A Misericórdia de Deus e os pecadores
(Comunhão sacramental, divorciados e recasados, pecado) - Continuação
O
homem é chamado a escolher a vida, sempre. Se a vida em pecado, ou sem pecado
não faria diferença nenhuma diante de Deus e todos deveriam ser tratados
igualmente, por que então, a Sagrada Escritura insiste tanto para viver
corretamente. “Deus resiste aos soberbos, e aos humildes dá a sua graça.
Portanto, sejam submissos a Deus; resistam ao diabo, e este fugirá de vocês.
Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês. Pecadores, purifiquem as
mãos! Indecisos, purifiquem o coração! (Tg 4,6-8). Ou: “Podes ir, e não peques
mais” (Jo 8,10b-11); “Não peques de novo, para que não te aconteça alguma coisa
pior” (Jo 5,6.14).
A
Comunhão Sacramental não é um prêmio por uma vida correta, que se possa
reclamar “por que eu não posso receber, se vivo melhor do que muitos”? No
Sacramento do Batismo, o cristão foi inserido no Corpo Misterioso de Cristo
(1Cor 12,12-27), fazendo parte d´Ele. Naturalmente deve permanecer neste Corpo,
sintonizando-se com a Sua dinâmica e Seu funcionamento. Enquanto permanecer
assim, vai ser nutrido, como todos os demais membros do corpo, tendo pleno
acesso aos nutrientes que este Organismo possui. Logo, se resolver separar-se
do Corpo desconecta-se da Sua vitalidade, perde os nutrientes que recebia, pois
estes não podem ser “fornecidos” a distância. E assim, vai findando...
Visto
que, a vida cristã consiste em Comunhão com o Corpo (Jesus Cristo), aquele que a
deseja deve renunciar outras “comunhões”, conforme lemos:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me
siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua
vida por causa de mim, esse a salvará. De fato, que adianta um homem ganhar o
mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo” (Lc 9,23-25). Se o homem prefere
“ganhar”, alcançar qualquer outra coisa na vida, que não seja a Vida em Jesus,
mesmo que ganhasse o mundo inteiro, perde tudo, “destrói a si mesmo”, fica nú
(Gen 3,7). Esta decisão que leva a morte chama-se o pecado.
O
pecado
O
pecado mortal, primeiramente, faz morrer a vida íntima de comunhão com Deus, na
sua profundidade incondicional (daí se chama “mortal”). Se não for perdoado,
causa a morte do homem todo. Ao voltar toda atenção ao objeto diferente do Amor
Infinito, acontece a morte da exclusividade do relacionamento vital, como na
evangélica videira com ramos (Jo 15,1-5). O pecado que causa esta morte não é
um particular, mas um estado de vida contra a vontade de Deus, que na medida do
passar do tempo, faz o homem indiferente para com a vida em Deus.
Quanto mais
tempo permanece nesta situação, tanto mais, o mistério da morte expande-se na
sua vida. O homem acomoda-se neste “novo” modo de viver, contrário a sua
natureza e ao projeto de Vida e, assim, caminha para a morte definitiva, pois
sem Deus não há vida.
O
pecado pode transformar-se em vício, um mal específico que escraviza o homem.
Para ser tratado, o viciado deve procurar um acompanhamento, adequado a sua
dependência. Na escolha deste acompanhamento é preciso ter muito cuidado quando
a maturidade, responsabilidade e orientação do potencial candidato, a quem vai
confiar a si mesmo.
A
regra de ouro diz: “É melhor prevenir do que remediar”. Na expressão evangélica
ela é assim: “Se a tua mão direita te leva a pecar..., se o teu pé de leva a
pecar..., se o teu olho de leva a pecar...” (Mc 9,43-48) é necessário cortar.
Cortar os caminhos que levam a este estado, pois é preferível sofrer agora, do
que perder tudo...
Questões
pastorais
Compreensíveis
são afirmações tipo: “tenho direito de ser feliz, por isso divórcio, pratico
aborto”, etc., mas são privadas de fundamentos, porque o outro (o conjugue
traído, o filho abortado) também tem este direito... E tem, ainda, outros
direitos reconhecidos, até pela ONU, como: direto a vida, saúde, segurança etc.
Será que é lícito escolher o pecado destruindo legítimos direitos dos outros, a
preço dos seus pretenciosos direitos de ser feliz“, de ter”, de “ser
alguém”...?
As
pessoas em situação de conflito devem conformar-se com a sua situação, pois
ninguém de fora é culpado por isso. Para nada serve viver reclamando supostos
“direitos”. É melhor e correto procurar e empregar os meios acessíveis para
viver a Fé e a Comunhão do Corpo Místico, fora do Caminho Sacramental.
O
Catecismo da Igreja aponta tais caminhos da comunhão extra sacramental: "A
respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e
desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem
dar prova de uma solicitude, a fim de não se considerarem separados da Igreja,
pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja: Sejam
exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar
na oração, a dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas em
favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as
obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus." (CIC
1651).
A
Igreja tem a missão de socorrer e amparar as pessoas em estado de conflito
(pecado). Não condena, nem rejeita a ninguém. Elas não deixam de ser membros da
Igreja. Continuam sendo filhos da Igreja, amados e acolhidos por ela. Ainda que
não lhes é permitido o acesso ao Sacramento da Confissão e da Eucaristia. Pois,
acolher o pecador não significa conceder o perdão do pecado, ou fingir que ele
não existe, já que o perdão depende exclusivamente do pecador, do seu
arrependimento e da sua conversão.
E na
Carta com a qual concede a indulgência por ocasião do Jubileu Extraordinário da
Misericórdia, Papa Francisco pede que se “ajude a compreender o pecado
cometido, e indicar um percurso de conversão autêntica para conseguir entender
o verdadeiro e generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença”
(01/09/2015).
O
Tempo da Quaresma é um momento oportuno para revisar e eventualmente, corrigir
o caminho da vida da gente. Jesus Cristo confiou a Igreja tudo que precisamos
para alcançar a felicidade. Que tal, tentar redescobrir a riqueza que nos foi
oferecida, para não precisarmos levar a vida de mendigos?
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