domingo, 29 de novembro de 2015

Ano Litúrgico

Querendo definir, pode sie dizer que, o Ano Litúrgico é um modo de cronometrar, ou melhor, viver o tempo, que se divide em distintos períodos (Tempos Litúrgicos). Distintos, quanto ao tempo de duração, e quanto ao caráter específico de cada um. O Ano Litúrgico divide-se em seguintes Tempos (só para lembrar, porque, anteriormente já o fizemos): Advento, Natal, Tempo Comum (breve), Quaresma, Páscoa, Tempo Comum (até o fim de Ano, que é a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo). O mais extenso é o Tempo Comum, como que fosse o cotidiano da vida, em que os cristãos vivenciam aqueles grande Mistérios celebrados.

O objetivo do Ano Litúrgico, é viver na presença de Deus, o que proporciona a sintonia do crente com a dinâmica própria de cada Tempo Litúrgico. Pretende-se vivenciar o Seu Amor nos Mistérios celebrados e, assim, “assimilar” a vida eterna, a salvação, recebida gratuitamente do Filho de Deus feito Homem.
Sem dificuldade pode-se notar, pela comparação, que a dinâmica e o objetivo do Ano Civil, são diferentes. Enquanto a Ano Litúrgico “celebra” os Mistérios da fé, fazendo os reais e eficazes, o Ano Civil “comemora” os acontecimentos do passado e, também, os do tempo corrente.

Assim, com razão, pode-se dizer, que o Ano Litúrgico, ao contemplar e celebrar os mistérios da salvação, comunica a vida, constrói a comunhão fraterna entre as pessoas, suscita e alimenta esperança num “amanhã” melhor. Motiva e contribui para o bem da realidade temporal, em que a Igreja se encontra neste momento.

O Ano Litúrgico não nos prende ao passado, por mais glorioso que fosse (as memórias dos santos, também é para a inspiração e interpretação atual).  Não alimenta sentimentalismo pelos acontecimentos passados. Não é um saudosismo que pode anestesiar a iniciativa e criatividade.

A vivência do Ano Litúrgico, nos motiva para a ação, para iniciativa, para abertura e vigilância, em vista da “visita” de Deus que “há de vir” e, que já está no meio de nós, vindo ao nosso encontro incessantemente com Seu Amor, Sua Misericórdia e com a plenitude de Vida, que é comunhão com Ele. Deus nos “visita” para ficar, para fazer parte da nossa vida, Aguardando, como sempre, a nossa decisão, resposta... (Lc 1,26-38).

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Advento

A palavra “advento” significa “chegada”. Provém do verbo latino venho, venire – chegar e do prefixo “ad” – a um destino, à alguém. O advenire, portanto, que dá origem ao Advento, que significa “chegar a”.
O Advento é o tempo Litúrgico na Igreja, que dá o início ao Ano Liturgico1 e antecede o Natal. Os cristãos esperam a vinda de Messias-Salvador, em dois sentidos: como a gloriosa vinda no fim dos tempos e, como encontro com Ele, na Liturgia da celebração do Seu Natal, que pela força do Sacramento, faz este Mistério real e atual.
As quatro semanas deste primeiro tempo litúrgico, do ano novo, têm como objetivo recordar e vivenciar o Grande Advento da humanidade, que ansiosamente aguardava o Messias, a Encarnação de Deus na história da humanidade (a Sua Primeira vinda ao nosso mundo). Mas, sobretudo, quer ajudar despertar a consciência e abrir os corações dos homens para o Deus-Amor, que vem ao seu encontro. Ele vem sentido escatológico e no cotidiano de suas vidas, em todos os acontecimentos, encontros e na diversidade das experiências. Não só “virá”, num futuro desconhecido, mas vem, incessantemente (Ap 1,8).
As vindas de Deus sempre nos surpreendem. Ignoramos como e quando Ele virá. Uma vez vem na pessoa de um necessitado, outra, num parente ou vizinho importuno, ou ainda, na enfermidade e na perseguição. Por isso, Ele nos pede para vigiar, isto é: viver com os olhos abertos e ouvidos atentos (Lc 12,39; Mt 24,42; 25,13; 1Tes 4,16-17).
A primeira fase do Advento, que vai até o dia 17 de dezembro, possui caráter escatológico, ou seja, nos convida para preparar-se para o encontro com Deus, no fim da nossa existência terrena. Esta preparação requer a conversão da vida em pecado, para uma vida em comunhão, com Deus e com as pessoas. Os meios necessários para isto são: a oração, a escuta e a meditação, mais assíduas da Palavra de Deus, abertura generosa para o próximo, sobretudo necessitado.
A segunda fase, o restante do Advento, é voltada para a imediata preparação para o Natal de Jesus, celebrações do aniversário da Sua Encarnação.
Neste contexto, como não fazer uma crítica aos nossos governantes, que ainda, antes de começar o Advento, já antecipam o clima do Natal (eliminando o Advento), ao enfeitarem as ruas e os ambientes públicos, com decorações natalinas. Gastam, para isto, o dinheiro público, em valores altos, só para “comemorar” o Natal. Alimentam assim, o consumismo e a “febre de compras”, enganam as pessoas com um boneco, chamado de “papai Noel” (este já roubou a Festa de Jesus), e o Natal consideram como um evento cultural. Eu protesto, e insisto para não fazer este tipo de Natal. É incomparavelmente melhor reverter em benefício das pessoas realmente necessitadas e, estas são muitas, para não depreciar o estado de saúde pública, educação, etc.
Sei que há quem defenda esta prática (sim, dentro da Igreja), alegando que a sociedade virará pagã, se não cultivar tais costumes. Mas, porventura, esta sociedade é cristã? Afirmo que, não é um risco para responder: jamais! (Até os que se declaram cristãos, além dá escandalosa ignorância da doutrina, têm muito pouco, ou nada, a ver com a vida cristã). “Devemos voltar aos tempos dos primeiros cristãos: eles enfrentaram um mundo pré-cristão; nós estamos enfrentando fortemente um mundo pós-cristão... Temos necessidade de recomeçar a partir da pessoa de Jesus e ajudar humildemente os nossos contemporâneos a experimentar um encontro pessoal com Ele”. (http://www.zenit.org/pt/articles/cantalamessa-disse-no-sinodo-anglicano-estamos-enfrentando-um-mundo-pos-cristao?utm_campaign=diarioportughtml&utm_content=%5bZP151126%5d%20O%20mundo%20visto%20de%20Roma&utm_medium=email&utm_source=dispatch&utm_term=Image).

