O PECADO GERACIONAL E CURA ENTRE AS GERAÇÕES
Uns 20 anos atrás, num dos Grupos de Oração, pela primeira vez na minha
vida, ouvi falar do ‘pecado geracional’ e da necessidade de ‘cura entre as
gerações’. Fiquei meio desorientado, imaginando que eu devia ter deixado de ler
alguma publicação recente, que tratava do assunto. Mesmo assim, alguma coisa
não “encaixava”. Eu não conseguia compreender e conciliar tal fenômeno, com o
que estudava na teologia e com o que dizia a minha razão.
Com o passar do tempo esqueci do problema, talvez, por causa de pouco contato
mais próximo, que tive com os Grupos de Oração. Percebi que as denominações
protestantes, chamadas de ‘evangélicas’ praticam este tipo de ‘ministério’ com
frequência. Na Igreja Católica, o problema se manifestou, provavelmente, como efeito
de falhas na formação doutrinal, espiritual e... até intelectual, dos
pregadores e formadores de tais ambientes. Imagino que seja algo passageiro,
ainda que “apareceu” em várias partes do mundo, sendo ainda, alimentado pela
publicação do Pe. Robert De Grandis, autoridade inquestionável nos ambientes
carismáticos –“A cura intergeracional”.
Com tudo isso, fiquei feliz, ao encontrar um posicionamento e esclarecimento,
claro e competente, sobre o assunto. Me inspirou para fazer a partilha do meu
próprio pensamento e oferecer segura posição da Igreja, ainda que, um Igreja
Particular, sobre esta questão polêmica. Algumas partes citarei ao decorrer da
reflexão.
A própria
ideia de promover e praticar a ´cura intergeracional´ nasceu da convicção, de
que os pecados dos nossos antepassados, influenciam a vida dos seus descendentes,
ou seja a nossa vida de hoje. Esta influência pode ter dimensão espiritual,
corporal, ou causar problemas na vida conjugal e familiar. Por isso, conforme a
ideia, há necessidade de libertar o homem, aliviar o seu sofrimento. Daí vêm
orações de cura, ou até, do exorcismo que, no entanto, é reservado a autoridade
do Bispo Diocesano.
O Documento, que mencionei no
começo, publicado pela CEP, afirma que a prática da ´cura intergeracional´ “origina-se de uma tradição, enraizada nas
crenças das religiões orientais, que prestam um culto especial aos ancestrais e
acreditam na reencarnação. Isso significa que essa prática é o resultado
do sincretismo religioso, que produziu um novo fenômeno, chamado de
"reencarnação do pecado”.
De acordo com os teólogos que
elaboraram mencionado Documento, a causa principal da popularidade da ideia do
p”ecado geracional” e “cura intergeracional”, se atribui a perda do sentido
do pecado, como já dizia o Papa Pio XII (Discurso, Roma, 26/10/1946). Com a perda do sentido do pecado, a
compreensão do que é a verdadeira liberdade, também, diminui. Assim, tenta-se
culpar os antepassados pelos próprios infortúnios e fracassos (C.E.Merino,
R.Garcia de Haro, Teologia Fundamental
Moral, Cracóvia 2004, pp.459-460).
Os adeptos da ideia do
"pecado geracional" recorrem a Sagrada Escritura, buscando apoio para
esta prática de “curas entre as gerações”. Realmente, o Antigo Testamento faz algumas
referências, às consequências dos pecados dos pais, como por exemplo, Êx 20,5: “O Senhor, teu Deus, que castiga a
transgressão dos pais de filhos até a terceira e quarta geração”; Num
14,18: “O Senhor castiga os pecados dos
pais nos filhos até a terceira e até a quarta geração”; Dt 5,9: “Eu sou Deus zeloso que castigo a iniqüidade
dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração”.
No entanto, conforme os estudos bíblicos
atuais, nestes textos, não se trata da “injustiça”
dos pais, no sentido do pecado pessoal, mas do seu mau exemplo, na
criação dos filhos que, certamente irão morrer, mas pelos seu próprio pecado.
A ideia do "pecado
geracional" contesta e obscurece a verdade sobre infinita e incondicional
Misericórdia Divina. Nós, que somos Povo da Nova Aliança, não devemos duvidar
em Deus, como Pai Misericordioso. A Igreja sempre ensina que o pecado é algo pessoal e querido pelo indivíduo.
São Paulo diz claramente: “cada um de nós
dará conta de si mesmo a Deus" (Rm 14,12).
Também o
papa João Paulo II, na Exortação Apostólica ‘Reconciliatio et paenitentia’ (16)
recorda que “o pecado, no sentido
verdadeiro e exato é sempre um ato da pessoa concreta, porque é um ato de
liberdade de cada ser humano, não ato dum grupo ou duma comunidade”.
E ainda, o
Catecismo da Igreja Católica (1857), ensina que: para um pecado “requerem-se, simultaneamente, três
condições: ‘É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é
cometido com plena consciência e de propósito deliberado’”.
Portanto, o homem não pode ser
punido por um ato não cometeu...
O único pecado que é transmitido de geração em geração é o pecado original.
No entanto, é preciso lembrar que, “o
pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta
pessoal” (CC 405). Portanto, o pecado pessoal e a sua punição, nunca podem
aplicados aos descendentes...
A prática
da oração ou da Santa Missa, com a oração pela cura e libertação do pecado
intergeracional, denuncia muito claramente, a falta de fé, ou pelo menos, a
descrença na eficácia da graça sacramental.
Em primeiro
lugar está a graça do Batismo. Neste Sacramento, o homem é liberto de todo e
qualquer pecado. É óbvio que, certas conseqüências do pecado permanecem nos
batizados, mas são temporais, como: sofrimento, doença, morte ou diversas imperfeições,
entre elas a tendência constante de voltar ao pecado.
O Catecismo da Igreja Católica (1263)
diz: “Pelo Batismo todos os pecados
são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas
as penas devidas ao pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados, nada
resta que os possa impedir de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de
Adão, nem o pecado pessoal, nem as consequências do pecado, das quais a mais
grave é a separação de Deus”.
Diante desta situação, as
autoridades da Igreja claramente devam alertar e proibir o uso da própria
expressão "pecado geracional" ou "cura intergeracional".
Antes de tudo, porém, deveriam oficialmente
proibir a celebração de Missas e/ou outras Celebrações, com oração de cura dos
pecados intergeracionais.
O que vai
dar, não sabemos. A intenção nossa é conscientizar. Portanto, que já chegou ao
conhecimento da questão, não vai deixar-se enganar e explorar, mas toda a sua
confiança depositará na Misericórdia Divina, aceitando a cruz de cada dia (Lc
9,12)...
Nos resta ter muita coragem!
Obs.:
# CC – Direito Canônico da Igreja
Católica
# Os destaques no texto citado são da
minha iniciativa.
# Fonte citada: http://episkopat.pl/grzech-pokoleniowy-i-uzdrowienie-miedzypokoleniowe-problemy-teologiczne-i-pastoralne/. O documento citado: “OPINIÃO TEOLÓGICA DA COMISSAO DE DOUTRINA DE FÉ”.
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