No mundo em que vivemos, cada
vez mais, vem desaparecendo o conceito de “dom”. As pessoas estão capazes de fazer
este gesto, quando tem de sobra, quando podem “aparecer”, quando há algum tipo
de retorno ou, por costume (por ex. por ocasião do Natal). O dom é algo mais profundo.
João Paulo II o chamava de imaginação da misericórdia, de prontidão para viver
a maneira do dom, de sair além do seu egoísmo e largar os cálculos insensíveis –
entrar na lógica da cruz, na qual Jesus Cristo realiza total dom de si mesmo.
A Sagrada Escritura motiva e
ajuda entrar nesta lógica de viver. Pode-se dizer até, que toda a Bíblia, é uma
Palavra que convida o homem a responder ao amor de Deus, fazendo o dom de si
mesmo.
Já no Antigo Testamento
encontramos um episódio expressivo, que apresenta uma viúva pagã tomando uma
atitude admirável, que envolve a sua vida e o seu filho (1Reis 17, 10-16). Um
outro fato, narrado pelo Novo Testamento (Mc 12, 38-44) é parecido, mas a sua
mensagem ao mesmo tempo vai além...
A viúva do Antigo Testamento surpreende
depositando tanta confiança num homem desconhecido (pressentimento?) e “tirando”
a comida da boca do seu filho oferece refeição a ele. Só o faz, porque ele
disse que “a vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não
diminuirá...”. Arriscou, confiou e fez conforme o homem pedia.

O episódio com a viúva do Novo
Testamento é parecido, mas um pouco diferente. O ato de fé e confiança desta
viúva por ninguém foi percebido, elogiado e não foi recompensado, como o da viúva
primeira. O seu dom não é finalizado por algum milagre ou alguma intervenção
divina. Termina por ali mesmo, na
obscuridade da fé. Só ela e seu Deus (cf. Raniero Catalamessa, O verbo se
fez carne, ed. Ave Maria, pg. 467).
Isto é um grau superior, que nos
é proposto. Entregar tudo gratuitamente, generosamente, como Deus Pai fez com o
Seu Filho, o mais precioso Dom para a humanidade. A entrega da parte do homem,
é a resposta à iniciativa amorosa de Deus e a condição de seguir o caminho de
fé. “Qualquer um de
vós, se não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33). Esta viúva do Novo Testamento e atitude semelhante
dum crente são figuras de Deus Generoso e Misericordioso.
O famoso teólogo suíço, Hans Urs
Von Balthazar (+1988), referindo-se ao Amor compassivo de Deus, disse: "Além
do dom que o próprio Jesus faz de si mesmo, vemos o sacrifício do Pai e podemos compará-lo com o da viúva do Evangelho.
Ele também lançou no cofre sacrifical, o que tinha de mais precioso...”. Resta aqui,
lembrar as palavras de Jesus: "Tanto Deus amou o mundo que lhe deu o seu
Filho unigênito..." (Jo 3,16).
A entrega total, gratuita e
discreta, nos previne da decepção do mal investimento dos talentos que temos a
disposição neste mundo (Mt 25, 28-29). Se buscarmos a recompensa imediata e nos
valores considerados pelo mundo presente, poderemos ouvir: o que esperais de Mim? ´Já recebestes a sua recompensa´ (Mt 6, 1-6)
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