E novamente pergunto: estes investimentos para “fazer” Natal nos espaços sociais vai levar alguém à conversão, que é uma condição, indispensável, para VIVER o Natal? Porventura, considerando o Natal como um evento cultural, não contribuímos para a dessacralização deste grande Mistério? Em vez de evangelizar o mundo (levar-lhe a Pessoa de Jesus), queremos oferecer-lhe as “carcaças” das nossas lembranças religiosas? Isto não é honesto e, além disso, acarreta a responsabilidade.
O Advento, que agora começamos, deve nos servir para a preparação, sobretudo do coração e da alma, para acolher o Filho do Pai Eterno que vem (Ap 1,8). É o tempo para pensar no estado de nossa vida religiosa (verificar e consertar a qualidade de vínculos com Deus), moral (abandonar as práticas conflitivas com a Lei de Deus e amar mais), relacionamentos (com as pessoas e com as coisas). Estes âmbitos devem estar preparados para receber com dignidade o Dom do Pai Eterno, O Menino-Salvador.
A Liturgia e os ambientes celebrativos, em nossas Comunidades, são modelos e inspirações de como viver o Advento no espírito cristão e com proveito (a simplicidade, o recolhimento mais silêncio, reflexão sobre o sentido da vida). Estes valores devemos tentar vivenciar em nossa vida cotidiana, para não nos depararmos com a situação, que O Natal está chegando, o Advento começou e eu... continuo vivendo como antes, como que não houvesse nem o Advento, nem o Natal...
"Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto" (Fl 4,4). Este é o sentido e o clima do Natal. Alegrar-se, POR CAUSA DO SENHOR!

1/ Sobre o Ano Litúrgico já escrevi neste Blog. Veja abaixo.



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Igreja - O ignorante na Igreja

Ninguém tem muito apreço por uma pessoa ignorante, podemos afirmar com grande grau de probabilidade, até porque o ignorante se considera o mais sabido. Vai dogmatizar desde o esporte, pela política, terminando, sempre, na religião. Vai sentenciar trazendo soluções “reveladoras” e “infalíveis”. Vai condenar uns e isentar outros, idealizando terceiros. Tudo conforme os dogmas da sua “sabedoria”.


Como mencionamos anteriormente, o ignorante não admite alguém questionar os seus estereótipos, mas vai multiplicar razões e argumentos, que fundamentariam, mais ainda, as suas convicções. Vai insistir que o seu objetivo é “ajudar” e fazer as coisas andarem melhor.

O exemplo que me vem na menta agora é o uso dos chamados “folhetos” ou “jornalzinhos” nas Celebrações litúrgicas. A prática provisória, muito difundida hoje, tornou-se um elemento “indispensável” para uma “boa participação”. O que me espanta, é que não há criatividade, não há preocupação de buscar outros meios, que de fato poderiam proporcionar condições de uma boa participação e da vivência dos Mistérios, depois das Celebrações. Insisto aqui na prática de levar a Bíblia, para fazer n´ela suas anotações e/ou inspirações... O uso destes “folhetos” de fato garante “as respostas” da assembleia, mas, será que nisto consiste uma verdadeira participação?

Neste contexto da ignorância na Igreja, penso ainda na catequese (outro dia falaremos mais do assunto). Muitas vezes reduzida a uma aula escolar e de qualidade duvidosa. Muitas vezes, tratada mais como um relicto do passado, ou um costume tradicional, que convém continuar, para os filhos e afilhados “fizerem” determinados sacramentos. E assim, se “fabrica” caricaturas católicas, em vez de formar, cristãos, discípulos-missionários (independentemente da idade), comprometidos com Deus e a Igreja.
É doído falar assim, mas, acho que não se pode calar, enquanto o vício mortal de ignorância, que reduz a Igreja de Cristo, a um esconderijo de acomodados e conformistas, que se servem da ignorância para realizar os seus caprichos, ´com ajuda de Deus´, continuar “bem de vida” (Jesus chamava isto mais radicalmente [Mt 21,13]). Este vício deve ser desmascarado e combatido sistematicamente (não só “ad hoc”).

Além disto, deve se notar outro fenômeno muito preocupante. Ao contrário da ignorância generalizada, a ignorância religiosa parece ser bem vista. Para ela há muita compreensão, há generosa, mutua justificação das infidelidades na vivência da fé e impressionante solidariedade naquilo que é reprovado pelas normas evangélicas e/ou religiosas. Pode-se invejar como se atraem os ignorantes religiosos e como se apoiam nos seus juízos infalíveis e inquestionáveis.

A ignorância religiosa parece fazer parte de “boas maneiras” do “cristão e moderno”. Enfim, não há motivo de se orgulhar por não conhecer verdades elementares, dos princípios da fé, que são dominadas pelas crianças da catequese fundamental. Antes, é uma vergonha, no caso de um adulto oportunista. É uma humilhação.
Não seria isto uma obra do “pai da mentira” (Jo 8,44) que não mede esforços para afastar o homem da Verdade? Porém, se este não viver segundo a Verdade, vai parar no mundo da Mentira e caminhará para a destruição (Lc 19, 42-44).

