terça-feira, 24 de novembro de 2015

Oração incessante

Certa vez, alguns monges, chamados euxitos, quer dizer, orantes, vieram a Enaton, para ter com Abba Lucio. O velho perguntou-lhes: "Vocês se ocupam com algum ofício?" Eles responderam: "Nós não fazemos nenhum trabalho físico, mas, como diz o Apóstolo, nós oramos sem cessar". O velho perguntou-lhes: "Então vocês não comem?". "Sim, comemos", responderam eles. "Então, quando vocês tomam uma refeição, quem ora por vocês?", perguntou o velho. "Vocês não dormem?", continuava perguntando. "Dormimos", responderam eles. "E quem ora por vocês?", perguntava o velho. Não conseguiam encontrar a resposta. 
Ele lhes disse: "Perdoem-me, meus irmãos, mas vocês não fazem o que vocês dizem. Vou lhes mostrar que, trabalhando com as próprias mãos, eu oro constantemente. Assento-me e com a ajuda de Deus, umedecendo alguns ramos de palmeira, faço delas tranças, dizendo: ´Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua grande misericórdia; na imensidão da vossa compaixão apagai as minhas transgressões´. E perguntou-lhes: "Esta é uma oração ou não?". "É", disseram eles. 
Ele continuou: "Quando fico trabalhando o dia inteiro, orando em meu coração ou oralmente, consigo ganhar cerca de dezesseis centavos. Dois deles, coloco junto ao portão, e o restante vai para o meu sustento. Quem recebe aqueles dois centavos, ora por mim enquanto eu me alimento ou durmo. E, desta forma, pela graça de Deus, eu cumpro o que está escrito: ´Orai sem cessar´".

Tradução livre (Frade Menor) da Filocalia (é uma coleção de textos sobre a oração, provenientes das Igrejas Orientais, recolhidas e organizadas no século XVIII).

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