na “sacramentalização” e na catequese, como meios de evangelização. Acontecia e, infelizmente acontece ainda hoje, que o catequizando assimilava, as vezes perfeitamente, a doutrina da fé e normas morais, mas lhe faltava o essencial – a fé! Somente aplicação da doutrina pode criar futuros formalistas, indiferentes ou fanáticos fundamentalistas da religião. Tem de se lembrar do princípio fundamental exigido por Jesus: “É necessário nascer do novo” (cf. Jo 3, 1-15).

Um novo conceito de evangelização e um impulso para ela trouxe o Concílio Vaticano II, depois o Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica "Evangelii Nuntiandi" (1975), como também, a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de Santo Domingo (1992) cujas ideias assumiu o papa João Paulo II, realizando uma Nova Evangelização, por meio de ensinamentos e da sua própria vida.

O Querigma deve levar a experiência pessoal de vida com Jesus Cristo. É uma vida nova, pois consiste em rompimento com a vida passada (seus hábitos e sua mentalidade) para viver, agir, falar e pensar diferentemente, no espírito do Evangelho que é próprio Jesus Cristo. Nisto consiste a salvação, ou seja, o abandono do “barco que está naufragando”, para entrar -pela fé-  na “Arca de Jesus” (At 2,14-41).

O anuncio querigmático suscita a fé e entusiasmo por Deus e pela Igreja. E esta é a sua finalidade. Depois, surge o desejo de conhecer melhor Jesus Cristo e aprofundar-se nesta nova vida. Então, o homem busca a catequese por iniciativa própria, não sendo pressionado por ninguém...

Se este anúncio não for efetivo, ou seja, se alguém ao ouvir o anúncio, não receber Jesus Cristo, como Senhor, não acreditar n’Ele e no Seu Plano – não pode ser catequizado!

Se, mesmo assim, alguém quisesse o fazer seria desonesto e causaria dano para aquela pessoa (privando-a da chance de conhecer a Verdade), para a Igreja (faria aumentar o número de “cristãos sem fé”, destruindo a família-comunidade e reduzindo a Igreja à uma associação) e para o mundo (“produziria” falsos cristãos que, por sua vez, representam um falso rosto de Deus e da Igreja).

Catequizar as pessoas não evangelizadas é o mesmo que semear no asfalto (paráfrase da expressão do Pe.Raniere Cantalamessa) ou tentar alimentar os mortos. É tempo perdido e o alimento perdido. Além disso, um tal “evangelizador-catequista” se expõe ao ridículo. Tenta dar alimento a quem já (ou ainda) não vive ou não o deseja. Isto significa “jogar as perolas diante dos porcos...” (Mt 7,6). Primeiro tem de ressuscitar, depois o alimentar... (Mc 5,35-43).
Seria importante que os formadores da vida religiosa e dos seminários, responsáveis pela formação de futuros sacerdotes e consagrados, levassem mais em consideração a necessidade de evangelizar os candidatos, pois há o mesmo perigo de “formar” os religiosos sem a fé... Neste caso as conseqüências seriam muito mais amplas e mais graves do que no caso de catequese dos leigos.

Não basta alguém ser um bom praticante da religião. Não são apenas obras que salvam, mas a fé (Rom 3, 28-30; 11,6). Inclusive, a Reforma Protestante, entre outras, foi inspirada por esta prática desligada da fé.

É preciso ajudar ao evangelizado ter motivações que nascem da fé, motivações evangélicas. Ajudá-lo a crescer na fé e ter criatividade e iniciativa. Estes serão sinais de uma fé salvadora e fecunda. Uma fé capaz de ser suporte da vida e de acender a chama em outras vidas...

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