Todas as religiões são boas, não preciso ir a igreja para rezar, para crer em Deus... Não gosto de ler, escutar palestras, ficar em silêncio...  Não pense assim. Busque, questione, pergunte. Aqui não é questão dos gostos. É um dever. “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29) diz Jesus. Aprendei a verdade para não viver na ignorância e nos estereótipos... A não ser que queres ser um “deficiente”, que por própria opção deixa condicionar o seu “hoje” e o “amanhã” pelo saber dos outros...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

oração-vida

O Abba Ló veio a abba José e disse-lhe: "Abba, na medida do possível sigo a minha regra imutável: um pouco jejuo, oro, medito, tento ficar recolhido. Assim, como consigo, tento purificar meus pensamentos. O que deveria fazer além disso?”.

O velho levantou-se, esticou as mãos para cima e seus dedos se tornaram como as dez tochas. Ele disse: "Se queres, torne-se você todo, como um fogo".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

Orar sem cessar

Ao Santo Epifânio, Bispo de Chipre, o abba do seu mosteiro, que foi na Palestina, mandou a notícia: "Graças a tuas orações não temos negligenciado a regra, e zelosamente celebramos o ofício Divino, a terça, a sexta e a non, bem como as Vésperas".

Ele o repreendeu e disse: "Dá para ver que vocês não rezam em outro tempo. Quem é um monge verdadeiro monge deve rezar sem cessar ou cantar salmos em seu coração".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Oração incessante

Certa vez, alguns monges, chamados euxitos, quer dizer, orantes, vieram a Enaton, para ter com Abba Lucio. O velho perguntou-lhes: "Vocês se ocupam com algum ofício?" Eles responderam: "Nós não fazemos nenhum trabalho físico, mas, como diz o Apóstolo, nós oramos sem cessar". O velho perguntou-lhes: "Então vocês não comem?". "Sim, comemos", responderam eles. "Então, quando vocês tomam uma refeição, quem ora por vocês?", perguntou o velho. "Vocês não dormem?", continuava perguntando. "Dormimos", responderam eles. "E quem ora por vocês?", perguntava o velho. Não conseguiam encontrar a resposta. 
Ele lhes disse: "Perdoem-me, meus irmãos, mas vocês não fazem o que vocês dizem. Vou lhes mostrar que, trabalhando com as próprias mãos, eu oro constantemente. Assento-me e com a ajuda de Deus, umedecendo alguns ramos de palmeira, faço delas tranças, dizendo: ´Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua grande misericórdia; na imensidão da vossa compaixão apagai as minhas transgressões´. E perguntou-lhes: "Esta é uma oração ou não?". "É", disseram eles. 
Ele continuou: "Quando fico trabalhando o dia inteiro, orando em meu coração ou oralmente, consigo ganhar cerca de dezesseis centavos. Dois deles, coloco junto ao portão, e o restante vai para o meu sustento. Quem recebe aqueles dois centavos, ora por mim enquanto eu me alimento ou durmo. E, desta forma, pela graça de Deus, eu cumpro o que está escrito: ´Orai sem cessar´".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ignorante por escolha

As vezes encontramos pessoas que se fazem andarilhos, moradores de rua, optam pela vida solitária e sem uso de meios de comunicação, que se fazem pobres por escolha, etc. Cada um é livre, no entanto, achamos estranho, sentindo ao mesmo tempo, que isto nos atrai e, até, questiona. Por que fez aquilo? Como se pode viver privado destes bens? Será que isto tem sentido? Enfim, acabamos por admirar tal pessoa.

A questão é diferente quando se trata da ignorância por escolha... Neste caso, a opção do ignorante é livrar-se do conhecimento e entregar-se a mercê dos outros. Mendigar dos seus conhecimentos, contentar-se com estas migalhas (´esmolas´), iludir-se e, não poucas vezes, deixar-se manipular.
Hoje, não deveríamos encontrar pessoas ignorantes, em qualquer área de vida. O sistema de educação se estende por toda a parte e atinge até o povo das roças mais afastadas dos centros urbanos. Os meios de comunicação removem as barreiras de distância e de acesso às fontes de informações. Ou seja, não há mais razões para existir a ignorância invencível.

Podemos dizer que hoje, todo ignorante, é ignorante porque quer. Ou seja, faz opção pela ignorância. Parece ser um absurdo, mas não é. É bastante cômodo viver na ignorância. A pessoa que opta por não saber, na verdade quer se isentar da responsabilidade pelos seus atos e da busca da verdade. A busca da verdade exige esforço e sacrifício, sobretudo na hora de se deparar com ela. É um sofrimento. Agora é preciso escolher...  Ou viver a Verdade ou seguir a Mentira.

A opção por ignorância tem suas razões, mais ou menos, conscientes em cada indivíduo. A primeira razão é o comodismo. Para que saber mais? Para que querer mudar, já que “sempre foi assim”? Para que gastar com um livro, uma passagem ou sair de casa? “Até que eu quereria, mas é difícil...  “Se, um dia eu precisar vou perguntar o fulano, que sabe mais”...

A segunda razão é o medo de decidir e fazer escolhas. Ao adquirir os conhecimentos, sobretudo a Verdade, o indivíduo teria de escolher o bem objetivo (o pecado é um bem, mas subjetivo) e abandonar a conduta anterior, com as práticas que visam exclusivamente o interesse próprio e o prazer (cortar o que leva ao pecado, cf. Mt 5, 29ss). Teria que deixar a filosofia de viver para satisfazer os caprichos da vontade própria. Este medo é o medo de privar-se do benefício e prazer que proporciona a vida em pecado. O pecado é doce, mas... só no começo.  (“Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado”; Heb 11, 24-25). Ele sempre leva a morte (Rom 6,23; 1Jo 15,16; At 5,1ss;).

