A questão é diferente quando se
trata da ignorância por escolha... Neste caso, a opção do ignorante é livrar-se
do conhecimento e entregar-se a mercê dos outros. Mendigar dos seus
conhecimentos, contentar-se com estas migalhas (´esmolas´), iludir-se e, não
poucas vezes, deixar-se manipular.
Hoje, não deveríamos encontrar pessoas ignorantes, em
qualquer área de vida. O sistema de educação se estende por toda a parte e atinge
até o povo das roças mais afastadas dos centros urbanos. Os meios de
comunicação removem as barreiras de distância e de acesso às fontes de
informações. Ou seja, não há mais razões para existir a ignorância invencível.
Podemos dizer que hoje, todo ignorante, é ignorante
porque quer. Ou seja, faz opção pela ignorância. Parece ser um absurdo, mas
não é. É bastante cômodo viver na ignorância. A pessoa que opta por não saber,
na verdade quer se isentar da responsabilidade pelos seus atos e da
busca da verdade. A busca da verdade exige esforço e sacrifício, sobretudo na
hora de se deparar com ela. É um sofrimento. Agora é preciso escolher... Ou viver a Verdade ou seguir a Mentira.
A opção por ignorância tem suas razões, mais ou menos,
conscientes em cada indivíduo. A primeira razão é o comodismo. Para que saber mais? Para que querer mudar, já que “sempre
foi assim”? Para que gastar com um livro, uma passagem ou sair de casa? “Até que
eu quereria, mas é difícil... “Se, um
dia eu precisar vou perguntar o fulano, que sabe mais”...
A segunda razão é o
medo de decidir e fazer escolhas. Ao adquirir os conhecimentos, sobretudo a
Verdade, o indivíduo teria de escolher o bem objetivo (o pecado é um
bem, mas subjetivo) e abandonar a conduta anterior, com as práticas que
visam exclusivamente o interesse próprio e o prazer (cortar o que leva ao
pecado, cf. Mt 5, 29ss). Teria que deixar a filosofia de viver para satisfazer
os caprichos da vontade própria. Este medo é o medo de privar-se do
benefício e prazer que proporciona a vida em pecado. O pecado é doce, mas...
só no começo. (“Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de
Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco
de tempo ter o gozo do pecado”; Heb 11, 24-25). Ele sempre leva a morte
(Rom 6,23; 1Jo 15,16; At 5,1ss;).
Todos os totalitarismos têm interesse para “formar” o povo na ignorância, para depois manipular sem restrições. É por isso, não medem esforços para alcançar este objetivo, empregando todo tipo de especialistas e preparando específicos programas educacionais. Que sejam “formados”, “passados”, recebendo diplomas, mas que não aprendam. Um homem inteligente não deve “formar-se” deste modo. Deve se conscientizar e mobilizar para buscar a verdade, empregar os meios disponíveis para isto. Deve buscar e questionar sempre, lembrando as palavras de Jesus: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará...” (Jo 8,32).
Certa vez, quando eu era estudante de teologia, numa reunião
com a direção do seminário, me levantei a cobrar dos formadores, mais
oportunidades para o aprofundamento da nossa espiritualidade. Os colegas me
apoiaram, mas para a nossa decepção, a resposta foi muito surpreendente, pois
se resumiu em aumentar a quantidade de celebrações comunitárias, que já não
eram poucas... Que falta de imaginação! Que vista curta! Para todos é sabido
que os eventos (celebrações também) comunitários só preenchem e alimentam,
quando há autênticas e vivas relações dos indivíduos com Deus.
Vejo que, até hoje esta mentalidade “de preservação”, como
um freio infernal, está bem de vida na Igreja e não deixa, a muita gente de boa
vontade, entrar no caminho de busca e do encontro com Deus. O formalismo
desmotiva e impede a busca do ideal (Mt 23,13).
Agora, eu me pergunto: não deveria ser humilhante a um crente viver na ignorância? Não conhecer direito os Mandamentos da Lei de Deus? Princípios morais? Não saber manusear a Bíblia? Não conhecer passos elementares da vida interior?
Ao menos, deveria incomodar e
provocar o desejo de conhecer a verdade, para não se conformar com a vida na ignorância.
O coitado do Papa Francisco que
convoca Igreja a “sair”, enquanto esta só quer a “tranquilidade, paz, saúde...
Só quer levar a vida de um “bom católico”, viver a rotina das práticas
devocionais, ter ”consciência ´tranquila´ de quem foi batizado, reza, vai a
igreja... Será que os apelos do profeta Francisco, um dia, conseguirão surtir
algum efeito?
Talvez seja lhe útil, meu caro Visitante desta página, verificar na própria vida, algumas questões: Por que não busca mais o conhecimento da verdade? Por que vai à igreja, se pode rezar em casa ou em qualquer outro lugar? Acha que se deixar de rezar Deus não vai amá-lo? Então por que ama até os maiores criminosos? Por que, e como está fazendo o sinal da cruz, quando entra numa igreja? Para que, e como está fazendo a genuflexão, naquele momento? Por que confessa os pecados, se não pretende largá-los ou, então, duvida no perdão por meio de sacerdote? Talvez, durante esta leitura, surjam lhe outros questionamentos. Tente enfrentá-los. Se quiser pergunte, que responderemos, com amor.
Outro dia voltaremos, ainda,
a esta questão.
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