Pastoral de "manutenção", padres "coveiros" e "encanadores", "heresia do ativismo" (Continuação)
Pastoral
de “manutenção”.
O que se percebe hoje, e o que causa a dor
e a tristeza, que as “iniciativas pastorais” são teóricas ou, voltadas meramente,
ao “ajuntamento de pessoas” e visam sustentar
as estruturas que ainda sobraram da Igreja viva. Em vez da criatividade e iniciativas
concretas de reorganização diante da complexidade de mudanças, que vêm
acontecendo no mundo, alimenta-se e sustenta as estruturas ultrapassadas e sem
a vida, convencendo-se que “melhor fazer pouco do que nada”. A motivação para
desenvolver este trabalho de sustentação dá um fato que “a igreja está cheia”.
Ainda cheia...
Mas, se esse “serviço”, que não faz
crescer a vida e não comunica a vida, for um engano? Sim, pode-se enganar aqueles
que vivem tal fé (rotineira, morna, desmotivada) e, também, o mundo, que precisa
da esperança [Jo 12,20-21]. Isto acontece quando se propõe e realiza modelos pastorais
opostos ao espírito do Evangelho Vivo. Assim, se deturpa a Verdade e se
contribui para a multiplicação das caricaturas. Por que não nos perguntarmos em
que, realmente, se apoia a esperança dos nossos crentes? Provavelmente seria assustador,
para muitos “agentes de pastoral”, ao descobrirem qual é a porcentagem dos
participantes dos cultos que “enchem” a igreja pelo hábito e não pela fé.
Sem dúvida, é mais cômodo não enxergar as
“rachaduras” e fundamentos frágeis, malfeitos, porque, assim, se evita remorsos
e inquietude. “Tampar as rachaduras”, “escorar as estruturas defeituosas”, eis
um “bom trabalho”. Escoramentos por toda parte.... Será que os escoramentos
garantem a segurança? Por quanto tempo? A não ser que o importante seja o
efeito perceptível. Este tipo de “pastoral” Jesus Cristo chamaria de pintar as fachadas ou pintar “sepulcros
caiados” (Mt 23,27), que só ficam bonitos por fora... “Pintar as
fachadas” é bastante atrativo porque é rápido, barato e “dá o IBOPE”. O
problema é que, também, inevitavelmente, fabrica “caricaturas religiosas” e
“adeptos do Inferno”.
De qualquer ponto de vista o trabalho “pastoral
de manutenção” é insensato. A Igreja é a vida! Ela está caminhando, pelo “deserto
do desamor do mundo” e tem de acompanhar a evolução de mundo e as suas
mudanças. Não pode ser estática. Assim, como vida é dinâmica e se desenvolve
constantemente, assim, também a Igreja deve ser dinâmica, missionária, deve ser
ansiosa para se expandir, comunicando a vida, como o rio da profecia de Ezequiel
(Ez 47,1-9.12). O que está acontecendo é contra a natureza da Igreja. A “pastoral
da manutenção” é contra a sua natureza. Não se pode cultivar um saudosismo do
passado, porque o que passou, passou. Não vai voltar mais. E ainda pior, pode
trazer efeitos não desejáveis (Num 11,4-6).
Todos conhecem os Evangelhos e as
orientações de Jesus, que ensinava e chamava a buscar o Reino de Deus em
primeiro lugar” (Mt 6,33). No entanto, insiste-se em aplicar próprias “normas”,
diluindo assim, o fermento evangélico em vez de ajudar na conversão e adesão ao
Projeto de Deus. Deste modo, são como “crianças na praça”, carentes e
caprichosas: "A que, pois,
compararei os homens da presente geração, e a que são eles semelhantes? São
semelhantes a meninos que, sentados na praça, gritam uns para os outros: Nós
vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não chorastes"
(Lc 7,31-32).
Padres
“coveiros” e padres encanadores
Me perdoem a expressão a seguir, mas eu
chamaria, o maior grupo de sacerdotes de hoje (“obreiros” por excelência), de “padres
coveiros”. Tais padres, os “coveiros”, preocupam-se em manter as covas
bonitas, ou seja, “pintam os sepulcros”, protegem os relictos pastorais sem
vida, orgulham-se com a quantidade destes “relictos” e fazem neles a “cosmética
pastoral”.
Este trabalho constitui inquestionável
razão do seu ministério. Os “coveiros” não têm interesse de “limpar os
sepulcros”, reformar as estruturas ultrapassadas e sem vida, pois isto lhes
renderia muito esforço, poucos efeitos visíveis, insatisfação dos “donos dos
sepulcros” e “maus-olhares”. Além disso, dizem que “não há ordem do bispo”, não
há disposições concretas, melhor “ficar quieto”... É óbvio que é fácil celebrar
os sacramentos, dar consolos “baratos” (não se preocupe, vai dar certo) e
conselhos ineficientes (reze “mais”, faça a novena de...).
Será que este é um trabalho evangélico ou
anti-evangélico? O Cristo vivo mandou ressuscitar os mortos, não “maquiar
sepulcros”: “Curai enfermos, purificai
leprosos, ressuscitai mortos, expulsai demônios. Gratuitamente recebestes, gratuitamente
deveis dar” (Mt 10,8). Quando se anuncia e conduz ao Cristo ressuscitado, os
mortos espiritualmente realmente ressuscitam das trevas dos seus sepulcros, que
são vícios e pecados (Mt 27,52-53).
A Igreja, sobretudo hoje, necessita de “padres
encanadores”, inquietos e criativos, que incansavelmente vão se dedicar revitalizar
a “canalização que comunica a Vida”, para “limpar os canos da Graça de Deus”
entupidos pelo comodismo, maus hábitos, tradições folclóricas e, enfim, falta
de fé. Este tipo de padres, também, vai “instalar” novas, mais adequadas “redes
de água Viva”, para levar os crentes da Igreja ao revigoramento e a retomada da
sua consciência e missão (Mc 6,7-11).
Há muito fermento bom entre os sacerdotes,
mas eles precisam de determinação e coragem de serem “encanadores” e não
populistas, “sacramentalistas”, “midiáticos” ou simplesmente carreiristas. O
cristão não deve agradar a ninguém, a não ser somente a Deus (Gal 1,10; Mt
6,24). A vida do próprio Jesus Cristo, “Encanador por excelência” pode
inspirar e motivar a quem pretende viver fazendo a vontade de Deus.
“Quem não está comigo, está contra mim; e
aquele que comigo não colhe, espalha” (Mt 12,30).
A
Igreja e poder sobre o Inferno
Diante da afirmação que a Igreja está
morrendo, alguém pode questionar: “Ora, Jesus Cristo não garantiu que a Sua
Igreja nunca será vencida”? É verdade. Garantiu. Ele não disse, que “o poder do Inferno não poderá vencê-la”
(Mt 16,18). Não garantiu que os Seus amigos, a quem deu todas as chaves do
Reino, não podem vendê-la por “30 moedas
de prata” (Mt 26,15).
O mal que vem de fora não tem poder para
vencer a Igreja, mas o mal que nasce dentro dela, este sim, destrói (Mc 7,21;
Mt 15,19). Basta lançar um olhar à história da Igreja, para ver que quase todas
as rixas, divisões, escândalos (a começar pelas heresias dos primeiros séculos,
passando por padre Martinho Lutero e chegando ao arcebispo Marcel Lefebvre)
foram causados pelos “amigos de Jesus”, homens da Igreja.
(Continuará)
(Continuará)
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