Todos os totalitarismos têm interesse para “formar” o povo na ignorância, para depois manipular sem restrições. É por isso, não medem esforços para alcançar este objetivo, empregando todo tipo de especialistas e preparando específicos programas educacionais. Que sejam “formados”, “passados”, recebendo diplomas, mas que não aprendam. Um homem inteligente não deve “formar-se” deste modo. Deve se conscientizar e mobilizar para buscar a verdade, empregar os meios disponíveis para isto. Deve buscar e questionar sempre, lembrando as palavras de Jesus: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará...” (Jo 8,32).

Certa vez, quando eu era estudante de teologia, numa reunião com a direção do seminário, me levantei a cobrar dos formadores, mais oportunidades para o aprofundamento da nossa espiritualidade. Os colegas me apoiaram, mas para a nossa decepção, a resposta foi muito surpreendente, pois se resumiu em aumentar a quantidade de celebrações comunitárias, que já não eram poucas... Que falta de imaginação! Que vista curta! Para todos é sabido que os eventos (celebrações também) comunitários só preenchem e alimentam, quando há autênticas e vivas relações dos indivíduos com Deus.

Vejo que, até hoje esta mentalidade “de preservação”, como um freio infernal, está bem de vida na Igreja e não deixa, a muita gente de boa vontade, entrar no caminho de busca e do encontro com Deus. O formalismo desmotiva e impede a busca do ideal (Mt 23,13).

Agora, eu me pergunto: não deveria ser humilhante a um crente viver na ignorância? Não conhecer direito os Mandamentos da Lei de Deus? Princípios morais? Não saber manusear a Bíblia? Não conhecer passos elementares da vida interior?
Ao menos, deveria incomodar e provocar o desejo de conhecer a verdade, para não se conformar com a vida na ignorância.
O coitado do Papa Francisco que convoca Igreja a “sair”, enquanto esta só quer a “tranquilidade, paz, saúde... Só quer levar a vida de um “bom católico”, viver a rotina das práticas devocionais, ter ”consciência ´tranquila´ de quem foi batizado, reza, vai a igreja... Será que os apelos do profeta Francisco, um dia, conseguirão surtir algum efeito?

Talvez seja lhe útil, meu caro Visitante desta página, verificar na própria vida, algumas questões: Por que não busca mais o conhecimento da verdade? Por que vai à igreja, se pode rezar em casa ou em qualquer outro lugar? Acha que se deixar de rezar Deus não vai amá-lo? Então por que ama até os maiores criminosos? Por que, e como está fazendo o sinal da cruz, quando entra numa igreja? Para que, e como está fazendo a genuflexão, naquele momento? Por que confessa os pecados, se não pretende largá-los ou, então, duvida no perdão por meio de sacerdote? Talvez, durante esta leitura, surjam lhe outros questionamentos. Tente enfrentá-los. Se quiser pergunte, que responderemos, com amor.

Outro dia voltaremos, ainda, a esta questão. 



Cristo Rei


“ Tu é o rei?” (Jo 18, 33ss; Mc 14, 61).
Eu sou Rei, mas, o meu Reino não é deste mundo... (Jo 18,36).

O meu Reino se apoia nos paradoxos. Quem quer ser rico, faça-se pobre. Quem quer ser grande, faça-se servo de todos. Os que querem viver na abundância, façam-se necessitados, etc. (Mt 5, 3-12).

Estes paradoxos são chamados de absurdos e não são aceitos pela lógica humana. Por isto é difícil entrar no Meu Reino (Mt 19,24). Só entra quem renunciar a tudo e a si mesmo (Mc 8, 34; Lc 14, 33).

Para entrar no Reino de Jesus é necessário adquirir um visto, que é a caridade (amor) praticada cordialmente, sem esperar nada em troca (Mt 6, 2-21).

É o grande problema (e drama) dos crentes modernos que desejam a Deus e suas bênçãos para a felicidade nesta vida, neste mundo... Enquanto isso, Jesus diz: O meu Reino não é daqui...

terça-feira, 17 de novembro de 2015

“Católico” & ignorante"?


Prefiro enfrentar um batalhão de agnósticos militantes do que dois “católicos” ignorantes. É um horror conviver com um ignorante e, pior, se este for um fanático, ao mesmo tempo. Obviamente, trata-se de ignorância vencível, o que significa culpável, porque o conhecimento está dentro do alcance do ignorante, mas ele não o procura. Ou seja, poderia vencer a sua ignorância, pondo-se em busca da verdade.

É um desabafo que quero fazer, primeiramente diante do meu Senhor, tendo em mente as experiências de contatos com as mentes limitadas e “cimentadas”.
É sabido que fica muito mais fácil ensinar a quem não conhece nada, do que tentar explicar ou ensinar a quem “já sabe”. Igualmente é difícil, tentar orientar a quem “leu um único livro” na vida, ou “já fez a catequese” e, eventualmente, o ECC... Ou seja, querer dialogar com quem se cercou de muro de “conhecimento” e vive num mundo dos estereótipos e preconceitos, se torna uma tarefa quase impossível. Como quem quisesse enfrentar uma cortina de concreto com um simples martelo.

A ignorância é o maior mal que se alastra pela sociedade moderna. É uma praga (maior das do antigo Egito [Ex 7,14-12,36]), que parece não ter tratamento, nem a solução. Ela atinge não só a sociedade, mas também a Igreja. Talvez seja melhor dizer, que aquela, causa e alimenta a ignorância na Igreja.
Vários são os âmbitos e níveis da ignorância. 

Quero mi deter na ignorância religiosa, não se esquecendo, também, da ignorância por parte da sociedade, até quanto ao fenômeno chamado Igreja. Propositalmente chamo-a de ´fenômeno´, porque a sociedade (em geral) considera a Igreja uma mera organização e baseia o seu conhecimento nos estereótipos e preconceitos, muitas vezes, originados nos dados históricos interpretados tendencialmente. É o que carece de conhecimento da verdade. Enquanto isso, a Igreja é um fenômeno quanto a sua origem e quanto a sua natureza, sendo visível e invisível ao mesmo tempo.

