Pastoral
de “manutenção”, padres “coveiros” e encanadores, “heresia do ativismo”
A finalidade desta reflexão está longe da pretensão de “ser um
oráculo” ou um “dono da verdade”. Tenho a consciência de que estou abordando um
assunto polêmico. Não me importo se alguém vai concordar ou discordar. Venho
para contestar, questionar, provocar a reflexão e discussão. Tomara, que haja
qualquer reação, para o que escrevi, mesmo de irritação ou indignação. Com efeito,
a Igreja precisa de refletir sobre a sua identidade e retomar a sua consciência
de Igreja Missionária. Cada um dos crentes deve assumir o papel que lhe é
próprio. Cada um deve fazer a sua parte.
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O Concílio Vat.II lembrou que a Igreja foi fundada não para servir, para ser
“sacramento da graça para o mundo. A salvação é Cristo, luz dos povos. A
Igreja, é sacramento dessa luz que ilumina todo o homem. Por isso, “como Cristo realizou a obra da redenção na
pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo
caminho para comunicar aos homens os frutos da salvação” (LG, 8).
Afirmação subjetiva?
A Igreja está morrendo. Vamos tentar
“salvar” a Igreja que é sacramento da nossa salvação? - - Mas, salvar de que? -
Da morte, mesmo. Ela está morrendo e vários sinais (indiferença, falta
temor a Deus, de vida de oração, de paixão pela evangelização e catequese, bem
como idolatria disfarçada de comportamentos religiosos) confirmam este fato. As
crises diversas alastram-se pelo mundo inteiro (dessacralização,
descristianização, crise de valores, vazio existencial). E, também a Igreja,
a Obra de Deus no mundo dos homens, não “escapou” da crise.
Toda crise pode trazer efeitos benéficos,
mas precisa ser enfrentada adequadamente. Não se pode banalizar os problemas ou,
“varre-los para debaixo do tapete”. Pelo que se pode notar, hoje, somente o
Papa Francisco, corajosamente se desdobra para encontrar as soluções das crises
e orientar a Igreja para o caminho da vida. Muitos parecem não entender o que
pretende este homem de Deus, ou fazem-lhe resistência. Enquanto isso, os sinais
de morte se multiplicam assustadamente.
A
Igreja está morrendo
A Igreja está morrendo, acredite se quiser.
A morte, acontece com o consentimento e aprovação de quase todos os crentes, a
começar pelas autoridades eclesiásticas. Para precisar, quero dizer que não se
trata das estatísticas que mostram a evasão dos crentes para outras
denominações cristãs ou para a indiferença religiosa. Trata-se da qualidade
de vida interior e da força de fé daqueles que se identificam com a Igreja
e “fazem parte” dela. Daqueles, que frequentam Cultos e (sic!) deixam-se “sacramentalizar”
(porque “acumulam os Sacramentos”, recebem-nos, mas não os vivenciam e não
tiram proveito, além duma satisfação momentânea).
Em 99% do “crentes” (o cálculo é meu) não
há vida de fé! Parecem perdidos e nem sabem o que fazer, até mesmo dentro do
templo, quando vêm para celebrar os Sacramentos (tagarelam, mexem nos celulares,
observam e examinam toda pessoa que entra, ou sai, etc). A falta de vigor e
motivação, revela a tremenda ignorância religiosa(!). Ao mesmo tempo, nota-se uma
estranha resistência ao conhecimento, até mesmo, dos princípios da fé. A grande
maioria contenta-se com o mínimo. Tem hábitos religiosos, mas não têm fé.
Basta “estar na Missa”, mesmo falhando, e confessar, de vez em quando, para
se sentir “um bom cristão”. E para ser um bom cristão, também basta?
Ora, as práticas religiosas oriundas da
ignorância, na verdade, devem ser chamadas de paganismo ou superstição, porque
são apenas revestidas de aparência cristã. Não pode servir como justificação o
fato de forem ensinados, desde a infância, “ir à igreja”, repetir formulas de
orações, e praticar outros atos, que geralmente se identifica com a pertença a uma
religião. Não serve, porque hoje há muitas fontes nas quais se pode adquirir e
aprofundar o conhecimento.
