terça-feira, 17 de novembro de 2015

“Católico” & ignorante"?


Prefiro enfrentar um batalhão de agnósticos militantes do que dois “católicos” ignorantes. É um horror conviver com um ignorante e, pior, se este for um fanático, ao mesmo tempo. Obviamente, trata-se de ignorância vencível, o que significa culpável, porque o conhecimento está dentro do alcance do ignorante, mas ele não o procura. Ou seja, poderia vencer a sua ignorância, pondo-se em busca da verdade.

É um desabafo que quero fazer, primeiramente diante do meu Senhor, tendo em mente as experiências de contatos com as mentes limitadas e “cimentadas”.
É sabido que fica muito mais fácil ensinar a quem não conhece nada, do que tentar explicar ou ensinar a quem “já sabe”. Igualmente é difícil, tentar orientar a quem “leu um único livro” na vida, ou “já fez a catequese” e, eventualmente, o ECC... Ou seja, querer dialogar com quem se cercou de muro de “conhecimento” e vive num mundo dos estereótipos e preconceitos, se torna uma tarefa quase impossível. Como quem quisesse enfrentar uma cortina de concreto com um simples martelo.

A ignorância é o maior mal que se alastra pela sociedade moderna. É uma praga (maior das do antigo Egito [Ex 7,14-12,36]), que parece não ter tratamento, nem a solução. Ela atinge não só a sociedade, mas também a Igreja. Talvez seja melhor dizer, que aquela, causa e alimenta a ignorância na Igreja.
Vários são os âmbitos e níveis da ignorância. 

Quero mi deter na ignorância religiosa, não se esquecendo, também, da ignorância por parte da sociedade, até quanto ao fenômeno chamado Igreja. Propositalmente chamo-a de ´fenômeno´, porque a sociedade (em geral) considera a Igreja uma mera organização e baseia o seu conhecimento nos estereótipos e preconceitos, muitas vezes, originados nos dados históricos interpretados tendencialmente. É o que carece de conhecimento da verdade. Enquanto isso, a Igreja é um fenômeno quanto a sua origem e quanto a sua natureza, sendo visível e invisível ao mesmo tempo.

Retornando ao tema, quero destacar o quanto é preocupante a vastidão da ignorância religiosa. E mais ainda preocupa que, nada ou pouco, se faz para eliminá-la, já ela é uma barreira que, não só dificulta, mas impede o relacionamento com Deus (como pode haver relação, se não há conhecimento?). Não me refiro às intervenções paliativas (como aquela iniciativa de distribuição de milhares de exemplares de bíblias), mas às tentativas de soluções efetivas.

Lamentável que o mal da ignorância atinge não somente os crentes leigos, mas também vários religiosos, que não querem conhecer plena doutrina da fé (se quisessem tudo está no alcance da mão). Em vez de serem pensadores evangélicos, criativos e ativos (respeitando as normas da Igreja), contentam-se ser técnicos da ministração dos sacramentos. Isto resulta na preservação da ignorância dos crentes leigos, no individualismo arbitrário e em várias formas de sectarismo.
Impressionante, que, em nossos dias, a ignorância vem crescendo, apesar da crescente quantidade dos meios de conhecimento. A ignorância é uma “cegueira” que marginaliza o ser humano. Tal “cego” lembra um portador de deficiência da narração evangélica, que vivia na margem de vida, alimentando-se das migalhas que lhe davam transeuntes, até recuperar a vista (Mc 10, 46-53).

Sem dúvida, a vida do ignorante é difícil, assim, como o seu futuro. Além disso, corre o risco de se acostumar com esta vida na “toca” do saber subjetivo e julgar os outros como criatividores estranhos, com ideias e iniciativas atrapalhadas. As consequências disto são alastrantes, quando pensamos nos pais que se conformam com ignorância religiosa, professores, pastores. "Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?” (Lc 6,39). Igualmente, um ignorante não pode ser a “luz do mundo” (Mt 5,14). Antes, deve-se reconhecer necessitado da iluminação. Precisa querer enxergar (Mc 10,51).

As manifestações da ignorância religiosa, no senso estrito, são várias, por exemplo: rezar, “ir à igreja”, fazer parte dalguma pastoral – como atitudes rotineiras, mas desligadas da obediência a Vontade de Deus, porém, na convicção do indivíduo, suficientes para ser um “bom cristão”. O Papa Francisco chama isto de "mundanidade espiritual" (http://www.zenit.org/pt/articles/santa-marta-nao-sejam-cristaos-com-uma-vida-dupla?).

Estas práticas religiosas não se orientam ao conhecimento e à busca de Deus. A sua finalidade é projetada para alcançar “uma graça” ou a “paz” sonhada (não é a mesma que a paz de Jesus Cristo [Jo 14,27]). Não seria isto etiquetar-se de Deus, o que equivale instrumentalizá-Lo e reduzi-Lo apenas a uma ideia, enquanto Ele é uma Pessoa? As ideias não incomodam, são flexíveis, podem ser engavetadas, enquanto as pessoas questionam, incomodam e, as vezes, contariam. Deus também...

Um dos males mais graves da ignorância é o fanatismo. Ela é a mãe do fanatismo. Fique claro, que é diferente do radicalismo, que consiste em ter conhecimento e ser determinado no agir. O fanático se baseia no que “sabe” da boca dos outros, da própria imaginação, dos estereótipos e preconceitos. É capaz a maiores sacrifícios, para testemunhar e provar as suas “verdades”. Também é capaz, se for o caso, de “eliminar” os inimigos, que ameaçam as suas “verdades”, razão do seu ser. Um tal, não vai procurar a verdade, mas vai “consultar” as pessoas que pensam como ele, para se firmar nas suas convicções...

Não imagino a felicidade sem a busca da verdade. Vale a pena buscar, perguntar, questionar, mesmo que isto custe críticas, risos, comentários. Para o encorajamento lembro as palavras de Jesus: “encontrareis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

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