Retornando ao tema, quero destacar o quanto é preocupante a vastidão da ignorância religiosa. E mais ainda preocupa que, nada ou pouco, se faz para eliminá-la, já ela é uma barreira que, não só dificulta, mas impede o relacionamento com Deus (como pode haver relação, se não há conhecimento?). Não me refiro às intervenções paliativas (como aquela iniciativa de distribuição de milhares de exemplares de bíblias), mas às tentativas de soluções efetivas.

Lamentável que o mal da ignorância atinge não somente os crentes leigos, mas também vários religiosos, que não querem conhecer plena doutrina da fé (se quisessem tudo está no alcance da mão). Em vez de serem pensadores evangélicos, criativos e ativos (respeitando as normas da Igreja), contentam-se ser técnicos da ministração dos sacramentos. Isto resulta na preservação da ignorância dos crentes leigos, no individualismo arbitrário e em várias formas de sectarismo.
Impressionante, que, em nossos dias, a ignorância vem crescendo, apesar da crescente quantidade dos meios de conhecimento. A ignorância é uma “cegueira” que marginaliza o ser humano. Tal “cego” lembra um portador de deficiência da narração evangélica, que vivia na margem de vida, alimentando-se das migalhas que lhe davam transeuntes, até recuperar a vista (Mc 10, 46-53).

Sem dúvida, a vida do ignorante é difícil, assim, como o seu futuro. Além disso, corre o risco de se acostumar com esta vida na “toca” do saber subjetivo e julgar os outros como criatividores estranhos, com ideias e iniciativas atrapalhadas. As consequências disto são alastrantes, quando pensamos nos pais que se conformam com ignorância religiosa, professores, pastores. "Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?” (Lc 6,39). Igualmente, um ignorante não pode ser a “luz do mundo” (Mt 5,14). Antes, deve-se reconhecer necessitado da iluminação. Precisa querer enxergar (Mc 10,51).

As manifestações da ignorância religiosa, no senso estrito, são várias, por exemplo: rezar, “ir à igreja”, fazer parte dalguma pastoral – como atitudes rotineiras, mas desligadas da obediência a Vontade de Deus, porém, na convicção do indivíduo, suficientes para ser um “bom cristão”. O Papa Francisco chama isto de "mundanidade espiritual" (http://www.zenit.org/pt/articles/santa-marta-nao-sejam-cristaos-com-uma-vida-dupla?).

Estas práticas religiosas não se orientam ao conhecimento e à busca de Deus. A sua finalidade é projetada para alcançar “uma graça” ou a “paz” sonhada (não é a mesma que a paz de Jesus Cristo [Jo 14,27]). Não seria isto etiquetar-se de Deus, o que equivale instrumentalizá-Lo e reduzi-Lo apenas a uma ideia, enquanto Ele é uma Pessoa? As ideias não incomodam, são flexíveis, podem ser engavetadas, enquanto as pessoas questionam, incomodam e, as vezes, contariam. Deus também...

Um dos males mais graves da ignorância é o fanatismo. Ela é a mãe do fanatismo. Fique claro, que é diferente do radicalismo, que consiste em ter conhecimento e ser determinado no agir. O fanático se baseia no que “sabe” da boca dos outros, da própria imaginação, dos estereótipos e preconceitos. É capaz a maiores sacrifícios, para testemunhar e provar as suas “verdades”. Também é capaz, se for o caso, de “eliminar” os inimigos, que ameaçam as suas “verdades”, razão do seu ser. Um tal, não vai procurar a verdade, mas vai “consultar” as pessoas que pensam como ele, para se firmar nas suas convicções...

Não imagino a felicidade sem a busca da verdade. Vale a pena buscar, perguntar, questionar, mesmo que isto custe críticas, risos, comentários. Para o encorajamento lembro as palavras de Jesus: “encontrareis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

Espiritualidade - Mundanidade espiritual

O episódio de 2Mc 6,18-31, narra o martírio de Eleazar que não cede a pressão violenta do espírito da mundanidade. Prefere morrer em vez de renunciar princípios da sua religião e aceitar a pressão da lei “politicamente correta” com o seu “pensamento único”.
O Papa Francisco comentando hoje textos litúrgicos disse que: a "mundanidade espiritual" é a primeira armadilha na qual os cristãos podem cair: vive-se sem uma “coerência de vida”, finge-se uma atitude, mas, nos bastidores, se atua de “outra forma”.
O "demônio da mundanidade", é difícil de reconhecer “porque é como o verme que lentamente destrói, degrada, o tecido”, tornando-o inutilizável e quem é sua vítima, no final, “perde a identidade cristã”.
"A mundanidade leva para a vida dupla, aquela que aparece e aquela que é verdadeira, e afasta de Deus e destrói a sua identidade cristã”.
A identidade cristã, ao contrário do espírito mundano, não é "egoísta" mas, sim, "tenta cuidar com a própria coerência, cuidar, evitar o escândalo, cuidar dos outros, dar um bom exemplo”...


domingo, 8 de novembro de 2015

A morte e...?

