Na Ladainha Lauretana invocamos Maria como “Saúde dos
Enfermos”, “Consoladora dos aflitos”, “Auxílio dos Cristãos”. Todas estas
invocações expressam a confiança dos cristãos na poderosa intercessão da
Virgem, junto ao seu Filho. A Maria, também é invocada como “Refúgio dos
Pecadores”. Não há perigo de dizer assim, ou de degenerar o único papel do
Cristo Salvador. A Maria não poderia ser saúde para os enfermos e nem o
conforto para os aflitos se, antes de tudo, não fosse Refúgio dos pecadores.
Todos estes títulos, com os quais adornamos a Mãe de Jesus
Cristo, têm a sua fonte no Amor misericordioso de Deus, que escolheu e preparou
a Jovem de Nazaré para ser a Mãe do Seu Filho Unigênito. Assim, como a vinda do
Verbo Eterno ao mundo, foi motivada pelo Amor misericordioso, assim, também o
papel de Maria de Nazaré, na história da salvação, é o fruto do mesmo Amor
Divino. Deus serve-se de todos os meios para salvar a humanidade da ilusão do
pecado, ou seja, do caminho de vida que, exclusivamente, consiste na realização
dos próprios sonhos e projetos. Foi por esta razão (por ser a expressão da
Misericórdia Divina), que a Maria recebeu dos crentes de Seu Filho, o título
“Refúgio dos pecadores”.
Como compreender corretamente este título e esta função da
Mãe de Jesus Cristo? Deve ser óbvio, que é preciso fazê-lo no contexto de toda
a Revelação (Tradição e Sagrada Escritura), que nos transmite grande paixão de
Deus pelas criaturas humanas. Desde o começo da criação, Deus orienta os homens
e alerta-os perante as consequências da eventual infidelidade à Comunhão com
Ele (Gen 2,16). Quando esta acontece, Deus imediatamente estende a mão aos
pecadores e promete a solução (Gen 3,15), o que se realizou na Pessoa e na Obra
de Jesus Cristo. O importante é notar, como o vemos, também, na parábola do
“filho pródigo”, que Deus não faz pouco caso da situação do homem no pecado. De
maneira nenhuma diminui a gravidade do pecado, mas supera-a pela sua
surpreendente e infinita misericórdia. “Deus não quer a morte do pecador, mas
que ele se converta e viva”, diz a Sagrada Escritura (Ez 33,11).
O mesmo faz a Virgem Maria, sendo o “canal” da Misericórdia
(por meio d´Ela veio ao mundo a Misericórdia Encarnada). Não procura (porque
também não pode) isentar os pecadores das consequências de suas escolhas, ou
fazer com que vivam tranquilos em seus pecados, mas, dependendo da situação de
cada um, ajuda, encoraja e orienta para o Encontro com a Misericórdia Divina. A
Virgem Maria, não é uma Mãe que tenta esconder ou diminuir a gravidade do
pecado. Se quisesse fazê-lo toraria se conivente com o pecado, em vez de ser
caminho para a Misericórdia de Deus.
Assim sendo, a atuação de Maria, como Refúgio dos pecadores,
é condicionada pela situação individual de cada um, que entrou no mundo do
pecado. Portanto, aquele que segue, com todas as forças, o Caminho de Deus mas,
levado pela fraqueza, comete alguma infidelidade (na oração, com a língua,
olhar ou pensamento), logo se arrepende e sinceramente “chora” a falta da
vigilância e atenção. Sofre por causa dos remorsos, causados pelo pecado. Neste
caso, Maria aparece como mãe compreensiva, que acolhe o filho errante e lhe
mostra a saída, através do Sacramento da Reconciliação (Confissão).
Quando, porém, alguém já “criou raízes no mundo do pecado”,
nem pensa no arrependimento, mas procura justificações para a sua situação (eu
não quis, mas ele(a) me fez pecar; eu já sou assim, não dou conta; não adianta
tentar eu mudar, porque “o mundo de hoje”...), o papel da Refúgio do pecadores
é diferente. Não pode acolher, confortar e orientar para a Confissão, porque o
infeliz não quer. Está instalado no mundo do pecado e ali “se sente bem”. Ora,
ora, os sentimentos são instáveis e, muitas vezes, ilusórios. Assim como
ninguém fica estável na vida em comunhão com Deus, igualmente acontece com quem
foi dominado pelo mal. A tranquilidade do pecador, o seu “sentir-se bem” são
ilusórias e aparentes. A verdade é que, a “instalad” no mundo do pecado está
deslizando para o “fundo do poço”. De tempos em tempos, porém, ele dá-se conta
do que acontece, e isso o assusta. Em tal situação, sente urgentemente a
necessidade de ajuda. É nesse momento que a Nossa Senhora aparece para amparar
tal infeliz. Sem reclamar da sua situação, mas também sem “passar a mão”. Esta
bondade materna de Nossa Senhora, que aceita os filhos errantes pelo próprio
fato de serem filhos, é uma verdadeira e atraente “Estrela da Manhã”.
Há, ainda uma situação mais difícil de todas, no “serviço”
maternal da Virgem Maria. É quando uma pessoa chegou ao ponto de se identificar
com o pecado. Humanamente, não tem mais jeito. Tal pessoa, não só justifica o
seu pecado, mas ainda, não admite a oposição às suas escolhas pecaminosas e
seus vícios. Aqui, a atuação do Refúgio dos pecadores, consiste em intervir na
hora em que a iminência do desabamento do mundo ilusório, construído sem Deus,
nitidamente aparece no horizonte da vida (doença grave, acidente, ameaça de
morte). Começa a avistar o engano no qual apostou a sua vida. Vê-se vivamente
ameaçado nas suas seguranças e... não tem esperança. Nesse momento a Virgem
Maria mostra-lhe que ainda há uma saída. A Misericórdia de Deus generosa e
incondicional, cuja expressão visível é Ela mesma, a Mãe do Salvador. Intercede
por ele, o encoraja para o arrependimento e conversão, através da Confissão.
Para ficar claro. A Maria não nos protege da “ira de Deus”,
das consequências dos nossos pecados, mas do poder destrutivo do Maligno, que
seduz à vida no pecado e, em consequência, à morte eterna.
À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não
desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de
todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário