segunda-feira, 31 de março de 2014

Missa & individualismo

A Missa (Eucaristia) é um mistério e, sempre permanecerá um mistério. Ainda que não penetrado pela capacidade do intelecto, Ela forma e transforma aqueles que se aproximam com fé humilde.

Para muitos a Missa é uma das formas de oração e, as vezes a única que praticam. Mas, ao lado de tal minimalismo espiritual, cresce o número de pessoas para quem a Missa é o mais importante momento da vida interior e da vida de fé. O momento culminante da semana e do dia, por ser um verdadeiro encontro com Jesus Cristo, o Ressuscitado.

Isto alegra, mas não deixa de preocupar a manifestação de vários sintomas de certo individualismo, herdado do passado (quando a Missa era celebrada em latim) e produzido pela sociedade moderna. Em consequência disso, a Eucaristia é limitada a relação: Eu – Deus e, passa a ser uma forma de devoção pessoal. Invisivelmente, o individualismo que caracteriza todas as áreas da sociedade moderna, se enraíza e subordina os mistérios divinos aos interesses pessoais. A pessoa fecha-se em si mesma. A comunidade celebrativa não é mais família, mas torna-se um agrupamento de “pessoas que me incomodam e atrapalham numa piedosa participação”. O Sacrifício de Cristo é instrumentalizado.

Não quero generalizar porque não sei dizer como está a participação nas paróquias que não conheço, mas temo que este seja um perigo universal.

Muitas vezes pode-se notar que algumas pessoas decidem não fazer gesto algum, nem mesmo mudar de posição do corpo durante a celebração. Preferem ficar sentadas todo tempo. Dizem que assim se concentram melhor. Há quem diz que o dispersa música, cantos, diálogos... Ainda aquela repetição sempre das mesmas palavras. Escolhem, então, o... silêncio. E se acrescentarmos, ainda, uma prática comum de “assembleia dispersa” (ocupam-se os bancos na igreja para ficar longe uns dos outros)? Missa torna-se uma devoção individual, uma oração pessoal. Em vez de alimentar a fé alimenta o egoísmo, alimenta a falsa convicção da própria perfeição. Deste modo, tal participante da Liturgia, pode-se até pôr fora do âmbito da salvação, por não se reconhecendo um pecador...

O mesmo problema atinge também sacerdotes. Alguns nem tentam esconder que fazem questão de expressar na Missa a sua própria individualidade, a sua única e marcante maneira de celebrar. Que para todos fique claro que a Missa é “d’ele” porque ninguém a faz como ele... Dai vêm intervenções arbitrárias nos textos litúrgicos e na estrutura da Liturgia (“criatividade” não permitida, acréscimos, modificações, introdução dos próprios gestos e ritos). Deste modo, como que naturalmente, a atenção dos fiéis transfere-se para o padre... Vou à Missa daquele padre. Vou aonde ele celebra etc.

Neste caso os crentes não podem se conformar com a desobediência expressa a Igreja que organizou a Liturgia. Devem exigir a Liturgia fiel as normas instituídas pela Igreja, na Instrução Geral do Missal Romano e na Instrução Redeptionis Sacramentum, que podem ser encontradas no site do Vaticano. 

Enquanto isso, aprendemos do Catecismo, que a Liturgia é um Mistério Divino, que continuamente, sem interrupção realiza-se diante da face de Deus (Ap 4-5). A Missa é Liturgia celeste, por excelência. Por isso, quando iniciamos a Santa Missa, num determinado tempo e lugar, não realizamos uma obra nossa, mas nos inserimos na Celebração daquela Grande Liturgia e a fazemos presente aqui e agora.

Além disso, a Eucaristia deve edificar a Igreja-Comunidade, que é povo salvo pela fé em Jesus Cristo. Por este motivo ela tem de ter a dinâmica comunitária (valorizar a relação, comunicação e vínculos tanto espirituais quanto humanos).

O valor da Missa não depende tanto da minha concentração pessoal, quanto do vínculo que tenho com outros crentes, participantes da Liturgia. Depende também de quanto me torno sensível para presença de Jesus no meu próximo, de quanto me abro para servir, de quanto sou capaz de perdoar e de vivenciar esta verdade “onde estão dois ou três reunidos em meu nome, ai eu estou no meio deles” (Mt 18,20).

Bem celebrada Liturgia realiza a salvação, libertação e a cura, da alma e do corpo. É catequética e evangeliza. Amplia horizontes e enriquece humana e espiritualmente. Em consequência leva a responsabilidade pela Igreja, pelo próximo e pelo bem comum.


Fonte: http://www.poslaniec.co/1209/art,176,Msza_swieta_indywidualistyczna.htm
          Papa Francisco, audiência geral, 12/02/2014




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