O mês de novembro, com do Dia de Finados e semana da indulgência, suscita pensamentos sobre a fragilidade da existência humana e perguntas pelo “depois” do inevitável fim dela. “O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento.” (Hb 9,27). São duas verdades. A primeira é experimentada por todo ser humano e é recordada pelo cemitério. A segunda, é uma verdade revelada aos que acreditam em Deus.
Nada é mais óbvio neste mundo que o fato, que, um dia, todo ser humano vai deixa-lo e vai entrar no mistério da morte (para os crentes em Deus, é uma porta para a Vida). É muito impressionante, que isto, a mais evidente verdade, tem tão pouca influência para a vida cotidiana da gente. Quase ninguém leva a sério que a qualquer momento a morte pode interromper o curso de sua vida, desfazendo todos os planos e sonhos. “Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 24,42; 25,13). O homem sábio não se deixa surpreender, porque molda a sua vida, não se esquecendo da inevitável partida. Leva a vida de peregrino...
Conta-se (não sei se foi a verdade) que quando são João Bosco era adolescente e certa vez jogava bola com os colegas, alguém iniciou a conversa sobre o fim do mundo. Se o mundo fosse acabar hoje o que você faria? Cada uma dava uma resposta diferente: oração, arrependimento, reconciliação, perdão, ato de caridade, etc. E João Bosco ia dizer: “eu continuaria jogar a bola”. Estar sempre preparado é viver em paz interior.
A segunda verdade, o juízo. Na verdade o juízo acontece já neste mundo, no nosso “agora”, quando a gente faz escolhas. É nas escolhas que que definimos o nosso futuro. Se alguém, ao fazer suas escolhas não leva em consideração a ninguém (só pensa em si) e não quer corrigir a suas escolhas (arrepender-se) vai perpetuá-las e o Juízo de Deus não conseguirá justifica-lo. Pois a Justiça de Deus consiste em justificar o homem dos seus erros (pecados). Deus quer nos declarar justos diante dos Anjos e Santos.
O Juízo significa assumir a responsabilidade pela própria vida na terra (palavras, atos, omissões, desejos). Não seria prudente viver esta vida isentando-se da responsabilidade pelos próprios feitos, “como um homem sem juízo, que construiu a sua casa sobre a areia...” (Mt 7,26-27). Somente enquanto estamos neste mundo podemos decidir e modificar as nossas escolhas. Depois só nos resta esperar a recompensa... (Rom 2,6; 2Cor 5-10; Ef 6,8).
O juízo que, como a morte, espera-nos inevitavelmente, não deve nos aterrorizar, pois Deus é Amor. Deve nos motivar cada dia, a viver bem e criativamente o tempo, os dons que cada um tem e promover a unidade entre as pessoas. A criatividade faz a vida dinâmica, otimista e, enfim, realizada. É isto que Deus quer para cada um: a felicidade na criatividade motivada pelo amor.


sábado, 7 de novembro de 2015

Confiança - Duas Viúvas

No mundo em que vivemos, cada vez mais, vem desaparecendo o conceito de “dom”. As pessoas estão capazes de fazer este gesto, quando tem de sobra, quando podem “aparecer”, quando há algum tipo de retorno ou, por costume (por ex. por ocasião do Natal). O dom é algo mais profundo. João Paulo II o chamava de imaginação da misericórdia, de prontidão para viver a maneira do dom, de sair além do seu egoísmo e largar os cálculos insensíveis – entrar na lógica da cruz, na qual Jesus Cristo realiza total dom de si mesmo.
A Sagrada Escritura motiva e ajuda entrar nesta lógica de viver. Pode-se dizer até, que toda a Bíblia, é uma Palavra que convida o homem a responder ao amor de Deus, fazendo o dom de si mesmo.
Já no Antigo Testamento encontramos um episódio expressivo, que apresenta uma viúva pagã tomando uma atitude admirável, que envolve a sua vida e o seu filho (1Reis 17, 10-16). Um outro fato, narrado pelo Novo Testamento (Mc 12, 38-44) é parecido, mas a sua mensagem ao mesmo tempo vai além...
A viúva do Antigo Testamento surpreende depositando tanta confiança num homem desconhecido (pressentimento?) e “tirando” a comida da boca do seu filho oferece refeição a ele. Só o faz, porque ele disse que “a vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá...”. Arriscou, confiou e fez conforme o homem pedia.
O final da história é feliz. De fato, tudo aconteceu conforme as palavras do Desconhecido e, mais ainda, posteriormente, a mulher podia presenciar o milagre da ressurreição do seu próprio filho.
O episódio com a viúva do Novo Testamento é parecido, mas um pouco diferente. O ato de fé e confiança desta viúva por ninguém foi percebido, elogiado e não foi recompensado, como o da viúva primeira. O seu dom não é finalizado por algum milagre ou alguma intervenção divina. Termina por ali mesmo, na obscuridade da fé. Só ela e seu Deus (cf. Raniero Catalamessa, O verbo se fez carne, ed. Ave Maria, pg. 467).
Isto é um grau superior, que nos é proposto. Entregar tudo gratuitamente, generosamente, como Deus Pai fez com o Seu Filho, o mais precioso Dom para a humanidade. A entrega da parte do homem, é a resposta à iniciativa amorosa de Deus e a condição de seguir o caminho de fé. “Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo(Lc 14,33). Esta viúva do Novo Testamento e atitude semelhante dum crente são figuras de Deus Generoso e Misericordioso.
O famoso teólogo suíço, Hans Urs Von Balthazar (+1988), referindo-se ao Amor compassivo de Deus, disse: "Além do dom que o próprio Jesus faz de si mesmo, vemos o sacrifício do Pai e podemos compará-lo com o da viúva do Evangelho. Ele também lançou no cofre sacrifical, o que tinha de mais precioso...”. Resta aqui, lembrar as palavras de Jesus: "Tanto Deus amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito..." (Jo 3,16).
Comparando estes dois fatos bíblicos, podemos notar que se trata de duas maneiras diferentes da resposta de Deus. No AT ela é quase imediata e material. No NT ela é uma resposta “na obediência da fé”. O crente não conta com o retorno imediato, mas confia e espera nas promessas de Deus. As exigências da Nova Aliança, fundamentada na Nova Lei do amor, são maiores das do Antigo Testamento. Deus convida todo crente a total confiança e total dom de si mesmo, sem esperar pela recompensa nos bens terrenos. Não quer dizer que não haverá nenhuma recompensa. Sim, ela é garantida, ainda neste mundo “com perseguições e no mundo futuro, a vida eterna” (Mc 10,30).
A entrega total, gratuita e discreta, nos previne da decepção do mal investimento dos talentos que temos a disposição neste mundo (Mt 25, 28-29). Se buscarmos a recompensa imediata e nos valores considerados pelo mundo presente, poderemos ouvir: o que esperais de Mim? ´Já recebestes a sua recompensa´ (Mt 6, 1-6)



Família-não-sucumbir


Resolvi traduzir esta matéria, pois achei importante e interessante saber que há pessoas leigas, vivamente comprometidas com com os valores fundamentais da humanidade, como a família. Coloco esta intervenção da dra Anca-Maria, durante o Sindo dos Bispos, com intuito de encorajar as manifestações, de diversas formas, em favor da Verdade e do bem comum.


