terça-feira, 10 de junho de 2014

Missa & ofertório

Missa como Sacrifício de Jesus Cristo, consumado no Calvário (sacrifício incruento), é um Oferecimento por excelência, pelo qual toda a humanidade, dominada pela escravidão do amor próprio, fica beneficiada, ganhando a justificação e a vida.

Ao realizar o Sacrifício de Si mesmo (do contrário às práticas de todas as religiões, incluindo o judaísmo, que ofereciam às divindades produtos da terra, animais e até sacrifícios humanos) Jesus Cristo destrói a lógica do amor próprio, reinante no mundo até então e, abre o caminho para o amor novo, amor com que Ele amou e que consiste em oferecer-se ao outro desinteressadamente (Heb 7, 28; 9,14; 9,25; 9,26; 9,28).


A vida toda de Jesus foi um contínuo oferecimento de Si à vontade do Pai e às pessoas, sobretudo mais às necessitadas. Este espírito de entrega e sacrifício de si próprio, foi perpetuado por Jesus na Eucaristia (Lc 22,19), ou seja, na Santa Missa. Assim a Missa, pela própria natureza é um Grande Oferecimento realizado pela Igreja, Corpo Místico de Cristo (Col 1,18. 24; 1Cor 12, 12-24; CIC 800;) para a glória do Pai Eterno e para salvação e santificação do mundo inteiro.

Cada Eucaristia renova a oferta da vida de Jesus pela salvação do mundo. É o ”Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador” (CIC 1330). É o Sacramento do oferecimento de Jesus Cristo, «por nós homens e para nossa salvação», como proclamamos no Credo.
O Catecismo da Igreja Católica diz que “a Eucaristia é o coração e o ponto mais alto da vida da Igreja, porque nela Cristo associa a mesma Igreja, com todos os seus membros, ao seu sacrifício de louvor e ação de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na Cruz; por este sacrifício, Ele derrama as graças de salvação sobre o seu Corpo, que é a Igreja” (CIC 1407).

A Igreja oferece ao Pai esta Oblação, perfeita e única, agradável e satisfatória em favor dos vivos e dos mortos (o homem não morre; morre apenas o seu corpo, que inclusive num determinado tempo será ressuscitado) conforme o desejo de Jesus. Ninguém fica excluído (nem mesmo os criminosos e inimigos da Igreja) do Sacrifício redentor de Jesus oferecido, como Eucaristia, pois o seu Sangue foi derramado por todos (Mc 16,15; 14,24).

A doxologia (de duas palvras gregas: “doxa”- glória, honra, e “logos” – palavra, significa “palavra de glória” com que se conclui uma oração ou um hino) principal da Missa (Por Cristo, Com Cristo, Em Cristo...) é um momento solene e culminante do Oferecimento Eucarístico. Oferecimento agradável ao Pai (Rom 12,12; Jo 13, 31-32; 17,1-5,9-10). Nele os participantes da Eucaristia (participar = fazer parte), por terem consciência de ser Corpo Místico do Senhor devem se oferecer ao Pai com o Seu Filho e como Ele, para serem Seus verdadeiros filhos adotivos (Rom 8, 14.17; Gal 3,23-26). Este Oferecimento resulta em Comunhão Sacramental, no final da Celebração.

Em vista do que foi dito, torna-se evidente que o Ofertório, que inicia a segunda parte da Santa Missa, a Liturgia Eucarística, é muito importante. Faz parte do Grande Ofertório Eucarístico, torna-se glória do Pai o que é oferecido, conscientemente e generosamente. Sem o ofertório não há transfiguração, não há Sacrifício. Por isso, à Missa não se vai com as mãos vazias...


O pão e o vinho, que são oferecidos pelo Presidente da Celebração, como frutos do trabalho do homem, representam a vida do homem e o que ele é e, todas as ofertas dos participantes, como expressão de sua entrega generosa para o Sacrifício com Jesus Cristo. Assim os sacrifícios humanos estão unidos ao Sacrifício Redentor do Filho de Deus.  Todas as ofertas apresentadas ficam transformadas, pelo poder do Espírito Santo, em valor infinito e em benefício da humanidade e dos indivíduos.

No pão e no vinho, elementos do nosso mundo e da nossa cultura, oferecemos simbolicamente algo de nós mesmos. O ato de apresentar, juntamente com o pão e o vinho, também ofertas materiais e dinheiro, recorda que a Eucaristia é partilha e comunhão com o próximo. Supõe e exige a reconciliação, solidariedade e compaixão. “Se fores apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, vai primeiro reconciliar-te” (Mt 5,23). O fruto da Eucaristia é que nós nos convertamos em oferenda permanente e em hóstia viva (Rom 12,1).

Não importa o que alguém oferece. Importa que seja feito de coração. Na maioria das vezes oferece-se o dinheiro, porque assim fica mais prático. Perpetuou-se este hábito, mas é preciso lembrar que o ofertório não a forma de arrecadar recursos financeiros, mas é a forma de celebrar a fé e a vida, no amor e na partilha. Por isso, em vez de dinheiro pode se oferecer os bens materiais, frutos do trabalho profissional ou objetos simbólicos, que representem o estado da alma e do coração da gente.

A Deus sempre se oferece o que é de valor. Mas, as vezes, as condições matérias impedem o oferecimento de algo nobre, digno de Deus. Pois, estas situações não dispensam do ofertório. Sempre tem algo a dar. O coração grato, ou sofrido pode se expressar de várias maneiras, até mesmo oferecendo um bilhete, um desenho, uma pedrinha, um objeto, que foi ou é, causa de sofrimento ou de alegria. Naquilo que se oferece, encerra-se um coração que Deus conhece, aceita e transforma. Isto é a essência do ofertório.

É bom, ainda, lembrar o ofertório da viúva evangélica (Mc 12, 41-44) e, quando cantamos o canto do ofertório, durante a Missa, que haja a harmonia entre o que cantam os lábios e o que se entrega como ofertório (“Venho, Senhor, oferecer Com esse vinho e esse pão Tudo que existe em meu ser Tudo que há em meu coração...”).

Faz jus ressaltar, que aquilo que se oferece no altar não deve ser tomado de volta, porque assim o ofertório, em vez de ser a vida e ato de amor, tornar-se-ia um teatro... Lembrem-se disso, sobretudo, as equipes responsáveis pela Liturgia.

Sem ofertório não há sacrifício, não há Missa...

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