Quarentena
Na quarta-feira de Cinzas, com as
igrejas repletas de crentes, para a imposição de cinzas, iniciou-se mais uma
Quaresma em preparação para a Páscoa de Ressurreição.
Pegamos a estrada... 40 dias, como as
de Jesus Cristo no deserto, ou os 40 anos do Povo da Primeira Aliança, em
peregrinação a Terra Prometida. A cifra 40 é mais simbólica, que matemática.
Trata-se de um período de tempo dentro do qual realiza-se um determinado
acontecimento ou uma obra completa, conforme querida quando iniciada.
A Quaresma na Igreja é uma verdadeira Quarentena (experiência
bem conhecida pelos que já foram infectados por algum vírus, mesmo no
computador). O dicionário de língua portuguesa discrimina vários sentidos da
“quarentena” entre eles: o “isolamento de certas pessoas, lugares e animais que
podem acarretar perigo de infecção. O período de quarentena depende do
tempo necessário como proteção contra a propagação de uma doença determinada.
O nome quarentena provém do fato de outrora, quando as autoridades de um porto
suspeitavam que houvesse portadores de infecção entre os passageiros ou
tripulantes de um navio, esse ter de ficar 40 dias ao largo do porto, sem
atracar”.
Esta infecção, doença que todos têm é o
pecado, cujo raiz é amor exagerado a si próprio, causa de todos os males. O
pecado impede o homem a amar. Dominado pelo pecado, o homem torna-se um
idólatra, ou seja, no lugar de Deus que deve ser amado “acima de todas as
coisas” ele põe o se EU, a sua própria vontade, a que Deus também deve
cumprir... Este é um verdadeiro drama. Um beco sem saída. Por isso, Deus vem para
nos salvar, para iniciar o processo desinfecção (2Cor 6,1-3).
Serão suficientes os 40 dias? Talvez
uns 40 meses? Ou, então, os 40 anos para libertação do vírus infernal? Como
falamos acima, trata-se dum certo tempo, do “Kairós”, que pode variar de uma
pessoa para outra. Pode-se afirmar que o “40” corresponde a longevidade de vida
humana, durante qual o homem pode e deve alcançar o mais pleno desenvolvimento
das potencialidades recebidas do Criador. O Sábio, portanto, vive este processo
constantemente, porque os vírus estão por toda parte...
Os cristãos devem viver esta Quarentena
espiritual com a finalidade de renovar os laços efetivos com Deus e libertar-se
dos ídolos, ou seja, de tudo aquilo que ocupou o lugar de Deus em suas vidas ou
que impede ouvi-LO, segui-LO e amá-LO. A tentação do paganismo é muito real,
pois os crentes vivem entre os pagãos. Portanto, se não cultivarem uma
verdadeira e efetiva amizade com Deus, alimentando-se da Palavra de Deus e dos
sacramentos, sem perceber irão imitar os pagãos assumindo os seus hábitos e as
suas hierarquias de valores. Em consequência, sobrará uma reminiscência do
cristianismo e, na prática, teremos uma carcaça do cristão em vez de um
verdadeiro filho de Deus.
A Quaresma é um tempo abençoado, porque
de um certo modo força e motiva os cristãos a abandoar a idolatria e voltar-se
a Vida, conforme clamava são Paulo “deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor
5,20). Haverá muitas tentações neste caminho quaresmal, como houve na grande
quaresma da Primeira Aliança (Ex 5,ss), ou a da de Jesus (Mt 4,1-11).
Independentemente do que acontecer, recomeçar sempre. Quantas vezes for
necessário, recomeçar, mas com os olhos fixos em Jesus (Hb 12,2). De grande
valia será a meditação sistemática da Palavra de Deus, da Via Sacra, jejum,
ascese no uso de nossos sentidos, participação da procissão penitencial, etc.
Uma Quaresma vivida com empenho e
generosidade nas mortificações, levará a um Páscoa Feliz, de verdade. Sem a
Quaresma, na qual morrem os ídolos, não haverá Páscoa de Ressurreição e da
Vida, mesmo que haja ovos de chocolate...
Uma abençoada Quarentena para você, meu
visitante.
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