A Igreja não pode entregar-se ao espírito deste mundo
- Apelou aos padres sinodais, Dra. Anca-Maria Cernea, auditora leiga da Roménia.
Vossa Santidade, Padres Sinodais, Irmãos e Irmãs.
Estou representando a Associação dos Médicos Católicos de Bucareste. Sou da Igreja greco-católica romena. Meu pai era um político cristão que, por 17 anos, ficou preso pelo regime comunista. Meus pais já estavam noivos, mas o seu casamento foi celebrado 17 anos depois. Minha mãe esperou todos estes anos pelo meu pai, nem sequer sabendo se ele ainda estava vivo. Eles permaneceram heroicamente fieis a Deus e as suas promessas matrimoniais. O seu exemplo mostra que a graça de Deus pode superar as mais terríveis condições sociais e a pobreza material.
Nós, como médicos católicos, defendendo a vida e a família, vemos o problema, principalmente como uma batalha espiritual. A pobreza material e o consumismo não são as principais causas da crise da família. A principal razão da revolução sexual e cultural é a ideologia. Nossa Senhora de Fátima disse que os erros da Rússia irão se espalhar pelo mundo inteiro. A primeira vez, isso aconteceu em forma dum marxismo clássico brutal, que assassinou dezenas de milhões de pessoas.
Agora, isso está sendo feito, principalmente, pelo marxismo cultural. Há uma continuidade entre a revolução sexual desde Lenin, - passando por Gramsci e Escola de Frankfurt – e os direitos dos homossexuais de hoje, incluindo a ideologia de gênero.
O marxismo clássico tentou redesenhar a sociedade através do forçado sequestro de imóveis. Hoje, a revolução vai mais ao fundo. Tenta fazer a redefinição da família, da identidade sexual e da natureza humana. Esta ideologia denomina-se a si mesma, como progressiva. Na verdade, isso é nada mais do que a atração da antiga serpente, que propõe ao homem a assumir controle de tudo, para substituir Deus; para buscar a salvação aqui, neste mundo. Este é um erro de natureza religiosa. É um gnosticismo. O dever dos pastores é discernir este erro e alertar as ovelhas perante esse perigo.
"Buscai, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas". A missão da Igreja é salvar as almas. O mal neste mundo provém do pecado e, não das disparidades de rendimentos ou das "mudanças climáticas".
A solução é a evangelização. A conversão. Não, para a crescente controle do governo. Não, para um governo mundial. Estas são, hoje, as principais formas de impor o marxismo cultural às nossas nações, por meio do controle populacional, da saúde reprodutiva, dos direitos dos homossexuais, da educação do gênero e, assim, por diante. Hoje, o mundo precisa não é tanto das restrições à liberdade, quanto da verdadeira liberdade, da libertação do pecado. Necessita de salvação.
A nossa Igreja era sufocada pela ocupação soviética. Mas nenhum dos nossos 12 bispos traiu a comunhão com o Santo Padre. A nossa Igreja sobreviveu graças à determinação dos bispos e do seu testemunho, apesar da prisão e do terror. Nossos bispos pediram à comunidade dos fiéis a não se adaptar a este mundo, a não cooperar com os comunistas.
Agora precisamos que a Roma diga ao mundo: "Arrependei-vos dos vossos pecados e convertei-vos a Deus, pois o Reino dos céus está próximo". Não só nós, os católicos leigos, mas também muitos cristãos ortodoxos rezam ansiosamente por este sínodo pois, como dizem, se a Igreja Católica sucumbir ao espírito deste mundo, será muito difícil para todos os outros cristãos, para se defender dele.
Tradução: Pe. Tomasz Jaklewicz 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Dia de Finados

No segundo dia do mês de novembro se faz a memória de todos os fiéis falecidos. Vamos a cemitério (não para “matar saudades”) para expressar e professar a fé de que os falecidos continuam vivendo. De fato, eles vivem. O corpo, a matéria sujeita a corrupção se desintegra, mas a vida continua. É uma vida diferente, da que nós ainda temos, mas é real e superior desta. O Cristo Ressuscitado, nas suas aparições, revela um pouco do mistério desta vida.

Depois, o Dia de Finados, é também o dia de reflexão sobre a transitoriedade da nossa vida terrena. Dia de se fazer perguntas sobre vida eterna. De se perguntar a si mesmo: será que eu realmente cério na vida eterna?
Retornando hoje do cemitério vi muitas lojas e mercados (não só farmácias ou postos de abastecimento – o que é óbvio) funcionando, como que fosse um dia comum. E não é dia comum. Parece que hoje nada mais consegue parar o ser humano, tomado pelo impulso de ganhar mais, se divertir e esquecer dos problemas.

E, ainda, o Dia de Finados, é um apelo à oração pelos que partiram deste mundo. Enquanto vivemos na terra, em nossas mãos está o poder de escolher e decidir, de fazer e corrigir. O momento da morte faz tudo parar. A partir daqui nada mais pode ser mudado. O homem está diante de Deus justo, mas também misericordioso. A misericórdia Divina supera a Sua justiça (não anula) [Ef 2,4; 1Jo 1,9-10; 2,1), por isso, os crentes, elevam as suas preces confiantes, em favor daqueles, cuja felicidade plena depende exclusivamente desta misericórdia. Pelo mistério da Comunhão dos Santos, que professamos no Creio, é que Deus generosamente derrama a Sua misericórdia.

