terça-feira, 19 de junho de 2018

O Pecado. PECADO GERACIONAL. Cura e libertação. Carismático.


O PECADO GERACIONAL E CURA ENTRE AS GERAÇÕES

Uns 20 anos atrás, num dos Grupos de Oração, pela primeira vez na minha vida, ouvi falar do ‘pecado geracional’ e da necessidade de ‘cura entre as gerações’. Fiquei meio desorientado, imaginando que eu devia ter deixado de ler alguma publicação recente, que tratava do assunto. Mesmo assim, alguma coisa não “encaixava”. Eu não conseguia compreender e conciliar tal fenômeno, com o que estudava na teologia e com o que dizia a minha razão.
Com o passar do tempo esqueci do problema, talvez, por causa de pouco contato mais próximo, que tive com os Grupos de Oração. Percebi que as denominações protestantes, chamadas de ‘evangélicas’ praticam este tipo de ‘ministério’ com frequência. Na Igreja Católica, o problema se manifestou, provavelmente, como efeito de falhas na formação doutrinal, espiritual e... até intelectual, dos pregadores e formadores de tais ambientes. Imagino que seja algo passageiro, ainda que “apareceu” em várias partes do mundo, sendo ainda, alimentado pela publicação do Pe. Robert De Grandis, autoridade inquestionável nos ambientes carismáticos –“A cura intergeracional”.
Com tudo isso, fiquei feliz, ao encontrar um posicionamento e esclarecimento, claro e competente, sobre o assunto. Me inspirou para fazer a partilha do meu próprio pensamento e oferecer segura posição da Igreja, ainda que, um Igreja Particular, sobre esta questão polêmica. Algumas partes citarei ao decorrer da reflexão.

A própria ideia de promover e praticar a ´cura intergeracional´ nasceu da convicção, de que os pecados dos nossos antepassados, influenciam a vida dos seus descendentes, ou seja a nossa vida de hoje. Esta influência pode ter dimensão espiritual, corporal, ou causar problemas na vida conjugal e familiar. Por isso, conforme a ideia, há necessidade de libertar o homem, aliviar o seu sofrimento. Daí vêm orações de cura, ou até, do exorcismo que, no entanto, é reservado a autoridade do Bispo Diocesano.
O Documento, que mencionei no começo, publicado pela CEP, afirma que a prática da ´cura intergeracional´ “origina-se de uma tradição, enraizada nas crenças das religiões orientais, que prestam um culto especial aos ancestrais e acreditam na reencarnação. Isso significa que essa prática é o resultado do sincretismo religioso, que produziu um novo fenômeno, chamado de "reencarnação do pecado”.
De acordo com os teólogos que elaboraram mencionado Documento, a causa principal da popularidade da ideia do p”ecado geracional” e “cura intergeracional”, se atribui a perda do sentido do pecado, como já dizia o Papa Pio XII (Discurso, Roma, 26/10/1946). Com a perda do sentido do pecado, a compreensão do que é a verdadeira liberdade, também, diminui. Assim, tenta-se culpar os antepassados pelos próprios infortúnios e fracassos (C.E.Merino, R.Garcia de Haro, Teologia Fundamental Moral, Cracóvia 2004, pp.459-460).
Os adeptos da ideia do "pecado geracional" recorrem a Sagrada Escritura, buscando apoio para esta prática de “curas entre as gerações”. Realmente, o Antigo Testamento faz algumas referências, às consequências dos pecados dos pais, como por exemplo, Êx 20,5: “O Senhor, teu Deus, que castiga a transgressão dos pais de filhos até a terceira e quarta geração”; Num 14,18: “O Senhor castiga os pecados dos pais nos filhos até a terceira e até a quarta geração”; Dt 5,9: “Eu sou Deus zeloso que castigo a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração”.
No entanto, conforme os estudos bíblicos atuais, nestes textos, não se trata da “injustiça” dos pais, no sentido do pecado pessoal, mas do seu mau exemplo, na criação dos filhos que, certamente irão morrer, mas pelos seu próprio pecado.
A ideia do "pecado geracional" contesta e obscurece a verdade sobre infinita e incondicional Misericórdia Divina. Nós, que somos Povo da Nova Aliança, não devemos duvidar em Deus, como Pai Misericordioso. A Igreja sempre ensina que o pecado é algo pessoal e querido pelo indivíduo. São Paulo diz claramente: “cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" (Rm 14,12).
Também o papa João Paulo II, na Exortação Apostólica ‘Reconciliatio et paenitentia’ (16) recorda que “o pecado, no sentido verdadeiro e exato é sempre um ato da pessoa concreta, porque é um ato de liberdade de cada ser humano, não ato dum grupo ou duma comunidade”.
E ainda, o Catecismo da Igreja Católica (1857), ensina que: para um pecado “requerem-se, simultaneamente, três condições: ‘É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é cometido com plena consciência e de propósito deliberado’.
Portanto, o homem não pode ser punido por um ato não cometeu...
O único pecado que é transmitido de geração em geração é o pecado original. No entanto, é preciso lembrar que, “o pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta pessoal” (CC 405). Portanto, o pecado pessoal e a sua punição, nunca podem aplicados aos descendentes...
A prática da oração ou da Santa Missa, com a oração pela cura e libertação do pecado intergeracional, denuncia muito claramente, a falta de fé, ou pelo menos, a descrença na eficácia da graça sacramental.
Em primeiro lugar está a graça do Batismo. Neste Sacramento, o homem é liberto de todo e qualquer pecado. É óbvio que, certas conseqüências do pecado permanecem nos batizados, mas são temporais, como: sofrimento, doença, morte ou diversas imperfeições, entre elas a tendência constante de voltar ao pecado.
O Catecismo da Igreja Católica (1263) diz: Pelo Batismo todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas devidas ao pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados, nada resta que os possa impedir de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as consequências do pecado, das quais a mais grave é a separação de Deus”.
Diante desta situação, as autoridades da Igreja claramente devam alertar e proibir o uso da própria expressão "pecado geracional" ou "cura intergeracional". Antes de tudo, porém, deveriam oficialmente proibir a celebração de Missas e/ou outras Celebrações, com oração de cura dos pecados intergeracionais.
O que vai dar, não sabemos. A intenção nossa é conscientizar. Portanto, que já chegou ao conhecimento da questão, não vai deixar-se enganar e explorar, mas toda a sua confiança depositará na Misericórdia Divina, aceitando a cruz de cada dia (Lc 9,12)...
Nos resta ter muita coragem!

Obs.: 
# CC – Direito Canônico da Igreja Católica
# Os destaques no texto citado são da minha iniciativa.
# Fonte citada: http://episkopat.pl/grzech-pokoleniowy-i-uzdrowienie-miedzypokoleniowe-problemy-teologiczne-i-pastoralne/. O documento citado: “OPINIÃO TEOLÓGICA DA COMISSAO DE DOUTRINA DE FÉ”.


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