quinta-feira, 2 de março de 2017

Quaresma, Mortificação, Libertação

Quarentena
Na quarta-feira de Cinzas, com as igrejas repletas de crentes, para a imposição de cinzas, iniciou-se mais uma Quaresma em preparação para a Páscoa de Ressurreição.

Pegamos a estrada... 40 dias, como as de Jesus Cristo no deserto, ou os 40 anos do Povo da Primeira Aliança, em peregrinação a Terra Prometida. A cifra 40 é mais simbólica, que matemática. Trata-se de um período de tempo dentro do qual realiza-se um determinado acontecimento ou uma obra completa, conforme querida quando iniciada.
A Quaresma na Igreja é uma verdadeira Quarentena (experiência bem conhecida pelos que já foram infectados por algum vírus, mesmo no computador). O dicionário de língua portuguesa discrimina vários sentidos da “quarentena” entre eles: o “isolamento de certas pessoas, lugares e animais que podem acarretar perigo de infecção. O período de quarentena depende do tempo necessário como proteção contra a propagação de uma doença determinada. O nome quarentena provém do fato de outrora, quando as autoridades de um porto suspeitavam que houvesse portadores de infecção entre os passageiros ou tripulantes de um navio, esse ter de ficar 40 dias ao largo do porto, sem atracar”.
Esta infecção, doença que todos têm é o pecado, cujo raiz é amor exagerado a si próprio, causa de todos os males. O pecado impede o homem a amar. Dominado pelo pecado, o homem torna-se um idólatra, ou seja, no lugar de Deus que deve ser amado “acima de todas as coisas” ele põe o se EU, a sua própria vontade, a que Deus também deve cumprir... Este é um verdadeiro drama. Um beco sem saída. Por isso, Deus vem para nos salvar, para iniciar o processo desinfecção (2Cor 6,1-3).
Serão suficientes os 40 dias? Talvez uns 40 meses? Ou, então, os 40 anos para libertação do vírus infernal? Como falamos acima, trata-se dum certo tempo, do “Kairós”, que pode variar de uma pessoa para outra. Pode-se afirmar que o “40” corresponde a longevidade de vida humana, durante qual o homem pode e deve alcançar o mais pleno desenvolvimento das potencialidades recebidas do Criador. O Sábio, portanto, vive este processo constantemente, porque os vírus estão por toda parte...

Os cristãos devem viver esta Quarentena espiritual com a finalidade de renovar os laços efetivos com Deus e libertar-se dos ídolos, ou seja, de tudo aquilo que ocupou o lugar de Deus em suas vidas ou que impede ouvi-LO, segui-LO e amá-LO. A tentação do paganismo é muito real, pois os crentes vivem entre os pagãos. Portanto, se não cultivarem uma verdadeira e efetiva amizade com Deus, alimentando-se da Palavra de Deus e dos sacramentos, sem perceber irão imitar os pagãos assumindo os seus hábitos e as suas hierarquias de valores. Em consequência, sobrará uma reminiscência do cristianismo e, na prática, teremos uma carcaça do cristão em vez de um verdadeiro filho de Deus.
A Quaresma é um tempo abençoado, porque de um certo modo força e motiva os cristãos a abandoar a idolatria e voltar-se a Vida, conforme clamava são Paulo “deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20). Haverá muitas tentações neste caminho quaresmal, como houve na grande quaresma da Primeira Aliança (Ex 5,ss), ou a da de Jesus (Mt 4,1-11). Independentemente do que acontecer, recomeçar sempre. Quantas vezes for necessário, recomeçar, mas com os olhos fixos em Jesus (Hb 12,2). De grande valia será a meditação sistemática da Palavra de Deus, da Via Sacra, jejum, ascese no uso de nossos sentidos, participação da procissão penitencial, etc.

Uma Quaresma vivida com empenho e generosidade nas mortificações, levará a um Páscoa Feliz, de verdade. Sem a Quaresma, na qual morrem os ídolos, não haverá Páscoa de Ressurreição e da Vida, mesmo que haja ovos de chocolate...

Uma abençoada Quarentena para você, meu visitante.


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