Segundo
os dicionários de língua portuguesa, converter-se significa mudar, ser
diferente, mudar de rumo, tomar atitudes novas.
Segundo
a Bíblia a conversão entende-se como mudança de mentalidade “metanoia”.
Enxergar o mundo de um modo diferente, reorganizar a hierarquia de valores, reorientar
o comportamento ético. Enfim, trata-se de mudança de rumo e de horizontes do ser humano.
É preciso
acentuar que a conversão não é fruto exclusivamente do homem. Antes de tudo é
fruto da Graça de Deus, ou seja, da Sua Misericórdia (Lm 5,21). Entretanto o
esforço do homem é indispensável e, as Sagradas Escrituras, o afirmam
constantemente, chamando o homem à santidade, à volta para casa, a produzir os
frutos... (Dt 30,10; Mt 5, 48, Lc 13, 6-9; Lc 15,11-32). Nesta tarefa o homem
não conta somente consigo mesmo, mas alimenta-se da Palavra de Deus, dos
Sacramentos, da oração e aproveita as circunstâncias da vida, nas quais vai
descobrindo a presença de Deus.
“A conversão a Deus consiste sempre na
descoberta da sua misericórdia, isto é, do amor que é «paciente e benigno» como
o é o Criador e Pai; amor ao qual «Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo» é
fiel até às últimas consequências na história da Aliança com o homem, até à
cruz, à morte e à ressurreição do seu Filho. A conversão a Deus é sempre fruto
do retorno para junto deste Pai, «rico em misericórdia»... Aqueles que assim
chegam ao conhecimento de Deus, aqueles que assim O «vêem», não podem viver de
outro modo que não seja convertendo-se a Ele continuamente. Passam a viver in
statu conversionis, em estado de conversão; e é este estado que constitui a
característica mais profunda da peregrinação de todo homem sobre a terra, em
estado de peregrino” (João Paulo II, Dives
in Misericordia, 13).
Completando,
deve-se dizer que a conversão não acontece uma só vez e permanece para sempre.
Ela pode começar com um momento “forte”, até mesmo traumatizante (como no caso
de Saulo cf. At 9), mas é um processo e uma atitude interminável... (Vat
II, LG 8). Pode-se afirmar que a conversão é o modo de
viver dos cristãos.
A Eucaristia, chamada também de “Missa”,
é um “espaço” privilegiado, no qual a conversão deve realizar-se de uma maneira
muito especial. Como que pela própria natureza a Missa deve levar os
participantes a conversão. Contudo, como falamos na postagem anterior, é
preciso que haja o conhecimento e a consciência da profundidade do Mistério
celebrado.
Se alguém não se sente
necessitado da misericórdia de Deus, não se sente pecador, é melhor que não vá
à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o
perdão de Deus, participar da redenção de Jesus, do seu perdão, diz Papa
Francisco (Roma, 12 de fevereiro de 2014).
Ao participar da Missa o homem,
primeiramente, precisa tomar a consciência da sua condição de pecador,
desobediente a Deus (por causa da vida segundo o amor próprio, que é egoísmo) e
da terna, amorosa santidade de Deus. Por isso, no começo da Missa, antes de
ouvir a proclamação da Palavra de Deus os participantes da Celebração são
chamados ao arrependimento e à conversão, o que expressam através do Ato
Penitencial, que faz parte necessária da Missa. O homem reconhece seus pecados,
que nascem do egoísmo, ou até do egocentrismo... Converte-se para a humildade (ser criatura –
húmus) e para a partilha, para viver o amor fraterno.
Aquele “Confesso”, diz Papa
Francisco, que fazemos no início não é “pro forma”, é um verdadeiro ato de
penitência! Eu sou pecador e o confesso, assim começa a Missa! Não
devemos nunca esquecer que a Última Ceia de Jesus aconteceu “na noite em que
foi traído” ((1 Cor 11, 23) Papa Francisco, em Roma, aos 12 de fevereiro de
2014).
Muitas vezes o Ato Penitencial é
cantado (a música deve ser apropriada) o que expressa a alegria do perdão
recebido. Pedimos perdão e logo cantamos, pois sabemos que prontamente Deus
perdoa a quem O pede. Obviamente trata-se de pecados veniais, cotidianos. Os
graves têm de ser confessados sacramentalmente (diante dum sacerdote).