Hoje, a Igreja, sobretudo pela Liturgia, marcada pelo forte acento de esperança, quer elevar os nossos olhos, fitos sem cessar no mundo material e, nos mostrar um mundo diferente, melhor, o mundo dos bem-aventurados na Casa do Pai (Jo 14,2). Quer nos motivar a viver sabiamente, para que as preocupações desta vida não nos distanciem (Mc 4,19) das coisas celestes (Mt 6,19-20).

Vale a pena ir ao cemitério. Lá recebemos uma aula prática, que nos ajuda a lembrar-se da nossa condição humana. O clima específico do cemitério permite-nos ouvir a verdade: “hominem te memento” (lembra-te que és homem).

Gênero - Mentiras da Ideologia


Acabei de encontrar e traduzir uma notícia esperançosa. Finalmente a RAZÃO mobilizou-se para enfrentar e desmascarar o IRRACIONAL. Está na hora de pôr uma basta a um "terrorismo intelectual", que sem escrúpulos e sem se preocupar com as consequências, tende a subordinar às suas fantasias, até mesmo, os condicionamentos naturais. Será que tudo, literalmente tudo, pode-se mudar conforme capricho de quem tem recursos e poder? 


Os cientistas vão refutar 
os argumentos pseudo-científicas de gênero

Domingo, 1 de novembro, 2015 (08:30)

Na Itália, foi constituído um comité científico para a família. O seu objetivo é desmascarar os slogans e as mentiras pseudo-científicas, usadas ​​pela ideologia de gênero. O comitê é composto por renomados pediatras, ginecologistas, psiquiatras, psicólogos, educadores e filósofos. 

O porta-voz da equipe é o professor Massimo Gandolfini, um neurocirurgião e um neuropsiquiatra da Universidade de Brescia. Ele observa que a ideologia de gênero, muitas vezes refere-se a argumentos científicos, mas que carecem de justificação adequada ou são simplesmente falsos.

Na sua opinião, a constituição do comité foi necessária por causa das mudanças culturais que ocorreram nas últimas décadas. Ainda trinta anos atrás, ninguém imaginaria que qualquer um pode escolher livremente sua identidade sexual, contra os determinantes biológicos, ou que uma criança, não precisa de um pai, nem de uma mãe, para o seu desenvolvimento adequado. Hoje isto é proclamado abertamente, embora não haja nenhum fundamento científico para tais afirmações

Além do mais, toda a literatura científica desde o início do século XX até hoje argumenta contra a ideia de parentalidade homossexual. Está na hora de voltar às nossas raízes, científicos e culturais - enfatiza prof. Gandolfini.




Santidade não é um luxo

Certa vez a Madre Tereza de Calcutá, foi surpreendida pela pergunta de um dos jornalistas, que queria saber o que ela sentia, ao ser aclamada santa. A Madre, hoje já canonizada, respondeu: “A santidade não é um luxo, é uma necessidade”.

A solenidade de Todos os Santos, que hoje celebramos, é Festa da Igreja Peregrina, da Padecente e a da Triunfante. É a Comunhão dos santos, celebrada e vivenciada, como louvor ao Deus Misericordioso e como estímulo para os batizados, a seguirem o caminho da santidade. É a Deus que louvamos e adoramos na santidade das criaturas humanas, que abriram as suas vidas ao Amor Misericordioso, que como em Virgem Maria, fez neles “grandes coisas” (Lc 1,49). Ele, exclusivamente, é a fonte de toda a santidade. A santidade é o maior desejo de Deus para o homem e um dom, gratuito e generoso. “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1Tes 4,3).

 Na “imensa multidão de gente de todas as nações, tribos e línguas, que ninguém podia contar” (Ap 7,9) homenageamos hoje os santos incógnitos, homens e mulheres, casados e solteiros, leigos e consagrados, “que vieram da grande tribulação e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14b)

O ser humano precisa desejar a santidade, para recebe-la. Precisa querer ser como Deus é, porque é Seu filho adotivo e a vida diferente da de Deus é incompatível com a dignidade de Seu filho (1Jo 3,1-3). Igualmente se dá com a oração. Só consegue rezar, ou seja, entrar em relação amigável com Deus, quem O deseja sinceramente.

Se alguém deseja a santidade é guiado pelo Espírito de Deus para seguir o caminho que percorreu Jesus Cristo. O caminho de Filho. Caminho marcado pela força do Espírito Santo, mas também pela cruz. A cruz é inseparável do caminho da santidade e consiste, sobretudo, em renunciar os bens da vida temporal, para alcançar os bens, onde “o ladrão não rouba e a traça não corrói” (Mt 6,19).

Entre as bem-aventuranças, o caminho da santidade proposto por Jesus, a primeira é: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3). Trata-se de tornar-se “pobre” voluntariamente, como Jesus (Flp 2,5-8). Entregar tudo, para buscar em primeiro lugar o Reino do Céu (cf. Mt 6,33) e amar a Deus sobre todas as coisas (o Primeiro Mandamento do Decálogo). “Entregar tudo” significa não deixar para si nenhuma “ponte”, nenhuma segurança humana, como o fizeram Ananias e Safira (At 5,1-11). Nisto consiste a pobreza espiritual, que se abandona à Providência de Deus e deixa guiar pelo Seu Espírito.

“Sede santos porque Eu sou santo” (1Pd 1,16-26) é um programa de vida e um lembrete, que pode ajudar viver a vida presente com gosto, em paz e na liberdade, recordado que somos peregrinos nesta terra e cidadãos do céu (Flp 3,20-21). Portanto, tudo que somos e que fazemos, deve nos ajudar a seguir o caminho que leva ao céu.

Neste dia de Todos os Santos, gostaria de me congratular com todos os que desejam ser santos e se esforçam para permanecer no seguimento de Jesus Cristo, apesar das suas fraquezas. A todos vocês: Feliz o Dia de Todos os Santos!