Pois bem, a Igreja evangeliza, catequiza,
celebra e... o “paganismo religioso”, em vez de diminuir, aumenta. Tem
alguma coisa errada.
Se eu disse que a Igreja está morrendo,
foi porque sou sacerdote desta Igreja, já alguns anos, e tenho possibilidade de
ver o seu caminho descente, em vez de crescente. Confesso, que não
conheço nenhuma estratégia atual (diocesana ou nacional) e concreta que, em
línea reta, vise ressurgimento, renascimento, religação da Igreja ao tronco da
Videira Verdadeira (Jo 15,1-5). Sim, existem as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil, publicadas a cada quatro anos (as últimas
são para quatriênio 2015-2019). Sem dúvida elas têm valor. É um programa. Mesmo
não sendo perfeito, mas é um programa que, talvez, faria a diferença se
fosse realizado.... Se houvesse interesse, ao menos conhece-lo.
A
“heresia do ativismo”
As comunidades eclesiais são compostas de
diversas pastorais e movimentos, aonde deve pulsar a vida cristã e deve ser
cultivado desejo de comunicar a fé, tomar concretas iniciativas que levam ao
crescimento espiritual e ensinar os outros a levar a via cristã. Não quero
generalizar, mas dificilmente pode-se encontrar um Grupo da Igreja, que viva a
fé e que pode ser indicado, como um espaço do verdadeiro encontro com Deus, para
onde podem se dirigir as pessoas que O procuram.
Em geral, as Pastorais e Movimentos são, até,
capazes na organização dos encontros (ECC, Segue-Me, etc.), porque há documentos,
que minuciosamente, passo por passo, instruem como fazer isto. Assim, capacitam
os “agentes” que sabem fazer, conforme ordenam os documentos, mas
entender o sentido e o objetivo, muitas vezes, já é um outro problema. Estes
trabalhos de “evangelização e pastoral” atraem, porque “tudo está no prato”,
não precisa pensar, mas “ser fiel aos documentos”. Além disso, tais agentes se
realizam através das atividades concretas, estruturas, funções, equipes. Porém,
depois do evento, a euforia e os sentimentos vão passando e, o vazio var reaparecendo...
Deve-se aproveitar aquele despertar, após
um evento de evangelização, para dar a formação sistemática, não
necessariamente chamada de catequese, mas efetivamente sólida no ensinamento do
seguimento de Jesus Cristo, pois nisto é que consiste a vida cristã. Há quem
vai me dizer: “mas isto já temos no...” (cita o nome do movimento). Sim, temos,
mas, infelizmente, “no papel”. Você já acompanhou algumas vezes estas formações
“pós encontro”? Viu a qualidade? Viu efeitos? Viu a convicção dos que o
dirigem? È..., tem muito a fazer.
As Pastorais e Movimentos da Igreja deveriam
“produzir” obreiros (pessoas comprometidas com a Obra do Reino de Deus), isto
é: catequistas, missionários, agentes de apoio... Enquanto isso, se vê muita “fumaça”... Encontros,
congressos, eventos, reuniões, etc. – “Ai meus Deus, quanto trabalho!
As iniciativas, a criatividade, a
inquietude pastoral são sinais de vitalidade da Igreja. Enfim, assim vivia
Jesus Cristo e, assim, ensinava aos seus seguidores, o que bem expressa
evangelista Marcos: “Jesus percorria os
povoados da redondeza e ensinava. Chamou
os Doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os
espíritos impuros. Recomendou-lhes
que não levassem para a viagem nada mais do que um bastão; nem pão, nem sacola,
nem dinheiro no cinto. Podiam
estar calçados de sandálias, mas não deviam usar duas túnicas. E lhes dizia: “Quando entrardes numa
casa, ficai nela até irdes embora. Se
em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, ao sairdes de lá, sacudi a
poeira dos pés...” (Mc 6,7-11). Estas outras orientações de Jesus são
voltadas ao objetivo, de levar as pessoas a tomarem uma decisão, aceitar ou não
aceitar o convite à conversão. Quem não o aceitar deve ser respeitado na
sua liberdade.
(Continuará)
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