A Missa, antes de tudo, nos converte do individualismo, efeito do pecado original,
para a comunhão, para qual o homem foi chamado
ao ser criado a imagem e semelhança de Deus. Numa das músicas da Missa cantamos:
“Igualdade, fraternidade nesta mesa nos
ensinais, as lições que melhor educam na Eucaristia é que nos dais...” E
isto é verdade. A Missa tem de nos transformar, converter do individualismo
para esta dinâmica do amor, concreto e responsável pelo próximo. Imagino que
não teremos dificuldades de saber quem é o nosso próximo. Qualquer coisa
pode-se ler a parábola do bom Samaritano (Lc 10, 30-37).
João Paulo II, na Carta Encíclica
sobre a Divina Misericórdia diz
que: “A Eucaristia aproxima-nos sempre do amor que é mais forte do que a
morte. Com efeito, «todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste
Cálice», não só anunciamos a morte do Redentor, mas proclamamos também a sua
ressurreição, «enquanto esperamos a sua vinda gloriosa» (114). A própria ação eucarística, celebrada em memória
d'Aquele que na sua missão messiânica nos revelou o Pai por meio da Palavra e
da Cruz, atesta o inexaurível amor, em força do qual
Ele deseja sempre unir-se e como que tornar-se uma só coisa conosco,
vindo ao encontro de todos os corações humanos (“Dives in Misericordia, 13).
Os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) caminhavam tristes, sem
esperança, porque seus sonhos e suas expectativas foram frustrados (v.21).
Estavam com Jesus, mas, cada um buscava os seus próprios interesses. Nada
entediam do amor ensinado por Ele. Viviam segundo o egoísmo. Mas a Palavra que
Ele lhe dirigiu, por um tempo prolongado, trouxe efeito. Na medida em que
escutavam a Palavra começaram a sentir algo diferente, mas a tristeza ainda
continuava. Entretanto, quando sentaram a mesa, quando Ele celebrou o Mistério do Pão seus olhos se
abriram... Então, tudo mudou, num piscar de olhos.
Isto é a Eucaristia! Este é o poder que Ela possui, de transformar as
vidas em algo inimaginável, como aconteceu naquele episódio. O homem “morno”,
desanimado, sem vontade para nada pode voltar para casa, entusiasmado e
disposto a viver em comunidade.
Em vez de faltar a Missa, “porque estou sem ânimo” ou trocá-la por
qualquer outro valor (aqui seria até o caso de idolatria) deve-se superar o
amor próprio e apresentar-se diante de Jesus. A Missa verdadeiramente
transforma as vidas e dá força incrível para carregar a cruz de cada dia, como
foi por exemplo na vida de Marta Robin, Teresa Neumann ou Alexandrina da Costa, ou a mais recente
beta Chiara Luce (mais informações sobre estas pessoas pode procurar na
internet).
Quero encerrar esta postagem com
as palavras Papa Francisco, da audiência geral, aos 12 de fevereiro de 2014. É
necessário sempre ter em mente que a Eucaristia não
é algo que fazemos nós; não é uma comemoração nossa daquilo que
Jesus disse e fez. Não. É propriamente uma ação de Cristo! É Cristo que age ali, no altar. É um dom de
Cristo, que se torna presente e nos acolhe em torno de si, para nutrir-nos da
sua Palavra e da sua vida. Isto significa que a missão e a identidade própria
da Igreja surgem dali, da Eucaristia, e ali sempre toma forma. Uma celebração
pode ser também impecável do ponto de vista exterior, belíssima, mas se não nos
conduz ao encontro com Jesus Cristo arrisca não levar alimento algum ao nosso
coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, em vez disso, Cristo quer entrar
na nossa existência e permeá-la pela sua graça, de forma que em toda comunidade
cristã haja coerência entre liturgia e vida.
Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração,
de perdão, de penitência, de alegria comunitária, de preocupação pelos
necessitados e pelas necessidades dos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor
cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida plena. Assim seja!
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