quinta-feira, 9 de março de 2017

Vida sacramental e pecado? Conversão. Misericórdia. (II Parte)

A Misericórdia de Deus e os pecadores  
(Comunhão sacramental, divorciados e recasados, pecado) - Continuação

Privados da Misericórdia?
O homem é chamado a escolher a vida, sempre. Se a vida em pecado, ou sem pecado não faria diferença nenhuma diante de Deus e todos deveriam ser tratados igualmente, por que então, a Sagrada Escritura insiste tanto para viver corretamente. “Deus resiste aos soberbos, e aos humildes dá a sua graça. Portanto, sejam submissos a Deus; resistam ao diabo, e este fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês. Pecadores, purifiquem as mãos! Indecisos, purifiquem o coração! (Tg 4,6-8). Ou: “Podes ir, e não peques mais” (Jo 8,10b-11); “Não peques de novo, para que não te aconteça alguma coisa pior” (Jo 5,6.14).
A Comunhão Sacramental não é um prêmio por uma vida correta, que se possa reclamar “por que eu não posso receber, se vivo melhor do que muitos”? No Sacramento do Batismo, o cristão foi inserido no Corpo Misterioso de Cristo (1Cor 12,12-27), fazendo parte d´Ele. Naturalmente deve permanecer neste Corpo, sintonizando-se com a Sua dinâmica e Seu funcionamento. Enquanto permanecer assim, vai ser nutrido, como todos os demais membros do corpo, tendo pleno acesso aos nutrientes que este Organismo possui. Logo, se resolver separar-se do Corpo desconecta-se da Sua vitalidade, perde os nutrientes que recebia, pois estes não podem ser “fornecidos” a distância. E assim, vai findando...

Visto que, a vida cristã consiste em Comunhão com o Corpo (Jesus Cristo), aquele que a deseja deve renunciar outras “comunhões”, conforme lemos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará. De fato, que adianta um homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo” (Lc 9,23-25). Se o homem prefere “ganhar”, alcançar qualquer outra coisa na vida, que não seja a Vida em Jesus, mesmo que ganhasse o mundo inteiro, perde tudo, “destrói a si mesmo”, fica nú (Gen 3,7). Esta decisão que leva a morte chama-se o pecado.

O pecado
O pecado mortal, primeiramente, faz morrer a vida íntima de comunhão com Deus, na sua profundidade incondicional (daí se chama “mortal”). Se não for perdoado, causa a morte do homem todo. Ao voltar toda atenção ao objeto diferente do Amor Infinito, acontece a morte da exclusividade do relacionamento vital, como na evangélica videira com ramos (Jo 15,1-5). O pecado que causa esta morte não é um particular, mas um estado de vida contra a vontade de Deus, que na medida do passar do tempo, faz o homem indiferente para com a vida em Deus. 

Quanto mais tempo permanece nesta situação, tanto mais, o mistério da morte expande-se na sua vida. O homem acomoda-se neste “novo” modo de viver, contrário a sua natureza e ao projeto de Vida e, assim, caminha para a morte definitiva, pois sem Deus não há vida.
O pecado pode transformar-se em vício, um mal específico que escraviza o homem. Para ser tratado, o viciado deve procurar um acompanhamento, adequado a sua dependência. Na escolha deste acompanhamento é preciso ter muito cuidado quando a maturidade, responsabilidade e orientação do potencial candidato, a quem vai confiar a si mesmo.

A regra de ouro diz: “É melhor prevenir do que remediar”. Na expressão evangélica ela é assim: “Se a tua mão direita te leva a pecar..., se o teu pé de leva a pecar..., se o teu olho de leva a pecar...” (Mc 9,43-48) é necessário cortar. Cortar os caminhos que levam a este estado, pois é preferível sofrer agora, do que perder tudo...

Questões pastorais
Compreensíveis são afirmações tipo: “tenho direito de ser feliz, por isso divórcio, pratico aborto”, etc., mas são privadas de fundamentos, porque o outro (o conjugue traído, o filho abortado) também tem este direito... E tem, ainda, outros direitos reconhecidos, até pela ONU, como: direto a vida, saúde, segurança etc. Será que é lícito escolher o pecado destruindo legítimos direitos dos outros, a preço dos seus pretenciosos direitos de ser feliz“, de ter”, de “ser alguém”...?

As pessoas em situação de conflito devem conformar-se com a sua situação, pois ninguém de fora é culpado por isso. Para nada serve viver reclamando supostos “direitos”. É melhor e correto procurar e empregar os meios acessíveis para viver a Fé e a Comunhão do Corpo Místico, fora do Caminho Sacramental.

O Catecismo da Igreja aponta tais caminhos da comunhão extra sacramental: "A respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova de uma solicitude, a fim de não se considerarem separados da Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja: Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus." (CIC 1651).

A Igreja tem a missão de socorrer e amparar as pessoas em estado de conflito (pecado). Não condena, nem rejeita a ninguém. Elas não deixam de ser membros da Igreja. Continuam sendo filhos da Igreja, amados e acolhidos por ela. Ainda que não lhes é permitido o acesso ao Sacramento da Confissão e da Eucaristia. Pois, acolher o pecador não significa conceder o perdão do pecado, ou fingir que ele não existe, já que o perdão depende exclusivamente do pecador, do seu arrependimento e da sua conversão.

O mesmo que o Catecismo diz o Papa Francisco na audiência geral, aos 05/08/2015, quando lembrou que os pastores do povo devem “manifestar abertamente e coerentemente a disponibilidade da comunidade em acolhê-los e a encorajá-los, para que vivam e desenvolvam sempre a sua pertença a Cristo e à Igreja com a oração, a escuta da Palavra de Deus, com a frequência à liturgia, com a educação cristã dos filhos, com a caridade e o serviço aos pobres, com o empenho para a justiça e a paz”.
E na Carta com a qual concede a indulgência por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Papa Francisco pede que se “ajude a compreender o pecado cometido, e indicar um percurso de conversão autêntica para conseguir entender o verdadeiro e generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença” (01/09/2015).

O Tempo da Quaresma é um momento oportuno para revisar e eventualmente, corrigir o caminho da vida da gente. Jesus Cristo confiou a Igreja tudo que precisamos para alcançar a felicidade. Que tal, tentar redescobrir a riqueza que nos foi oferecida, para não precisarmos levar a vida de mendigos?



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