Certa vez, alguns monges, chamados euxitos, quer dizer,
orantes, vieram a Enaton, para ter com Abba Lucio. O velho perguntou-lhes:
"Vocês se ocupam com algum ofício?" Eles responderam: "Nós não fazemos
nenhum trabalho físico, mas, como diz o Apóstolo, nós oramos sem cessar".
O velho perguntou-lhes: "Então vocês não comem?". "Sim,
comemos", responderam eles. "Então, quando vocês tomam uma refeição,
quem ora por vocês?", perguntou o velho. "Vocês não dormem?", continuava
perguntando. "Dormimos", responderam eles. "E quem ora por vocês?",
perguntava o velho. Não conseguiam encontrar a resposta.
Ele lhes disse:
"Perdoem-me, meus irmãos, mas vocês não fazem o que vocês dizem. Vou lhes
mostrar que, trabalhando com as próprias mãos, eu oro constantemente. Assento-me
e com a ajuda de Deus, umedecendo alguns ramos de
palmeira, faço delas tranças, dizendo: ´Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo
a Tua grande misericórdia; na imensidão da vossa compaixão apagai as minhas transgressões´.
E perguntou-lhes: "Esta é uma oração ou não?". "É",
disseram eles.
Ele continuou: "Quando fico trabalhando o dia inteiro,
orando em meu coração ou oralmente, consigo ganhar cerca de dezesseis centavos.
Dois deles, coloco junto ao portão, e o restante vai para o meu sustento. Quem
recebe aqueles dois centavos, ora por mim enquanto eu me alimento ou durmo. E,
desta forma, pela graça de Deus, eu cumpro o que está escrito: ´Orai sem cessar´".
Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é
uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais,
recolhidas e organizadas no século XVIII).
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