Para muitos cristãos a palavra “querigma” soa estranho. O
que é isto - dizem? Respondendo, pode se dizer que Querigma é a primeira
evangelização, o primeiro passo para o conhecimento da Verdade e do novo, pleno
sentido da vida.
A Igreja por muito tempo não valorizou devidamente a
primeira evangelização, o Querigma (supondo, com toda razão, que a
evangelização fundamental acontece no seio da família). “Querigma” vem da
língua grega: κήρυγμα, kérygma – e significa: proclamar, gritar, anunciar. É o
primeiro anúncio de Jesus Cristo. Trata-se de apresentar Jesus Cristo, morto,
ressuscitado e glorificado com a finalidade de suscitar a fé e levar a
conversão (a mudança de conduta na vida) para ter a experiência da vida nova,
no seguimento de Jesus Cristo.
A Igreja, então, insistia na “sacramentalização” e na
catequese, como meios de evangelização. Acontecia e, infelizmente acontece
ainda hoje, que o catequizando assimilava, as vezes perfeitamente, a
doutrina da fé e normas morais, mas lhe faltava
o essencial – a fé! Somente aplicação da doutrina pode criar
futuros formalistas, indiferentes ou fanáticos fundamentalistas da religião.
Tem de se lembrar do princípio fundamental exigido por Jesus: “É necessário
nascer do novo” (cf. Jo 3, 1-15).
Um novo conceito de evangelização e um impulso para ela trouxe
o Concílio Vaticano II, depois o Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica
"Evangelii Nuntiandi" (1975), como também, a IV Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano de Santo Domingo (1992) cujas ideias assumiu o papa
João Paulo II, realizando uma Nova Evangelização, por meio de ensinamentos e da
sua própria vida.
O Querigma deve levar a experiência pessoal de vida com
Jesus Cristo. É uma vida nova, pois consiste em rompimento com a vida passada
(seus hábitos e sua mentalidade) para viver, agir, falar e pensar
diferentemente, no espírito do Evangelho que é próprio Jesus Cristo. Nisto
consiste a salvação, ou seja, o abandono do “barco que está naufragando”, para
entrar -pela fé- na “Arca de Jesus” (At
2,14-41).
O anuncio querigmático suscita a fé e entusiasmo por Deus e
pela Igreja. E esta é a sua finalidade. Depois, surge o desejo de conhecer
melhor Jesus Cristo e aprofundar-se nesta nova vida. Então, o homem busca a
catequese por iniciativa própria, não sendo pressionado por ninguém...
Se este anúncio não for efetivo, ou seja, se alguém ao ouvir
o anúncio, não receber Jesus Cristo, como Senhor, não acreditar n’Ele e no Seu
Plano – não pode ser catequizado!
Se, mesmo assim, alguém quisesse o fazer seria desonesto e
causaria dano para aquela pessoa
(privando-a da chance de conhecer a Verdade), para
a Igreja (faria aumentar o número
de “cristãos sem fé”, destruindo a
família-comunidade e reduzindo a Igreja à uma associação) e para o mundo (“produziria”
falsos cristãos que, por sua vez, representam um falso rosto de Deus e da
Igreja).
Catequizar as pessoas não
evangelizadas é o mesmo que semear no asfalto (paráfrase da expressão do Pe.Raniere Cantalamessa) ou tentar alimentar os mortos. É tempo perdido e o
alimento perdido. Além disso, um tal “evangelizador-catequista” se expõe ao
ridículo. Tenta dar alimento a quem já (ou ainda) não vive ou não o deseja.
Isto significa “jogar as perolas diante dos porcos...” (Mt 7,6). Primeiro tem
de ressuscitar, depois o alimentar... (Mc 5,35-43).
Seria importante que os formadores da vida religiosa e dos
seminários, responsáveis pela formação de futuros sacerdotes e consagrados,
levassem mais em consideração a necessidade de evangelizar os candidatos, pois há o mesmo perigo de “formar” os religiosos sem a fé...
Neste caso as conseqüências seriam muito mais amplas e mais graves do que no
caso de catequese dos leigos.
Não basta alguém ser um bom praticante da religião. Não são
apenas obras que salvam, mas a fé (Rom 3, 28-30; 11,6). Inclusive, a Reforma
Protestante, entre outras, foi inspirada por esta prática desligada da fé.
É preciso ajudar ao evangelizado ter motivações que nascem
da fé, motivações evangélicas. Ajudá-lo a crescer na fé e ter criatividade e
iniciativa. Estes serão sinais de uma fé salvadora e fecunda. Uma fé capaz de
ser suporte da vida e de acender a chama em outras vidas...
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